Medalhista paralímpico do ciclismo encara até a elite do Tour de France

Lauro Chaman, que nasceu com o pé esquerdo virado, celebra ida à Seleção convencional e oportunidade de competir contra astros, seja no badalado Tour de San Juan ou no Parapan

Lauro Chaman é ouro no Mundial de Paraciclismo Rio 2018 e levanta Velódromo do Parque Olímpico
Lauro Chaman foi campeão mundial de paraciclismo no Rio de Janeiro, em 2018 (Foto: Fernando Maia/MPIX/CPB)

Escrito por

A ascensão do brasileiro Lauro Chaman nos últimos anos o credenciou a sonhar alto. Primeiro ciclista do país a medalhar em Jogos Paralímpicos, no Rio de Janeiro, em 2016, com uma prata na estrada e um bronze no contrarrelógio, o paulista de Araraquara celebrou este ano a convocação inédita na carreira para a Seleção Brasileira convencional, além da participação na Volta de San Juan, na Argentina, prova que reúne até medalhões do Tour de France.

Nascido com o pé esquerdo virado para trás, Lauro passou por uma cirurgia de correção quando criança, mas perdeu os movimentos no tornozelo, o que acarretou em atrofia na panturrilha. Apesar da limitação, nunca deixou de competir com atletas sem deficiência e descobriu no esporte paralímpico uma maneira de frequentar o topo, ajudar a família e deixar de viver de aluguel.

– Foi muito legal. Os atletas do Tour de San Juan estão muito acima de mim, mas ter participado ,e ajudou na preparação para o paraciclismo. Na categoria C5, todos os outros atletas competem em seus países no convencional. Alguns correm até em equipes Pro Continentais. No Brasil, é tudo muito burocrático e caro. Não é forte como na Europa, mas esperamos que cresça mais e acredito que estamos no caminho – disse Chaman, que defende a Memorial, ao LANCE!.

O atleta, inclusive, já integrou uma equipe Pro Continental, a Funvic, de São José dos Campos, que foi suspensa pela União Ciclística Internacional em 2017, devido ao acúmulo de casos de doping. Lauro prefere não falar sobre o tema.

Nesta terça-feira, a partir das 14h15 (de Brasília), ele disputa a qualificação da perseguição individual de 4.000m classes C 4-5 nos Jogos Parapan-Americanos de Lima, e espera mostrar que aprendeu lições em meio à elite mundial.

Na última Volta de San Juan, estavam ciclistas do patamar do eslovaco Peter Sagan, o francês Julian Alaphilippe e o colombiano Nairo Quintana. O Brasil não tinha chances, mas o paulista diz que completar todas as etapas foi uma vitória. Durante as sete etapas, os competidores percorreram 981,40km. A competição tem uma semana de duração. Já as Grandes Voltas, como o Tour de France e o Giro da Itália, levam três.

– Consegui terminar. Teve muita gente que abandonou. Meu nível não chega nem perto dos convencionais, mas fico muito feliz de disputar, assim como aqui. Os melhores do mundo estão no Parapan. O nível da América é altíssimo. Disputamos aqui com os melhores não só do continente, mas do mundo. Tem de valorizar os adversários. Mas meu foco é me preparar bem para as minhas melhores provas – explicou Lauro. 

No ano passado, o atleta foi campeão brasileiro de contrarrelógio olímpico, um resultado que pesou para sua convocação para a Seleção Brasileira. Aos 32 anos, ele lidera um grupo jovens de atletas, passa sua experiência e tenta elevar seu nível em busca do ouro na Paralimpíada de Tóquio-2020.

No Parapan, suas maiores chances são nas provas de estrada e contrarrelógio, nas quais levou o ouro em Toronto-15. Elas acontecem sexta-feira e domingo. No ciclismo paralímpico, é comum atletas competirem tanto na pista do velódromo quanto nas provas ao ar livre. 

– Depois de Toronto, o Lauro ganhou a medalha paralímpica e foi campeão mundial. Evoluiu e chega melhor aqui. Ele compete em alto nível nas provas olímpicas, porque está em atividade com os atletas de lá. A Volta de San Juan, por exemplo, é uma competição muito forte – avalia Edilson Tubiba, coordenador do paraciclismo da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC).

Na segunda-feira, Lauro ficou apenas em sétimo lugar no contrarrelógio de 1km, na qual se destacam os velocistas, o que não é sua característica. Márcia Fanhani, que compete com a piloto Cristiane Pereira, garantiu um bronze na prova de perseguição individual feminina, para atletas com deficiência visual.

BATE-BOLA
Lauro Chaman
Ciclista, ao LANCE!

O que mudou na sua carreira nos últimos anos, com as últimas conquistas?
Até 2015, eu pagava aluguel, trabalhava e treinava. Hoje, vivo a realização de um sonho. Tenho uma estrutura para treinar com tranquilidade, comprar uma casa, ajudar minha mãe, pagar a escola do meu filho, depois de ter passado a vida toda pagando aluguel.

Em que você trabalhou?

Trabalhei em um escritório de contabilidade. Deixei em 2015, quando surgiu a possibilidade de ir para Toronto e o sonho da primeira medalha em Paralimpíada, que conquistamos. Era bem contado o dinheiro para ir competir e hoje a preocupação não é tão grande com antes.

Como faz sua preparação?

Moro em Araraquara. Tenho auxílio do CPB, da CBC e do governo federal. Treino na minha cidade, na estrada. Estamos evoluindo ainda na pista, assim como outros países. Há períodos em Indaiatuba (SP) ou no Rio de Janeiro, quando há competição. Como o foco é estrada, treino mais perto de casa.

QUEM É ELE
Nome completo: Lauro César Mouro Chaman
Data de nascimento: 25/06/1987
Local de nascimento: Araraquara (SP)
Altura: 1,90m
Peso: 74kg
Classe: C5
Principais conquistas: Bronze no contrarrelógio C5 na Paralimpíada do Rio-2016; prata na prova de estrada C4-5 no Rio-2016; bronze na prova Omnium no Mundial de paraciclismo de pista da Holanda-2019; ouro na prova scratch no Mundial de pista do Rio-2019; campeão mundial de estrada na África do Sul-2017; ouro na prova de estrada e no contrarrelógio no Parapan de Toronto-15.

* O repórter viaja a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)

News do Lance!

Receba boletins diários no seu e-mail para ficar por dentro do que rola no mundo dos esportes e no seu time do coração!

backgroundNewsletter