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Líbero, o zagueiro que sumiu do futebol moderno

Função dos anos 80 e 90, o líbero desapareceu com a evolução tática do futebol.

imagem cameraFranz Beckenbauer, o maior líbero da história, comandando o Bayern de Munique com classe e inteligência. (AFP)
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Lance!
São Paulo (SP)
Dia 13/08/2025
08:02

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O futebol é um organismo em constante transformação. A cada década, surgem novas funções, desaparecem antigos papéis e as táticas se reinventam. Uma das figuras mais marcantes do futebol entre os anos 1970 e 1990, e que hoje praticamente desapareceu dos gramados, é o líbero. Conhecido também como “zagueiro central” ou “sweeper” (varredor) em inglês, o líbero foi peça fundamental em diversas formações, especialmente nas escolas europeias. O Lance! lembra do líbero, o zagueiro que sumiu do futebol mundial.

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No Brasil, a função também teve espaço em clubes e na Seleção, embora com características adaptadas ao estilo local. Mas por que o líbero sumiu? O que exatamente ele fazia em campo? E há espaço para o seu retorno no futebol contemporâneo?

Neste texto, vamos explicar a origem do líbero, sua importância histórica, os craques que marcaram época nessa função e os motivos que levaram seu desaparecimento nos esquemas atuais.

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Líbero, o zagueiro que sumiu do futebol mundial.

O líbero era um jogador que atuava atrás da linha de zaga, com liberdade para sair jogando, cobrir os companheiros e organizar a defesa. Ao contrário do zagueiro comum, que marca um atacante adversário diretamente, o líbero ficava “solto” (daí o nome), sem um adversário específico para vigiar.

Sua principal missão era fazer a leitura da jogada e antecipar-se ao perigo. Ele limpava a sobra, interceptava passes em profundidade e dava segurança para os laterais e zagueiros que jogavam adiantados.

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O líbero também era responsável por iniciar as jogadas ofensivas. Muitos eram ex-volantes ou meias recuados, com bom passe, visão de jogo e condução de bola. Sua função era híbrida: parte zagueiro, parte armador.

Origem e auge da função

A figura do líbero ganhou projeção com o técnico Karl Rappan, nos anos 1930, ao criar o sistema de “Verrou” na Suíça. Porém, foi nos anos 1970 que a posição atingiu o auge, com a consolidação do esquema com três zagueiros — dois fixos e um líbero.

O maior nome da história da posição é Franz Beckenbauer, do Bayern de Munique e da Seleção Alemã. Elegante, técnico e extremamente inteligente, Beckenbauer redefiniu o papel ao transformá-lo em um verdadeiro maestro defensivo. Outros nomes de destaque foram Gaetano Scirea (Itália), Franco Baresi (Itália), Matthias Sammer (Alemanha) e Ronald Koeman (Holanda).

No Brasil, jogadores como Mauro Galvão, Edinho e Ricardo Rocha, em determinados momentos, atuaram como líberos, especialmente quando o time usava um esquema com três zagueiros e dava liberdade para o defensor central.

Como o líbero desapareceu?

Com a evolução do futebol nos anos 2000, a função de líbero foi gradualmente sendo eliminada dos sistemas táticos. Há três motivos principais para isso:

  1. A linha de quatro defensores
    O uso do sistema 4-4-2 com duas linhas compactas se tornou predominante. Nesse esquema, os dois zagueiros jogam lado a lado, e não há espaço para um terceiro defensor solto atrás da linha.
  2. O avanço da linha de marcação
    Times passaram a marcar mais alto, pressionar a saída de bola e manter a linha defensiva adiantada a fim de deixar o adversário em impedimento constante. Isso inviabilizou o líbero, que precisava de um espaço maior entre a defesa e o goleiro para atuar com liberdade.
  3. A versatilidade dos zagueiros modernos
    Zagueiros passaram a incorporar as funções do líbero: sair jogando com qualidade, antecipar-se, cobrir espaços e participar da construção. Jogadores como Gerard Piqué, Thiago Silva, Virgil van Dijk e Marquinhos são exemplos de zagueiros modernos que, se vivessem em outra época, talvez atuassem como líberos.

O que ficou do líbero no futebol atual?

Embora a posição tenha desaparecido como função formal, muitos elementos do líbero foram absorvidos pelo futebol moderno. Em sistemas com três zagueiros (como o 3-4-3 ou o 3-5-2), o defensor central pode assumir um papel parecido com o líbero, com liberdade para conduzir a bola e organizar o jogo defensivo.

Um exemplo recente foi David Luiz, no Chelsea de Antonio Conte. Ele atuava como o zagueiro central de uma linha de três, com liberdade para subir ao ataque e lançar os companheiros. Outros casos incluem Bonucci na Juventus, Hummels no Borussia Dortmund e Lisandro Martínez no Ajax.

Além disso, a construção de jogo desde a defesa — algo essencial no futebol atual — tem exigido que os zagueiros sejam bons passadores, o que era uma das principais características do líbero clássico.

Ainda há espaço para um retorno do líbero?

É improvável que o líbero retorne como uma posição fixada e reconhecida como antes. O jogo se tornou mais físico, mais dinâmico e mais marcado por pressing alto e compactação. No entanto, treinadores criativos seguem adaptando o papel conforme as necessidades do elenco.

Em ligas que valorizam a posse de bola e a construção desde a defesa, como a Bundesliga e a Premier League, é comum vermos zagueiros atuando com comportamentos semelhantes ao líbero — mesmo que o termo não seja mais usado.

Uma função que marcou época

O líbero foi uma das funções mais fascinantes da história do futebol. Era a síntese da inteligência defensiva e da técnica refinada, do jogador que comandava o jogo com sobriedade e classe, mesmo sem ser o protagonista final das jogadas.

Ainda que o futebol moderno tenha transformado a posição em outras vertentes, a essência do líbero vive na memória dos torcedores e nos zagueiros que, de tempos em tempos, assumem a mesma postura criativa e elegante que encantou o mundo décadas atrás.

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