Eau Rouge e Raidillon: um dos trechos mais traiçoeiros da Fórmula 1 fica na Bélgica
Combinação de curvas em Spa-Francorchamps desafia pilotos com alta velocidade.

- Matéria
- Mais Notícias
Quando se fala em pistas icônicas da Fórmula 1, poucos trechos evocam tanta reverência quanto a combinação Eau Rouge e Raidillon, localizada no circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica. Esse setor do traçado é considerado um dos mais traiçoeiros do automobilismo mundial, tanto por sua complexidade quanto pelos riscos que impõe aos pilotos.
➡️ Siga o Lance! no WhatsApp e acompanhe em tempo real as principais notícias do esporte
A combinação começa logo após a curva La Source, em uma descida seguida de um vale, onde os carros atravessam o riacho Eau Rouge e iniciam uma subida inclinada e curvada chamada Raidillon. O desafio não está apenas na velocidade, mas também no desnível abrupto, na força G que comprime os pilotos no cockpit e, principalmente, na visibilidade zero ao sair da curva — o piloto vira o volante sem ver onde o carro vai sair.
Essa característica cria uma linha tênue entre a coragem e o erro. Vencer Eau Rouge e Raidillon em alta velocidade exige precisão absoluta e total confiança no carro. Erros geralmente resultam em batidas fortes, já que o espaço para escapada é limitado e o traçado projeta os carros de volta à pista.
Neste texto, explicamos por que Eau Rouge e Raidillon são considerados tão desafiadores, quais foram os acidentes históricos que marcaram o trecho e como as mudanças recentes tentaram aumentar a segurança de um dos pontos mais lendários da Fórmula 1.
Onde ficam Eau Rouge e Raidillon?
As curvas Eau Rouge e Raidillon estão localizadas no início do circuito de Spa-Francorchamps, na região das Ardenas, Bélgica. Após a primeira curva da pista, La Source, os carros descem uma longa reta até o ponto mais baixo da pista, onde cruzam o pequeno rio Eau Rouge (que dá nome à curva), iniciando então uma subida inclinada e curvada, o Raidillon.
O trecho termina na reta Kemmel, um dos pontos de maior velocidade da pista. A sequência toda é feita a mais de 300 km/h pelos carros de Fórmula 1, com o piloto enfrentando forças superiores a 4G durante a compressão e a subida.
Qual a diferença entre as curvas?
Apesar de muitas vezes serem tratadas como uma só, as duas curvas têm nomes e características distintas:
- Eau Rouge é a curva à esquerda, na parte mais baixa do trecho, logo após a descida da La Source. É onde o carro atravessa o riacho que dá nome à curva.
- Raidillon é a sequência em subida com curvas à direita e à esquerda, que leva até o topo da colina e termina na Kemmel Straight.
Essa distinção é importante para pilotos e engenheiros, pois cada parte exige reações diferentes em termos de pressão aerodinâmica, tração e controle da direção.
Por que Eau Rouge e Raidillon são tão perigosos?
Há vários motivos que tornam esse trecho tão desafiador e perigoso:
1. Alta velocidade com mudança brusca de inclinação
A sequência é feita a velocidades superiores a 300 km/h, com o carro saindo de uma descida e entrando em uma curva com inclinação de mais de 18%.
2. Visibilidade nula na saída
O piloto vira o volante no Raidillon sem ver o que há à frente. O topo da colina bloqueia completamente a visão da pista, o que exige precisão absoluta.
3. Área de escape limitada
Mesmo após reformas, a área de escape ainda é menor do que em outros trechos de alta velocidade. Isso aumenta o risco de o carro bater e voltar para o traçado.
4. Força G extrema
A compressão no fundo da curva gera uma força G que chega a comprimir o piloto no cockpit, exigindo muito fisicamente e mecanicamente.
5. Clima imprevisível
O microclima das Ardenas pode deixar a pista molhada em Eau Rouge e seca em Raidillon ou vice-versa. Essa diferença de aderência pode ser fatal.
Acidentes marcantes nas curvas
A fama do trecho não se dá apenas pela técnica envolvida, mas também por sua história de acidentes graves, inclusive fatais. Veja alguns dos casos mais lembrados:
Anthoine Hubert (2019)
Durante uma corrida da Fórmula 2, o francês sofreu um acidente fatal após bater na barreira de proteção e ser atingido lateralmente por outro carro. O acidente gerou comoção mundial e reacendeu o debate sobre segurança em Raidillon.
Dilano van 't Hoff (2023)
O jovem holandês morreu após um acidente muito similar ao de Hubert, em condições de chuva, quando foi atingido em cheio após bater e retornar à pista.
Lando Norris (2021)
Durante a classificação da Fórmula 1 sob chuva intensa, Norris perdeu o controle em Eau Rouge e bateu violentamente nas barreiras. O acidente gerou críticas dos pilotos à direção de prova por não suspender a sessão.
Jacques Villeneuve e Ricardo Zonta (1999)
Ambos os pilotos da BAR bateram no topo do Raidillon em sessões diferentes, após uma aposta interna para ver quem conseguiria fazer o trecho com o pé cravado.
Reformas e segurança: o que mudou?
Após os acidentes recentes, a direção do circuito e a FIA implementaram obras de modernização e aumento das áreas de escape em vários pontos da pista, incluindo Eau Rouge e Raidillon.
As mudanças incluíram:
- Ampliação das áreas de escape com brita e asfalto
- Instalação de novas barreiras de contenção
- Reperfilamento do traçado em certos pontos para reduzir o risco de ricochete
- Criação de um traçado alternativo para corridas de moto, com mais espaço
Mesmo com essas alterações, muitos pilotos defendem que novas mudanças ainda são necessárias, especialmente para evitar que carros que batem retornem à pista em alta velocidade.
O que dizem os pilotos sobre Eau Rouge e Raidillon?
Vários pilotos já comentaram a respeito da combinação:
- Fernando Alonso: "Você não vê a saída da curva. É uma sensação estranha, mas divertida. Se errar ali, perde-se muito tempo."
- Jacques Villeneuve: "É a melhor curva do mundo. Para fazer com o pé cravado, você precisa de mais coragem do que técnica."
- Carlos Sainz Jr.: "Mesmo com reformas, talvez ainda precise de ajustes. Um erro ali pode acabar mal."
Essa mistura de admiração e receio é o que torna o trecho tão especial — e tão perigoso.
Tudo sobre
- Matéria
- Mais Notícias