menu hamburguer
imagem topo menu
logo Lance!X
Logo Lance!

Caso Grafite x Desábato; relembre o caso de racismo em 2005

Em abril de 2005, Grafite foi alvo de ofensa racista de Leandro Desábato.

imagem cameraGrafite no Morumbi durante a Libertadores de 2005, pouco depois da ofensa racista proferida por Desábato, episódio que abalou o futebol brasileiro. (Foto: Reprodução)
Avatar
Lance!
São Paulo (SP)
Dia 18/08/2025
06:04

  • Matéria
  • Mais Notícias

Em abril de 2005, durante uma partida da fase de grupos da Copa Libertadores entre São Paulo e Quilmes, o atacante Grafite sofreu uma ofensa racista enquanto disputava uma dividida. A partir de então, começou uma sequência de eventos que raramente se viu nos gramados sul-americanos e que acabou por transcender o futebol, ganhando repercussão nacional e internacional sobre racismo no esporte. O Lance! relembra o caso Grafite x Desábato.

continua após a publicidade

➡️ Siga o Lance! no WhatsApp e acompanhe em tempo real as principais notícias do esporte

Caso Grafite x Desábato

O impacto do lance foi imediato: expulso junto com outro jogador, Grafite viu o agressor, o zagueiro argentino Leandro Desábato, receber voz de prisão ainda no gramado. A autoridade policial presente considerou o caso uma injúria qualificada, passível de ação penal — situação inédita nas quatro linhas do futebol brasileiro.

Nos dias seguintes, o episódio ganhou destaque em jornais internacionais como o Los Angeles Times, que relatou o detido algemado e preso, evidenciando que o caso havia ultrapassado fronteiras esportivas e virado tema de discussão pública. Internamente, debates sobre como o Brasil lidava com o racismo começaram a ganhar força, com acadêmicos e autoridades apontando o caso como um marco jurídico e simbólico.

continua após a publicidade

Grafite, por sua vez, expressou anos depois que a memória do episódio se sobrepôs às suas realizações como jogador, sendo “lembrado mais por isso do que pelo futebol”. É possível afirmar que, mais do que uma ofensa em campo, o caso virou um símbolo da luta contra o racismo no Brasil, marcando o início de debates estruturados sobre injúria racial, leis e comportamento esportivo.

O que aconteceu em campo

No dia 13 de abril de 2005, no Estádio do Morumbi, o São Paulo enfrentava o Quilmes pela Libertadores. Em uma disputa com o adversário Arano, Grafite caiu e foi insultado por Desábato, que se aproximou e proferiu a frase “seu negro de merda”, caracterizando injúria com agravante racial.

continua após a publicidade

Grafite reagiu empurrando Desábato, que foi expulso junto com o atacante. Ao final do jogo, mesmo após o banho, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves determinou a prisão do argentino no gramado, diante das evidências de crime tipificado no Código Penal como injúria qualificada.

Desábato ficou detido por aproximadamente 16 a 43 horas, segundo diferentes veículos, sendo posteriormente liberado após pagamento de fiança de cerca de R$ 10 mil, tornando-se o primeiro caso de racismo em campo no Brasil que resultou em prisão imediata.

Repercussão na esfera jurídica e simbólica

O caso teve ampla cobertura da imprensa e virou debate acadêmico. O delegado Dr. Nico afirmou na época que “não é porque ele está nas quatro linhas que pode cometer crime”, reforçando que o esporte não está acima da lei. Na visão da justiça criminal, a injúria qualificada exige reação legal — e foi isso que ocorreu em um cenário em que o futebol costuma se eximir de responsabilidades disciplinares.

Acadêmicos utilizaram o episódio para discutir o “racismo à brasileira” — aquele que tende a negar, relativizar ou naturalizar o preconceito. O caso serviu para acender um debate sobre representação racial no espaço esportivo e questionar práticas históricas de silêncio e impunidade.

Meses depois, em outubro de 2005, Grafite optou por retirar a queixa, encerrando o processo judicial. Apesar disso, o impacto simbólico do caso permaneceu, sendo citado como exemplo em debates posteriores da Câmara dos Deputados e nos esforços da CBF para combater o racismo no futebol.

Impressões e memória de Grafite sobre o caso

Grafite afirmou publicamente, anos depois, que passou a ser lembrado mais pelo caso racista do que por seus gols ou títulos — algo que marcaram profundamente sua trajetória pessoal e profissional. Em relatos recentes, ele também comentou que o futebol avançou pouco no combate ao racismo, considerando que ainda hoje esse tipo de ofensa persiste em campeonatos de base e internacionais.

  • Matéria
  • Mais Notícias