Naomi Osaka: a menina negra que se tornou símbolo do novo Japão

Conheça mais sobre a jovem de 23 anos que acendeu a Pira Olímpica em Tóquio

Naomi Osaka recebe a chama Olímpica
Osaka teve a honra de acender a Pira Olímpica (Reprodução TV)

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Por Ariane Ferreira - A japonesa Naomi Osaka, que conquistou o mundo ao acender a Pira Olímpica e dar o pontapé inicial dos Jogos Olímpicos de Tóquio, é considerada a representação de um Japão mais moderno e inclusivo, não apenas em termos tecnológicos como socialmente.

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Nascida em 16 de outubro de 1997 na cidade de Osaka, localizada na província de mesmo nome no sudeste do país, Naomi é a segunda filha do casal Tamaki Osaka e Leonard François – ela japonesa, ele haitiano – que também são pais de Mari, dois anos mais velha e é ex-tenista recém aposentada do circuito profissional que se descobriu design gráfica e desenhista.

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Quando tinha apenas 3 anos de idade, Naomi e a família decidiram se mudar para os Estados Unidos, em busca de oportunidades melhores de educação e desenvolvimento das filhas. Apesar de não falarem publicamente sobre o tema, é sabido que o racismo enfrentado pela família foi uma das razões para buscarem novos caminhos em uma nova nação. Ali, a família se instalou em Valley Steam em Long Island.

Tamaki e Leonard se conheceram quando ela ainda estava no ensino médio e ele frequentava a universidade. O casal namorou escondido por muito anos e a família da mãe de Naomi não aceitou o relacionamento do casal e cortou relações com a filha antes mesmo do nascimento das meninas. Estes laços, contou a família à revista Marie Claire, foram restabelecidos em 2008.

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Em 1999, inspirado por Richard Williams, Leonard François decidiu que ensinaria tênis às filhas e passou a treiná-las: “O projeto já estava lá, eu só precisava segui-lo”, disse François em entrevista ao The New York Times em 2018. Leonard nunca havia jogado tênis na vida, mas ensinava as filhas tudo o que via através da TV e também observando outros praticantes. Em 2006, a família mudou-se para a Flórida para ficar mais próxima dos melhores centros de treinamento dos Estados Unidos e buscar bolsas e oportunidade de treino para as meninas.

As meninas foram se desenvolvendo, porém não competiram no tradicional circuito juvenil promovido pela ITF dada falta de apoio de federações como de patrocínio para viagens. Assim, as irmãs Osaka construíram seus caminhos através de torneios realizados nos Estados Unidos, em especial os da Flórida.

Aos 15 anos, Naomi Osaka alcança seu primeiro ponto no circuito WTA disputando torneios nos Estados Unidos. Dois anos mais tarde, em 2014, alcança as duas primeiras chaves de torneios em nível WTA, após furar o torneio qualificatório e em Stanford alcança sua primeira grande vitória da carreira ao superar a australiana Samantha Stosur, então 19ª do ranking mundial e campeã do US Open 2013.

Em 2016, Osaka termina pela primeira vez um ano entre as 40 melhores tenistas do mundo, um ano e cinco meses após se consolidar entre as 150 melhores do mundo. O sucesso veio em meio a um turbulento processo de definição de nacionalidade. Por ser nascida no Japão mas de pai estrangeiro, Osaka não possuía a nacionalidade definitiva do país, uma decisão que por lei deve ser tomada por uma filha mulher apenas aos 21 anos. Portanto, mesmo jogando por escolha sob abandeira japonesa, Naomi e Mari foram sondadas e pressionadas por olheiros da USTA (federação americana de tênis) para jogarem pelo país, reportou è época o The Wall Street Journal.

Ligada ao Japão por laços culturais e por identificação cultural, Osaka nunca escondeu que optaria por defender a Terra do Sol nascente, mesmo diante da corrente pressão aplicada até pela mídia americana.

A virada definitiva na vida esportiva de Naomi Osaka acontece no fim de 2017, quando ela e o pai decidem contratar o alemão Sascha Bajin, ex-treinador de Serena Williams, para comandar a equipe técnica da jovem. Juntos, em 2018 conquistaram o primeiro título profissional de alto nível no WTA de Indian Wells, considerado o mais importante do circuito WTA.

No mesmo ano, em uma final turbulenta contra sua ídolo, Serena Williams, a jovem frustrou mais de 20 mil pessoas na Arthur Ashe Stadium e foi campeã do US Open, o primeiro de seus quatro títulos nesse nível [US Open 2018 e 2020; Australian Open 2019 e 2021]. Fora Grand Slams e Indian Wells, Osaka tem apenas outros dois títulos WTA de Pequim (China) e WTA de Osaka (Japão).
Fora das quadras, Naomi Osaka é apontada por especialistas como “o melhor produto de marketing do novo milênio”, a jovem de origem simples, mestiça e que enfrentou racismos diversos é, aponta jornal Sport Business, “o rosto de um mundo moderno e globalizado”. Em 2020, o jornal fez um levantamento no Japão e concluiu que Naomi Osaka agrada e inspira os mais jovens “por brilhar sendo diferente”, bem como é tida como “símbolo de resistência e coragem” entre o público mais velho e conservador do país.

Sua imagem pessoal e seu perfil vitorioso em quadra a tornaram a mulher mais bem paga do esporte mundial em 2020 e 2021, de acordo com levantamento da revista americana Forbes.

Seu sucesso esportivo e comercial a fez se tornar um personagem com superpoderes ao ganhar seu próprio mangá, Naomi Sem Igual.

Em 2020, Osaka liderou silenciosamente o maior protesto da história do tênis desde a rebelião das “nove originais” (as fundadoras da WTA). Após participar de protestos de rua contra o racismo e a violência policial contra negros nos Estados Unidos, Naomi Osaka decidiu que faria um boicote ao torneio de Cincinnati, que dada pandemia era realizado em Nova York, e anunciou que não jogaria a partida de quartas de final. A decisão da atleta fez com que a organização do torneio, em parceria com as associações profissionais ATP (homens) e WTA (mulheres) suspenderia toda a rodada em apoio à luta antirracista no país.

Já em maio 2021, Osaka trouxe à tona o tema "depressão entre atletas sem alto nível". A jovem, que sofre de ansiedade e quadros depressivos, segundo relatou às revistas TIME e Vogue Hong Kong, decidiu que não concederia entrevistas coletivas durante a disputa de Roland Garros, causando polêmica com a imprensa especializada e a organização do torneio, que ameaçou expulsá-la da competição caso não falasse. Osaka optou por desistir do torneio antes mesmo da partida de segunda rodada.

Neste 23 de julho de 2021, Naomi Osaka escreve seu nome na história olímpica ao ser a primeira mulher negra a acender a Pira Olímpica, bem como ser a primeira tenista da história.

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