Histórico de conflitos no Oriente Médio impacta no esporte: relembre episódios, consequências e entenda o que está acontecendo

Guerra entre Israel e Palestina mexe com o mundo e paralisa o futebol na região

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Israel declarou guerra contra o Hamas (Foto: Mohammed Abed/AFP)

Escrito por Lucas Borges, supervisionado por

Para que um jogo de futebol venha a acontecer, muitos contextos devem ser levados em consideração. Fatores econômicos, sociais, históricos, culturais e até territoriais influenciam na montagem de campeonatos, sorteios e disponibilidades para eventos esportivos. Porém, se um desses fatores não está alinhado de forma positiva, a bola não rola.

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Isso é o que tem sido visto no Oriente Médio nos últimos dias, devido à guerra entre Israel e Palestina. A região árabe, conhecida pela alta tensão política e religiosa, está passando por momentos delicados, o que tem interferido também no âmbito dos esportes.

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O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Para entender melhor as consequências no futebol, primeiro deve-se entender qual a verdadeira situação na Arábia. O território da Palestina era uma região que até 1946 era ocupada majoritariamente pelos palestinos, apresentando uma minoria de seu território ocupado por judeus. Porém, a partir de 1947, por intermédio da ONU, este cenário começa a ser alterado. Em 1948 é criado oficialmente o Estado de Israel, em decorrência do movimento sionista, surgido em defesa da ideia de estabelecer um Estado judaico na Palestina. Esse movimento gerou insatisfações na parcela da população palestina que não defende o separatismo. Atualmente, os palestinos se encontram principalmente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Já Jerusalém, sagrada tanto para judeus quanto para árabes, é reinvindicada pelas duas partes como capital.

Entre calmarias e caos nas últimas décadas, um grupo islâmico palestino denominado Hamas assumiu o poder em 2007. Militantes, os anti-separatistas juraram a destruição de Israel, mas a Faixa de Gaza era bloqueada pelos israelenses junto ao Egito, por questões de segurança. O Hamas é considerado um grupo terrorista por potências mundiais, como EUA, União Europeia, Reino Unido e o próprio povo de Israel, mas é apoiado pelo Irã com treinamento e armamento pesado.

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No último sábado (7), o Hamas decidiu atacar repentinamente, depois de certo tempo de calmaria. A  “Operação Al-Aqsa Flood” levou ao lançamento de mais de cinco mil foguetes, além de invasões terrestres e marítimas que fizeram reféns e deixaram mais de dois mil mortos. O ataque aconteceu justamente em um sábado, dia sagrado para o povo judeu. Além disso, ocorreu também no período em que se completam 50 anos da Guerra do Yom Kippur, vencida pelos israelenses contra Egito, Síria e outros estados árabes.

CONSEQUÊNCIAS LOCAIS NO FUTEBOL
Com a explosão da guerra, o esporte no local está em alerta. O Campeonato Israelense, por exemplo, está paralisado. Até então, o torneio já tinha cinco rodadas disputadas, com a liderança nas mãos do tradicional Maccabi Tel Aviv, invicto com quatro vitórias e um empate. Na Palestina, a mesma situação: com a quarta rodada paralisada após já ter tido seu início, o líder Shabab Al-Dhahiriya tinha três jogos e 100% de aproveitamento. Não há previsão de fim da guerra local, o que também impede qualquer projeção de retorno dos campeonatos.

Além disso, a seleção de Israel também está sofrendo as consequências. Apesar de ser do Oriente Médio, o território permite que a seleção dispute campeonatos pela Uefa. As Eliminatórias para a Eurocopa de 2024 estão em andamento, mas, nesta Data Fifa, a equipe teve seus dois compromissos (Suíça, em casa, e Kosovo, fora) adiados. O jogo contra a Squadra Nazionale acontecerá em 15 de novembro, ainda sem local definido. Já o duelo contra o time kosovar não tem perspectiva de data.

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A Uefa também já entrou em ação para da mesma forma suspender jogos das categorias de base israelenses, já que o sub-21 e o sub-17 entrariam em campo nos próximos dias. Outros esportes estão sem acontecer: a Euroliga de Basquete, por exemplo, precisou cancelar dois duelos: Maccabi Tel Aviv x Milan e Hapoel Shlomo Tel Aviv x Wolves Vinicius; no tênis, o ATP 250, previsto para acontecer entre 5 e 11 de novembro em Israel, foi movido para a Bulgária.

EPISÓDIOS ANTERIORES
Esta não é a primeira vez que uma guerra no Oriente Médio deixa o esporte em alerta. Há inúmeros exemplos de ocasiões em que uma situação de conflito levou ao adiamentos de jogos, competições canceladas e destruiu investimentos históricos neste âmbito.

O crescimento do futebol na Arábia Saudita nos últimos meses deixou o país em evidência, mas as polêmicas políticas do regime monarquista já atingem o esporte. Em duelo válido pela Champions Asiática, o Al-Ittihad, de Benzema e Romarinho, enfrentaria o Sepahan, do Irã. Porém, antes da partida, uma estátua do general iraniano Qasem Soleimani foi colocada na subida dos vestiários do Estádio Naghsh-e Jahan, estando visível no ato de entrada no campo, rejeitado pelos jogadores do Tigre.

Soleimani era líder da Guarda Revolucionária Islâmica, visto como terrorista pelos árabes e por outros países no mundo. Ele foi morto em 2020 por um ataque estadunidense, gerando grande tensão á época. A edição de 2023 da AFC Champions League é a primeira em sete anos que permite que os clubes joguem entre si dentro e fora de casa.

O Iêmen, um modesto país da região, é alvo da guerra entre Irã e Arábia há quase uma década. Por ser um território interessante maritimamente e um país de armamento pesado, diversos conflitos, internos e externos, acontecem por lá. Uma coalizão de oito países árabes é divergente com o atual governo houthi local, o que levou a alguns ataques aéreos e a presença de tropas na fronteira.

A situação do país se estende ao futebol. Não há muitos investimentos e sim uma grande instabilidade. Porém, em dezembro de 2021, o povo local vibrou com os garotos da seleção do sub-15. Jogando pelo Campeonato da Federação de Futebol da Ásia Ocidental, na Arábia Saudita, os meninos iemenitas derrotaram Bahrein, Jordânia e Síria no caminho até a final, contra os próprios sauditas. O Iêmen venceu nos pênaltis, e os vídeos da conquista viralizaram no país; torcedores foram às ruas com fogos de artifício, "buzinaços" e até tiros com armas de fogo para o alto, celebrando o título.

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Nas Eliminatórias europeias atuais, Turquia e Armênia caíram no mesmo grupo. Porém, apesar da pouca tradição, as duas seleções também têm histórico de guerra. Os dois países fizeram parte do Império Turco-Otomano. Mesmo após anos de sua dissolução, questões políticas ainda causam atritos entre os lados. Durante a Primeira Guerra Mundial, parte dos armênios se aliou à Rússia, inimiga histórica do Império, mas acabaram perdendo mais de 1,5 milhão de pessoas no que ficou conhecido como “genocídio armênio”, um dos mais brutais massacres do Século XX. A Turquia, apesar dos conflitos europeus e de também ser filiada à Uefa, faz parte do território do Oriente Médio.

A má relação entre os dois países passou por momentos de tensão e trégua, e o esporte foi uma espécie de régua da situação. Adversários também nas Eliminatórias para a Copa de 2010, o então presidente turco Abdullah Gul foi até a Armênia para o jogo do primeiro turno, vencido por sua seleção, numa espécie de aproximação das duas nações. No ano seguinte, o acordo de reconciliação assinado pelos governos teve rejeição. Quatro dias depois, no duelo do returno, já em solo turco e com a presença do presidente armênio, o hino dos visitantes foi amplamente vaiado pelos torcedores presentes em Ankara. A cena se repetiria nos dois encontros das Eliminatórias de 2023, com os aficionados anfitriões sempre vaiando o hino nacional adversário.

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O FUTURO DA GUERRA
Ainda não se tem uma noção clara do que está por vir entre Israel e Palestina. Porém, futebolistas, técnicos e dirigentes estrangeiros têm feito um esforço máximo para deixar o território antes que a situação se agrave. Os brasileiros que moram no local já pegaram voos em direção ao Brasil, com ajuda da FAB; ainda não são todos, mas os que aguardam resgate já tem previsões de saída nas próximas horas.

Nos jogos que vêm sendo realizados nesta Data Fifa, a Uefa permitiu que algumas seleções realizassem homenagens às vítimas do ataque do Hamas. Além de recados nos telões e bandeiras israelenses nas arquibancadas, braçadeiras pretas foram utilizadas por alguns jogadores.

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