Orgulho de um povo! Saiba como o Manaus alçou voo na Série D

'Abraçado' pelo estado, Gavião do Norte conta com mobilização da torcida e abnegação de sobra para, com seis anos de fundação, obter acesso. E ainda quer mais!

Manaus goleou o Caxias por 3 a 0, contando com dois gols de Rossini e um de Mateus Oliveira
Pablo Trindade

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As semifinais da Série D contarão com um integrante “jovem”, mas que carrega a esperança de um estado alçar voos mais altos no futebol nacional. Mesmo tendo apenas seis anos de fundação, o Manaus viu seu acesso à Série C de 2020 levar 44.121 torcedores à Arena da Amazônia (o segundo maior público da história) e agora se acostuma à nova realidade:

– Quando concretizamos o nosso sonho, a gente estava meio incrédulo. Era um objetivo muito sonhado pela gente desde que batemos na trave em 2018. Na segunda-feira, fomos ao gabinete do governador (Wilson Miranda Lima). Acho que só agora a euforia está passando e a gente vai se voltar para a sequência da competição – detalhou, ao LANCE!, Jonathan, que é um dos pilares do elenco.

O goleiro vê o acesso como crucial para o estado, que não via um acesso há 20 anos (desde que o São Raimundo, em 1999, garantiu seu acesso na Série C):

– É um passo para o reerguimento do futebol amazonense. No ano que vem, a gente vai lutar pela Série C, enquanto terão outros dois clubes do estado na Série D.

A força como mandante já vem sendo fundamental para o Gavião do Norte na competição: foram seis vitórias em seis jogos (três na Colina e três na Arena da Amazônia). Contudo, a mobilização da torcida ficará como um capítulo à parte na memória dos torcedores:

– A gente viu a força de um estádio que se mobilizou em torno do nosso sonho. A Arena da Amazônia lotada, e quisemos dar nosso melhor nesse acesso – recordou Rossini, autor de dois gols na goleada por 3 a 0 sobre o Caxias.
Mateus Oliveira, que marcou o terceiro gol (seu sétimo na Série D), vislumbra um horizonte favorável:

– A Série D é muito sofrida. Há dificuldade em montar grandes grupos, não tem tanto espaço na mídia. Times ficam inativos...

Passado o acesso, a próxima “escala” do Gavião é ambiciosa:

– Esperamos que o torcedor de Manaus siga abraçando esta causa. Vamos atrás do título e contamos com o apoio deles – pede o técnico Wellington Fajardo.

OS SINAIS DE UMA PAIXÃO: AS RIFAS PARA AJUDAR O MANAUS

Rifa - Manaus (Reprodução)
Dirigentes venderam rifas em semáforos para ajudar a quitar dívidas (Reprodução)

O voo do Manaus até a Série C não teve sempre céu de brigadeiro. Os problemas financeiros fizeram a diretoria recorrer a uma situação curiosa: os dirigentes Giovanni Alves e Luis Mitoso venderam rifas a R$ 10 nos semáforos para ajudar a fechar a folha de pagamento.

– O único dinheiro que nós tínhamos era o da Copa do Brasil, mas nós fomos eliminados cedo. Como no ano anterior, o investimento tinha sido além do esperado, ficamos com déficit. Pedimos ajuda à Prefeitura, ao Governo, e aí bateu o desespero. Sugeri vendermos as rifas – detalhou Giovanni Alves.

Entre os prêmios sorteados estavam smart TVs de 32 e de 40 polegadas, um ar condicionado, e outros brindes. O dirigente disse que a atitude chamou atenção dos torcedores do Gavião do Norte:

– O público, que não estava acreditando, começou a ir às partidas. E tivemos apoio de colaboradores.

O treinador Wellington Fajardo valorizou a atitude:

– Você vê dois abnegados que tem suas dívidas profissionais se doando ao clube motiva muito.

O goleiro Jonathan detalhou como foi o desafio de superar as adversidades financeiras:

- Demos um voto de confiança. Já havia trabalhado como os dois no Nacional, eles me profissionalizaram. Sabia que eles iam honrar os compromissos. A ideia das rifas fez com que a gente se mobilizasse ainda mais em campo.

HAMILTON, O GOLEIRO QUE 'SE ENCONTROU' NO MEIO 

Hamilton Manaus
Hamilton foi goleiro até 2013. Depois, retomou carreira no futebol, mas na linha (Emanuel Mendes Siqueira/Manaus FC)

A esperança do Manaus ir para o ataque passa pelos pés de um jogador com trajetória bem versátil. O meia Hamilton passou por uma sucessão de funções até se sentir à vontade em campo:

– Eu fui goleiro até 2013, no Fast Clube. Mas não tinha muita oportunidade, parei e comecei a jogar no futebol amador da cidade.

Jonathan, que foi seu colega de escolinha, contou como foi o retorno de Hamilton, que tem 1,92m:

– Ele tinha começado como zagueiro mas, depois, deram espaço como volante. Aí o (técnico do Manaus em 2018) Igor Cearense viu que ele tinha boa altura e bom domínio de passe. Foi para a frente, e deslanchou. Mas de vez em quando, ele põe as luvas quando a gente faz rachão (risos).

Hamilton atualmente trava uma disputa interna pela artilharia com Mateus Oliveira na campanha da Série D. Ele fez seis gols, um a menos que o atacante:

- Uma disputa sadia, mas a gente quer levar o Manaus a conseguir o melhor possível. O torcedor tem muito a ganhar com a qualidade dele. 

Wellington Fajardo enaltece a habilidade de Hamilton. Mas admite:

– De início, eu tive receio que ele fosse lento, por causa da altura. Mas quando a bola rola, é de uma inteligência rara. É jogador “raiz”. Tem visão de jogo.

CONFIANÇA DO TÉCNICO PESA PARA O ACESSO DO GAVIÃO

Wellington Fajardo
'Precisávamos resgatar o futebol deles',diz Fajardo (Pablo Trindade)

A chegada de Wellington Fajardo também foi vista como preponderante para os ares mudarem no Manaus. Ao chegar em 21 de fevereiro, o técnico depositou suas fichas em um elenco questionado:

– O Manaus não tinha se classificado no primeiro turno, mas não significava que o elenco era fraco, pois tinha sido campeão no ano anterior.  Precisávamos resgatar o futebol deles. Passei a eles a parte tática, fizemos treinos exaustivos e assim fomos campeões, ficando 21 jogos sem perder, inclusive. Só fomos derrotados pelo São Raimundo-PA, nas oitavas da Série D, mas depois vencemos em Manaus.

Hamilton evidenciou a intuição do técnico para dar espaço a jogadores que estavam preteridos:

- Pedimos para o Rossini ser reintegrado ao elenco, e a ajuda do Fajardo foi importante nisso. O Mateus não era sequer aproveitado e pedimos para voltar. O professor deu força e ele contribuiu muito para a equipe, fazendo gols.

Mateus Oliveira não esconde a gratidão por Fajardo:

– O treinador anterior tinha pedido a saída de 12 jogadores. Mas o Fajardo foi e deu total apoio a nós, disse que iríamos continuar. Acho que tudo acontece no seu tempo. O trabalho da comissão e da diretoria são muito importantes para nós.

Rossini também valoriza a maneira como o comandante fortaleceu o Gavião do Norte:

– Ele fez com que a gente se consolidasse em campo. Mesmo quando perdemos a partida de ida, falou que tínhamos condições de inverter o resultado. E tivemos força.

A JACUIPENSE NO CAMINHO

Treino do Manaus (Divulgação)
Semifinais trarão duelo com a Jacuipense, da Bahia (Divulgação)

Após o Manaus ter despachado o Caxias, a equipe se prepara para encarar nas semifinais a Jacuipense. Aos olhos de Hamilton, o duelo (que terá seu jogo de ida no próximo domingo) promete  ser acirrado:

– É um jogo difícil, como foi desde o começo. Eles são muito fortes em casa, e ainda têm um jogador muito bom como o Marcelo Nicácio.

Rossini aponta a maneira como o Gavião do Norte se comportará:

– Temos de ter respeito, manter os pés no chão. E trabalhar para que a gente brigue pelo título.

EQUIPE FARÁ SUA ESTREIA NA COPA VERDE

Manaus-AM 3 x 0 Caxias-RS
Após euforia, foco é dividido com a Copa Verde (Pablo Trindade)

Antes da semifinal da Série D, o Manaus voltará suas atenções para outra  competição. A equipe faz sua estreia nesta quinta-feira na Copa Verde,  contra o Sobradinho (DF). O técnico Wellington Fajardo reconhece que a jornada dupla  renderá sacrifícios:

– O Manaus não tem um plantel tão grande para administrar duas competições. São 26 jogadores, com três goleiros.  Mas vamos levar o que temos de melhor e mostrar a força da nossa equipe.

O goleiro Jonathan detalha a relevância da competição:

- Teoricamente, a Copa Verde é menos badalada, mas nos dá uma condição boa financeiramente  também tecnicamente. Entramos nas oitavas da Copa do Brasil e ajuda a mantar a folha salarial da equipe - e, em seguida, apontou a maratona:

- Vão ser quatro jogos decisivos, um atrás do outro, e a Copa Verde está neste meio do caminho. Mas conseguimos nosso primeiro objetivo. Queremos chegar ao título da Série D e vamos sonhar sempre alto. 

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