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NFL com Lacalle: Bad Bunny no Super Bowl é a melhor escolha?

NFL deu um recado claro ao escolher Bad Bunny e isso é muito significante

Bad Bunny foi escolhido como atração do show do Intervalo do próximo Super Bowl
imagem cameraBad Bunny foi escolhido como atração do show do Intervalo do próximo Super Bowl
Dan Lacalle
Colunista
Autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, esse texto não reflete necessariamente a opinião do Lance!
Dia 07/10/2025
18:26

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O Super Bowl é o maior evento esportivo dos Estados Unidos, mas é claro que não é só futebol americano. Desde que foi criado, tornou-se um ritual quase que cultural. E isso foi importado para o público que ama a bola oval aqui no Brasil. E aos que ainda não acompanham tanto o esporte, também. E isso se deve, muito, às atrações do show do intervalo. Na próxima edição, teremos o cantor porto-riquenho Bad Bunny.

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Em 29 de setembro de 2025, a NFL, junto com Apple Music e Roc Nation, confirmou Bad Bunny como a atração do halftime show do Super Bowl LX, em Santa Clara, marcado para fevereiro de 2026. Bad Bunny aceitou com emoção: dedicou a escolha ao seu legado, à sua cultura, aos latinos que o acompanham: “pra minha gente, cultura, nossa história”.

Como num filme de terror em slow motion, a ala conservadora norte-americana reagiu com tudo e de maneira direcionada. As críticas vieram por ele cantar majoritariamente em espanhol, além do lado político que o cantor levantou a bandeira, realizando alguns movimentos anti-Trumpistas. E os ataques foram à sua estética, sua identidade, e seu ativismo em temas de imigração, especialmente por evitar fazer turnê contínua nos EUA por medo de ações do ICE, polícia especializada que vem agindo contra imigrantes no país.

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Do outro lado, um coro de apoio: latinos que viram nessa escolha uma vitória simbólica de representatividade. Fãs globais que notam que os tempos mudaram, analistas que apontam que o show do intervalo tornou-se uma vitrine cultural e tão grande quanto o esporte em si.

Vale fazer um adendo aqui de que o Super Bowl é tradição, patriotismo em forma de espetáculo. Mas as críticas vêm porque Bad Bunny é um cidadão de Porto Rico, bilíngue, e de herança latino-americana? Ele instaurou essa pergunta e seu anuncio foi um recado. E é por isso que incomoda.

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Eu não vou mentir para vocês. Quando Bunny foi anunciado, não vi como uma baita atração de Super Bowl. A primeira atração foi Michael Jackson, em 1993, até porque antes eram apenas fanfarras e bandas universitárias. E desde então a NFL buscou trazer pessoas que tivessem um legado histórico-musical muito forte, como Beyoncé, Rihanna, Coldplay, Bruno Mars, Red Hot Chilli Peppers, Dr. Dre, Snoop Dogg, Eminem, Kendrick Lamar (por mais que o show não tenha sido lá essas coisas) e por aí vai. Nomes de grande importância há mais de uma década. E aí chamaram o Bad Bunny.

Calma, isso não é uma crítica. Bad Bunny é um fenômeno sem precedentes. Mas essa foi a linha de raciocínio de escolhas que sempre vimos a NFL tomar: histórico musical grande, repertório gigante, mundialmente conhecido fora de bolhas e onde quer que você cite o nome, as pessoas reconhecem. E minha única questão é - as pessoas conhecem o Bad Bunny em todos os lugares ou é apenas uma certa geração (gigante) que o acompanha, não sendo algo tão fora da bolha assim como os nomes citados acima?

A resposta é: não importa.

A NFL busca trazer novos fãs de futebol americano a cada Super Bowl, com a atração do intervalo. E o Bad Bunny tem exatamente o público que a liga deseja: um público jovem, heavy user de internet, latino, e que vai acompanhar o show sem desgrudar o olho da tela. E a previsão é de uma quebra de recorde de audiência. Mesmo com questões políticas envolvidas. Ou talvez até por isso mesmo.

Existem argumentações de que shows como esse “não deveriam ser políticos”. Mas Bad Bunny é político, como qualquer outra pessoa e qualquer coisa (tudo é político, já disse que parte da razão de evitar shows no continente foi medo de repressão do ICE. E isso é política. Ignorar isso não é ser neutro. É optar pela obediência silenciosa).

E claro que a NFL sabe de tudo isso. Estamos falando de uma liga com ambição global e milimetricamente inteligente. A audiência internacional, os mercados latino-americanos, o streaming... sabemos que tudo isso pesa. Escolher Bad Bunny é apostar em relevância cultural.

Bad Bunny pode perder alguns espectadores conservadores e, talvez, um percentual não desprezível. Pode haver pressão de patrocinadores, insegurança política. Mas há algo que esse movimento não consegue: apagar o significado simbólico de ver alguém que canta em espanhol, que mostra orgulho latino, que não deixa a identidade ser retraída no palco mais observado da cultura dos Estados Unidos.

A NFL, ao insistir nessa escolha, está dizendo: “sim, isso importa. A América é mais que uma narrativa monocromática”. E isso só fortalece quem há muito tempo esperava ter esse espaço. Não acham?

Ainda, a NFL deverá cuidar bem da produção do show. Tudo sempre sai perfeitamente bem porque eles têm os melhores profissionais em cada área. Bad Bunny deve (e provavelmente vai) usar esse momento para reafirmar: não é só sobre ele, é sobre gente que raramente se vê representada.

Bad Bunny ser o show do intervalo do Super Bowl é muito mais que uma boa jogada de marketing ou uma escolha de um público global. É um espelho. Um daqueles que mostra não só quem nós somos, mas quem tem medo de quem somos.

Então, se você ainda se pergunta se o Bad Bunny era a melhor atração disponível para o show do intervalo do próximo Super Bowl, assim como eu me perguntei, a resposta é, claramente: SIM.

A final da NFL vai seguir sendo relevante. E não apenas pelos touchdowns e comerciais multimilionários. Mas por trazer tamanha cultura ao maior palco do mundo. Um jogo onde, quem ganha, é o público, com um artista tão grande e conceituado, e que vem fazendo um trabalho impecável nos últimos anos.

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