Da Baixada à Arena: após vida ‘onde o Grêmio estiver’, fã evita Gre-Nal

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Nome: Helena Righi. Idade: 87, quase 88 anos. Profissão: gremista. Torcedora do clube gaúcho de berço, ia aos pavilhões de madeira e assistia às partidas na Baixada, primeira casa tricolor, a qual classifica de “várzea”. Lembra da mudança e consegue, hoje, aconselhar os netos sobre sentimentos e toda a mudança de casa. Nas arquibancadas do Olímpico, estádio que se despediu nesta sexta-feira, está à vontade. Caminha com sua camiseta do Mundial de 83 e se senta. É a deixa para o início da história.
- Fui bastante na Baixada. Era um campo tipo de várzea. Tudo era de madeira, era um campo bom, mas depois fizeram um campo melhor. Renner, Cruzeiro fizeram estádios bons. Era tudo de madeira – disse, antes de completar.
- Mudou do dia para a noite. Foi legal. Não tem como a gente dizer, perto daquilo, isso (Olímpico) é o céu. Completamente diferente. Começando que já era um campo bem menor, não tinha tudo isso aqui. Era um campinho. Orgulhoso por causa da torcida. Era um campinho, a gente ia porque tinha que ir – finalizou.
Acompanhou o Grêmio e “seu garoto” Renato Gaúcho no Mundial, em Tóquio. Na volta, organizou um carnaval azul em Nova Jérsei, nos Estados Unidos, com amigos. Ouviu a sugestão, acreditou e acabaram com uma grande festa. Embora fanática, não aparecerá no último jogo do Olímpico, para poupar sua saúde. Falou até em pedido de morrer dentro do estádio, em um Gre-Nal. Para evitar tal situação, não irá.
- Eu vou no meio da torcida, o tempo todo de pé, gritando, sofrendo. Tenho que me poupar, não sei como vou me sentir. É muita emoção Não sei se a cabeça da velha não estoura – disse.
Dos seis filhos, quatro foram colorados. Influencia do marido, que queria que ela virasse casaca após o casamento, quando noivos. Ouviu um grande não e ficou segurando a aliança dela em sua mão. Se autointitula anticolorada mais que gremista. Dos 15 netos, 13 são tricolores. Fazia todos eles irem ao Olímpico picar papel para a festa da torcida.
- Foram tantos jogos aqui. A minha maior vitória é sempre quando o Grêmio ganha do Inter. Vibro mais com a derrota do Inter do que com a vitória do Grêmio. Sou anticolorada. Digo para todos que me perguntam 'Vira colorado ou morre?', Morro. Jamais – garante.
Odeia Inter e Corinthians. O primeiro, por motivos óbvios. O segundo, por uma ‘trairagem’ de torcida, na Libertadores de 84. Depois de receber os paulistas em Porto Alegre, a Super Raça Gremista, torcida que participou da fundação, esperava apoio em São Paulo, em jogo neutro pela competição continental. Ouviu que os corintianos estavam comprometidos com o Flamengo. Viajou o Brasil atrás do Tricolor Gaúcho. E até ao Japão, quando foi agraciada com uma passagem para Tóquio, ao vencer competição de venda de carnês e rifas.
Viagem, aliás, é o que não falta. Pelo Brasil e também em giros no mundo. Viu Jardel nos anos de destaque, em Portugal. Disseminou o Grêmio pelo globo: além do carnaval nos Estados Unidos, distribuiu e trocou camisetas do time com muitos torcedores em terras estrangeiras. Deixou sua marca.
- Não tinha distância. Onde o Grêmio ia jogar, estava junto. Ou de avião, ou de ônibus – contou.
Não poupou esforços para ver o seu Tricolor. Em uma época que mulher e futebol não eram tão ligados ainda. E é a história viva de um Olímpico que se vai neste domingo, com o Gre-Nal. Para que veja mais das páginas do clube gaúcho serem escritas na moderna Arena - este nome, aliás, é motivo de críticas, já que traz pensamentos de briga à cabeça da torcedora. Ainda assim, não deixa de abrir o sorriso ao falar do futuro.
- Toda a vida que meu time esteja alegre, feliz. Sempre com a cabeça levantada - finalizou.
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