Do amadorismo aos acordos: entenda fato de seleções de futebol terem de atuar com times sub-23 na Olimpíada

Temor de 'concorrência' com a Copa do Mundo e tratativas da Fifa com o COI culminam em um histórico inusitado da modalidade nos Jogos Olímpicos

Anéis Olímpicos
Jogos Olímpicos têm nova edição do futebol masculino a partir desta quinta (AFP)

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Os Jogos Olímpicos de Tóquio abrirão espaço nesta quinta-feira (22) para mais uma edição da disputa do futebol masculino, com direito aos finalistas da Rio-2016, Brasil e Alemanha, no mesmo grupo (clique e veja a tabela). A competição mantém a imposição de que as seleções masculinas sejam formadas basicamente por atletas sub-23 (com direito a uma cota de até três atletas acima desta idade).  A presença do futebol olímpico traz muitas peculiaridades.

Nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1900, houve sua primeira disputa (e não se cogitava que mulheres poderiam disputá-lo), com um torneio de exibição disputado curiosamente entre três clubes: o Upton Park FC, da Grã-Bretanha, o francês USFSA XI da França e o belga Université de Bruxelles. O time britânico se sagrou campeão. O feito se repetiu na edição seguinte, em Saint Louis, com o canadense Gait FC desbancando os americanos Christian Brothers College e St. Rose Parish.

O AMADORISMO

Uruguai Seleção Olímpica 1928
Uruguai: bicampeão olímpico em 1924 e 1928 (Reprodução)

Incluído a partir de 1908 nos Jogos Olímpicos, o futebol alcançou uma dimensão muito forte na competição. Após o bom desempenho dos britânicos no início do século, outra seleção ganhou notoriedade: o Uruguai.

Na época considerada uma potência sul-americana no futebol, a equipe "charrúa" se sagrou campeã olímpica em 1924 ao vencer a Suíça por 3 a 0 na decisão, graças a Pedro Petrone, Cea e Romano. Quatro anos depois, a Olimpíada de Amsterdã trouxe novo desafio. Um empate em 1 a 1 com a Argentina exigiu um jogo-desempate.

Roberto Figueroa marcou o primeiro gol uruguaio. Monte igualou para os argentinos, mas Scarone assegurou a vitória por 2 a 1 e o bicampeonato. A Celeste Olímpica se consagrava pela segunda vez.

O PRIMEIRO ACORDO

Sede da Fifa, em Zurique (Foto: Fabrice Coffrini / AFP)
Fifa não quis que Olimpíada desvalorizasse a Copa do Mundo (Foto: Fabrice Coffrini / AFP)

A partir da década seguinte, porém, houve novo impasse. A Fifa decidiu realizar seu torneio de futebol, a Copa do Mundo, e não quis que a disputa olímpica fosse uma concorrente.

Não houve realização de jogos de futebol na Olimpíada de Los Angeles. Na edição de 1936, em Berlim, os jogadores voltaram a entrar em campo após um consenso entre a entidade máxima do futebol mundial e o Comitê Olímpico Internacional.

Os Jogos Olímpicos passariam a ser disputados apenas por atletas amadores. Esta regra, que durou até a Olimpíada de 1980, em Moscou, deu vantagem para países do Leste Europeu: muitos jogadores eram considerados militares e, por conseguinte, entravam na lista de "amadores". 

A ENTRADA DO PROFISSIONALISMO NA OLIMPÍADA

Seleção olímpica 1988
Com base do Inter, Brasil foi prata em Los Angeles (Divulgação / CBF)

A Olimpíada de 1984, em Los Angeles, foi a primeira a permitir atletas profissionais. Porém, trazendo uma imposição: só eram permitidos atletas que nunca tivessem disputado uma Copa do Mundo.

> Lembre os 'veteranos' que já defenderam a Seleção nas Olimpíadas!

Formada pela base do Internacional, que tinha nomes como o goleiro Gilmar, o zagueiro Mauro Galvão e os volantes Ademir e Dunga, além de contar com nomes promissores como Gilmar Popoca, a Seleção Brasileira alcançou o pódio pela primeira vez. A equipe foi medalha de prata, perdendo por 2 a 0 para a França na decisão.

25/9/1988 - Brasil 1x0 Argentina - Olimpíada de 1988
Romário celebra gol na Olimpíada de Seul (Foto: AFP/Lancepress!)

O mesmo procedimento aconteceu na edição de 1988, em Seul. Aquela geração da Seleção Brasileira abrigou futuros tetracampeões mundiais, como o goleiro Taffarel, Jorginho (que ocupou a lateral esquerda durante a campanha), além da dupla de ataque Bebeto e Romário.

O time também trazia o veterano Andrade, já com o currículo de multicampeão pelo Flamengo, e jogadores que despontavam, como Luiz Carlos Winck, Geovani, Neto e João Paulo. O Brasil voltou à decisão, abriu o placar, mas sofreu a virada para a União Soviética e viu o ouro escapar na prorrogação, com a derrota por 2 a 1. 

SÓ ATLETAS SUB-23!

Dener - Seleção
O Brasil, que tinha Dener, não foi para os Jogos de Barcelona em 1992 (Reprodução)

A liberação para que atletas sub-23 pudessem é relativamente nova: a partir da disputa da Olimpíada de 1992. O Brasil, comandado por Ernesto Paulo, deixou escapar a chance de ir para Barcelona, ao ser eliminado precocemente no Pré-Olímpico.

A Espanha, com 100% de aproveitamento, se sagrou campeã da competição, ao derrotar a Polônia por 3 a 2.

'COTA' DE VETERANOS

Brasil x Nigeria 1996
Roberto Carlos em ação na semifinal com a Nigéria (Foto:Reprodução0

A permissão para que cada seleção convoque três jogadores acima de 23 anos só aconteceu na edição seguinte, em Atlanta, em 1996, e prossegue até os dias atuais. A Seleção Brasileira chegou a estar perto da final, ao abrir 3 a 1 sobre a Nigéria. Porém, após ceder o empate em 3 a 3 no tempo normal, sofreu o "gol de ouro" na prorrogação da semifinal e a geração de Dida, Roberto Carlos, Flávio Conceição, Juninho Paulista e Ronaldo teve de se contentar com o bronze. A regra para o futebol masculino dura até a edição atual. 

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