Velejadores criam ‘Copa do Mundo’ para decidir melhor nação no esporte

União dos principais atletas do mundo sacramenta a primeira grande disputa de vela entre países na história, a Nations Gold Gup, que terá primeira edição em 2021. Brasil sonha alto<br>

Velejadores no Nassau Yacht Club (Marc Roullier / SSL)
Velejadores discutiram em Nassau o formato do evento inédito que começa em 2021 (Foto: Marc Roullier / SSL)

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Em busca de maior audiência, a elite da vela do planeta está prestes a colocar em prática a primeira grande competições entre países da modalidade. Trata-se da SSL Nations Gold Cup, uma espécie de Copa do Mundo dos mares, que acontecerá de dois em dois anos. A primeira edição será em 2021, no Lago de Neuchâtel, na Suíça, e distribuirá US$ 1 milhão em premiações.

A iniciativa tem como diferencial o fato de permitir somente atletas nascidos no mesmo país, diferentemente da America's Cup e da Volvo Ocean Race. O barco desenhado é um modelo de 47 pés (15m), para oito a dez pessoas, que será fornecido pela liga.

A SSL espera que cada nação busque patrocinadores para arrecadar um teto de U$S 100 mil (R$ 390 mil) com despesas de transporte e hospedagem. A inscrição será grátis.

A ideia começou a ganhar forma em 2012, graças à união de um grupo de 100 velejadores que viria a formar a Star Sailors League, com o apoio do empresário suíço Michel Niklaus. Ele se inspirou em grandes organizações esportivas de sucesso para construir um cenário atraente para o calendário da navegação mundial.

O empresário suíço Michel Niklaus (Foto: Jonas Moura)
O empresário suíço Michel Niklaus em Nassau (Foto: Jonas Moura)

A companhia, que acaba de encerrar a sexta edição da SSL Finals, em Nassau (BAH), uma competição da classe Star, é independente da World Sailing, a Federação Internacional de Vela, da qual os maiores nomes da modalidade são críticos ferrenhos.

Muito reclamam que a entidade máxima toma decisões políticas em detrimento do esporte, como a retirada das classes Star e Finn do programa olímpico. Reunidos na SSL, eles querem agora ampliar o público, com um formato simples e atrativo.

– Nós iremos, finalmente, decidir quem é a melhor nação do mundo na vela. Diversos velejadores já estejam interessados em disputar a competição. Recebemos, por dia, cinco ou seis novos pedidos de inscrição – afirmou o polonês Mateusz Kusznierewicz, campeão olímpico de Finn em Atlanta-1996 e porta-voz dos atletas.

O Brasil promete ser uma das grandes forças, com a liderança de Robert Scheidt ou Torben Grael, os maiores medalhistas olímpicos do país, com cinco conquistas. E a escolha dos líderes será feita pela SSL. Não haverá restrição para mulheres, embora a ideia tenha surgido de um grupo de homens.

– É um novo conceito de corrida emocionante para o público e os atletas, sem mudar o espírito e a tradição. do esporte – diz Scheidt.

O país poderá ter nomes consagrados, como Martine Grael, filha do velejador e campeã olímpica na Rio-2016, sua parceira de 49erFX Kahena Kunze e Jorge Zarif, atual campeão mundial de Star.

Modelo de ranking global ainda gera dúvidas

Um das grandes dúvidas de muitos velejadores diz respeito ao formato de ranking que a SSL utilizará para selecionar as tripulações. O assunto não é comentado publicamente, mas há quem veja o risco de uma queda no nível dos atletas, já que quem disputar mais regatas, nas mais diversas classes, terá maiores chances. Os principais nomes à frente da iniciativa minimizam a questão.

– Para vocês, pode ser difícil de imaginar este formato, mas é viável colocar todos os velejadores, sejam timoneiros, proeiros, de Star, Laser, Finn, Optimist, em um único ranking. Essa é a meta – disse Kusznierewicz.

Para o brasileiro Lars Grael, dono de dois bronzes olímpicos, a abertura ao diálogo promovida pela organização permitirá que os ajustes sejam feitos aos poucos.

– É uma ideia genial e que tem tudo para dar certo. São barcos de médio a grande porte, com igualdade de condições. Com o tempo, o formato será aperfeiçoado. A competição em 2021 servirá para eles fazerem correções. O critério não está totalmente fechado – afirmou o velejador.

A NATIONS GOLD CUP

Formato da disputa
A competição será aberta a 140 países, divididos em três zonas, cujas Federações Nacionais são reconhecidas pela World Sailing. Para organizar a seleção para a fase final, que contará com um máximo de 40 equipes, todos os países serão classificados de acordo com as regras estabelecidas pela SSL, que considerarão os resultados obtidos nos Jogos Olímpicos, Mundiais e Copas do Mundo. Entre os finalistas, haverá uma regra específica que garantirá a presença de nações emergentes. Deste grupo de 40, os times disputarão um formato de Copa do Mundo de futebol. As 16 que sobrarem vão para a eliminatória, que decidirá a melhor nação do mundo.

Seleção dos velejadores
Cada seleção terá 11 velejadores. A SSL nomeará um capitão, que poderá ser o timoneiro e terá de gerenciar o time. Quatro nomes serão selecionados por este líder. Cinco atletas entrarão pelo ranking de timoneiros e outro pelo ranking de proeiros.

COM A PALAVRA

Michel Niklaus, idealizador da SSL

Expectativa de 16 campeões olímpicos

Atualmente, temos 35 mil espectadores na SSL Finals. Não é ruim, mas queremos chegar aos 10 milhões. A ideia partiu dos velejadores, que me procuraram. Por isso, resolvermos construir um novo evento, como a Copa do Mundo de futebol, com barcos identificados com os países. Todos terão as mesmas chances de treinar. Usaremos o barco para promover nossa marca, e cada nação terá de buscar seus próprios patrocinadores. Temos parceiros interessados. Nós providenciaremos a estrutura, os barcos e os treinos. Serão 16 campeões olímpicos e esperamos um nível muito forte.

* O repórter viaja a convite da Star Sailors League

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