O dia em que a Seleção de 1970 empatou com o Bangu em Moça Bonita
Jogo aconteceu às vésperas da Copa do Mundo e foi o último com João Saldanha

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A Seleção Brasileira tricampeã na Copa do Mundo de 1970 é apontada por muitos como o maior time de futebol da história. Mas, três meses antes de encantar o planeta, a equipe de Pelé, Rivellino e Jairzinho conseguiu uma façanha às avessas: empatou por 1 a 1 com o Bangu, em Moça Bonita, e só não deixou a zona oeste do Rio derrotada porque Flávio Costa — o técnico do Maracanazo e que à época dirigia o alvirrubro — decidiu colocar os reservas no segundo tempo.
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O empate inesperado na tarde chuvosa de 14 de março de 1970 foi o último da Seleção Brasileira sob o comando de João Saldanha. Na semana seguinte, o treinador seria demitido pelo então presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange. Mário Jorge Lobo Zagallo assumiria e, bom, aí a história fala por si só.
Mas o que levou o Brasil a jogar com o Bangu no subúrbio do Rio, em um estádio cujo acesso é formado por ruas acanhadas e diante de uma equipe que não assustava ninguém? Ao que tudo indica, uma amizade entre cartolas.
— O Bangu serviu de sparring para a Seleção Brasileira em 1950, antes daquela Copa do Mundo. Perdeu três jogos e ganhou um. Jogou em 1956 também, perdeu. Jogou em 1966 duas vezes, venceu um, perdeu outro. Eram jogos-treino. As partidas de 1966, uma foi no Caio Martins (em Niterói), a outra em Teresópolis. Os jogos de 1950 foram em São Januário e Maracanã — conta o jornalista e historiador do Bangu Carlos Molinari.
— O time tinha sido apenas o sexto colocado no Campeonato Carioca em 1969, então não era nem um adversário forte para testar a Seleção. Mas tinha uma relação de amizade muito grande entre o Guilherme da Silveira Filho, que era o patrono do Bangu, e o João Havelange, que era o presidente da CBD — acrescenta Molinari.
O jornalista explica que a relação entre os dois é apontada como uma das razões para o Bangu frequentemente ter jogadores convocados para a Seleção Brasileira. Zózimo esteve nas equipes campeãs mundiais de 1958 e 1962, enquanto Fidelis fora convocado para a Copa do Mundo de 1966. Em 1970, porém, ter um atleta da equipe na Copa do Mundo que seria disputada no México era injustificável.
— Não tinha condição de levar ninguém para a Copa. O melhor era o Aladim, ponta-esquerda, mas você não tinha um jogador do Bangu para levar para a Copa de 1970. Então o que você faz? Você dá um amistoso como forma de gratidão ao apoio que o Guilherme da Silveira Filho sempre prestou ao João Havelange.

Estádio do Bangu lota para ver a Seleção de Pelé
O Estádio Proletário Guilherme da Silveira Filho, que todo mundo conhece como Moça Bonita, ficou completamente lotado naquela tarde de 14 de março. Há quem garanta que mais de 30 mil pessoas estiveram nas arquibancadas, número que Molinari considera bastante inflado.
— É um jogo que não tem entradas vendidas, as pessoas não compraram ingressos, elas ganharam. O público era formado por familiares e funcionários da fábrica Bangu, comandada pelo Guilherme da Silveira, imprensa e convidados — conta o historiador.
— Falaram em 32 mil pessoas, mas 32 mil não cabem. Teriam sido 20 mil. Estava chovendo bem, as fotos da arquibancada mostram todo mundo de guarda-chuva, tem menos espaço ainda.
Apesar de formado basicamente por funcionários do patrono do clube, quase todos que foram ao estádio não estiveram lá para torcer para o Bangu, mas sim para a Seleção Brasileira.
— As pessoas esperavam 5 a 0, 5 a 1, que a Seleção iria golear o Bangu. O Brasil tinha perdido para a Argentina em Porto Alegre por 2 a 0, tinha ganhado da Argentina no Maracanã por 2 a 1, e veio enfrentar o Bangu. Não é um jogo para ser difícil, é um jogo para ser fácil. Mas aí começa a dar tudo errado.
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