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NFL com Lacalle: por que a liga é um “monstro” nos EUA e um nicho no Brasil?

Didática e desmistificação estão no "game plan" para popularizar a NFL no Brasil

bandeiras do Brasil e estados unidos esticadas na Arena Corinthians, em São Paulo
imagem cameraJogo da NFL no Brasil foi um marco para o crescimento do futebol americano no país
Dan Lacalle
São Paulo (SP)
Dia 25/06/2025
18:33

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A NFL é um rolo compressor. Nos Estados Unidos, a liga de futebol americano domina de por uma larga vantagem o cenário esportivo, seja com audiência de TV, mídia, fantasy game, cultura pop e até nos feriados. Em 2024, 72 dos 100 programas mais assistidos da TV estadunidense foram... jogos da NFL. Sim, você leu certo: setenta e dois. E, se formos comparar com a NBA, o cenário para a ser quase desleal. Isso porque nenhuma partida da liga de basquete apareceu no Top 100 (nem mesmo das finais). 

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Mas então vem a pergunta: por que essa superioridade toda não se traduz para o Brasil? O que falta para a NFL deixar de ser um esporte “alternativo” ou “diferente” e se tornar algo maior por aqui, visto que o brasileiro sempre importou tanto a cultura norte-americana?

Ídolos na NFL

Ou melhor, a falta deles.

O brasileiro é movido a narrativa e identificação. A gente torce por um time, mas idolatra nossos conterrâneos. No futebol, onde estamos “em casa”, referências como Pelé, Zico, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho, Rivaldo, Kaká, Neymar, marcaram gerações de torcedores e nos fizeram acompanhá-los no futebol brasileiro e no internacional de forma assídua. 

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E podemos ver essa construção da idolatria em diferentes esportes. Na Fórmula 1, o brasileiro se apaixonou pela habilidade de Ayrton Senna - e a forma que ele e a chuva pareciam combinar os melhores momentos para se encontrarem. No tênis, vimos Guga e Meligeni fazer mágicas em quadra. No surf, Medina e Ítalo Ferreira nos fizeram entender mais do esporte. No skate… eu sei que você torceu para as adversárias caírem contra a Rayssa Leal. No futebol americano, isso ainda é escasso. Tom Brady é uma lenda da NFL e foi casado por anos com a brasileira Gisele Bundchen, mas fala “thanks” e não “valeu”. A barreira do idioma e da cultura pesa.

E aí entra um fator-chave de que temos apenas um brasileiro jogando por lá. E não me leve a mal. Cairo Santos é um ídolo para mim e para todos os amantes brasileiros da NFL. Porém, por mais que hoje ele seja um dos principais jogadores do Chicago Bears (se não o principal, que vem sendo mais importante até mesmo que Caleb Williams), a posição de Kicker é pouco vista durante uma partida e, infelizmente, pouco valorizada. E olha que ele representou - e ainda representa - a bandeira do Brasil de forma brilhante em todo campo de futebol americano que pisa.

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Um ídolo ainda mais forte seria de uma posição com mídia constante, durante todo o ano. Um Wide Receiver faria o país suspirar com recepções miraculosas. Um Running Back brasileiro na NFL acordaria todos os vizinhos do fã de NFL durante um jogo de primetime quando encaixasse uma corrida de mais de 40 jardas para o touchdown no fim da partida. Um defensor, nem se fala. Todos vibrariam com uma bela pancada no adversário. Mas um Quarterback brasileiro seria o rosto e o coração da popularização massiva do esporte, com ele jogando bem ou não. Essa posição no futebol americano tem uma atenção especial.

E este sonho não é tão distante. Temos o Davi Belfort no College Football. O QB filho do lutador Vitor Belfort, com chances reais de chegar na NFL. Com o Davi chegando na liga, o jogo vira. E as chances dele jogando por UCF, agora, são bem animadoras.

Acessibilidade ao jogo

Não falo só da bola oval.

A NBA está em todo canto. Em toda praça pública que passamos, é possível ver jovens jogando e disputando o espaço da quadra com quem quer jogar futebol. A modalidade é fácil de entender e está há gerações como um esporte comum, sem barreiras de compreensão para o grande público. A NFL, não. Tem mais regras, times de ataque, defesa e especialistas entrando e saindo, e uma sopa de siglas: QB, RB, WR, TE, blitz, shotgun, snap count, pass interference… não posso negar que é um pouco mais complexo esse xadrez em campo.

Isso sem falar que o brasileiro cresceu vendo futebol, um jogo que é mais fluido e tem poucas paradas, diferente do futebol americano. Se fossemos comparar os esportes como muita gente fala que “futebol” no brasil tem que ser o da bola redonda e não o americano, seria como colocar lado a lado um bom pagode ao lado da 5ª Sinfonia de Beethoven. Ambas têm beleza, mas uma você entende no churrasco. A outra precisa de tempo para absorver todos os plot twists. E vale deixar claro: gostar do mais complexo não exclui o fato de você poder apreciar e muito o que é mais simples.

O método de exclusão existente no brasileiro onde se você não gosta de A, automaticamente você gosta de B, não se aplica para o esporte. Nunca precisou de aplicar quando o assunto foi basquete, automobilismo, vôlei ou tênis. E não precisa ser colocado em prática quando o assunto for NFL, também. E não, não é vira-latismo de norte-americano. Até porque não podemos esquecer que o nosso esporte preferido veio da Inglaterra, certo?

Quem explica tudo isso?

Explicar não é fácil. Mas quem faz, guia com muita dedicação.

Hoje, a geração Z não aprende pelo manual. Aprende com Reels, TikToks, cortes de podcast. E a NBA entendeu isso faz tempo: investe pesado em influenciadores, tem a “NBA House”, trabalha com jovens no “Jr. NBA”, usa celebridades locais com frequência, entra nas trends e acaba sendo o “hype” mesmo quando a temporada não está lá essas coisas. O basquete e a cultura estão claramente atrelados. No futebol americano, esse vínculo também é forte, mas não é tão claro.

A NFL está correndo atrás sem precisar suar tanto. Mas, antes mesmo dela buscar se expandir no Brasil, diversos criadores de conteúdo e páginas já vêm estimulando o público há muito tempo. Perfis fortes que entendem a importância da didática e da desmistificação do esporte para que a base de fãs siga crescendo cada vez mais, a cada ano. E, claro, não podemos deixar de lado o trabalho na TV aberta e fechada, há mais de 20 anos, que estimulam a grande massa a se familiarizar com a modalidade. Trabalho árduo e contínuo que coloca um tijolo de cada vez nessa construção.

Há luz no fim da Endzone

O jogo da NFL no Brasil, em 2024, foi um marco. Ingressos esgotaram em menos de duas horas. A fila de espera daria voltas na Arena Corinthians, se não fosse virtual. A festa no estádio foi surreal e a NFL olhou com respeito. E foi só o começo. Este ano, para Chargers x Chiefs, não espero nada menos do que isso. Ingressos, novamente, esgotaram rápido. E a empolgação da torcida para ver ambas equipes em campo é ainda maior, por uma dinastia da liga vir ao Brasil.

E tem mais. As novas gerações de atletas estão se interessando por Flag Football, agora esporte olímpico. Imaginem o boom que podemos ter na modalidade, que é uma vertente do futebol americano, se ganharmos uma medalha nas Olimpíadas? Temos chances reais e seria outro marco. Ainda, mais canais vem abrindo espaços e diversas marcas passaram a entender que a NFL é cultura, é "cool". Mas isso precisa ser regado. Com conteúdo. Com ídolos. Com o jeitinho brasileiro de explicar o futebol americano.

A NFL é gigante, mas está em um trabalho constante e veloz para se abrasileirar. A NBA fez isso com eventos, festas, moda, lifestyle, memes, influenciadores. A NFL pode fazer igual e a base de 41 milhões de fãs já está aqui, segundo o Kantar Ibope de 2024.

E aí, quando uma criança do interior disser que quer ser Quarterback ao invés de de camisa 10 - e tiver meios mais acessíveis para isso - a gente vai saber que chegou lá.

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