Gestão Esportiva na Prática: Entre o resultado e a vergonha: O preço dos 3 pontos
As contradições de um futebol que espelha a pressa e os vícios de uma sociedade doente por vitórias rápidas

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O futebol espelha uma sociedade que perdeu a noção do absurdo. Dentro das quatro linhas, pelos 3 pontos, vale o “tudo pode”:
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E tudo isso em nome dos “3 pontos” — a obsessão imediatista que justifica qualquer método. Mas até que preço estamos dispostos a pagar?
O peso dos 3 pontos na construção de heróis e vilões
Primeiro, a destruição de reputações acontece com a naturalidade de um drible: basta um boato, uma reportagem sensacionalista ou um clique precipitado para apagar anos de trajetória. No calor da vitória, inventamos ídolos; no calor da derrota, forjamos vilões. Fora do campo, a dinâmica é idêntica: carreiras políticas, trajetórias corporativas e até relações pessoais sucumbem a narrativas construídas sem responsabilidade.
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Em segundo lugar, as promessas se desfazem num piscar de olhos. Renovações de contrato, planos de gestão e projetos de longo prazo são anunciados em tom triunfal, mas, ao primeiro tropeço, desaparecem no vestiário e os discursos são rasgados. A cultura do instante tornou descartável aquilo que deveria ter sido cultivado com paciência e planejamento.

Terceiro ponto: relativizamos a violência. Permitimos que empurrões, simulações ou até agressões físicas passem batido sob o argumento de emoção do jogo. Aplaudimos quem “joga duro” e fechamos os olhos para quem extrapola o limite — exatamente como, fora do estádio, normalizamos conflitos que ferem direitos básicos.
No quarto item, os prejulgamentos: antecipamos condenações com base em impressões e julgamos pelo primeiro ato, sem dar chance ao contraditório. A lógica do tribunal midiático opera em alta velocidade, transformando uma acusação em sentença antes de qualquer investigação séria.
Por fim, transmutamos mentira em verdade e vice-versa. Pênaltis fantasmas, relatos distorcidos e versões vendidas como incontestáveis mexem no resultado da partida e na percepção do torcedor. A bola rola, mas quem define a história é quem domina a narrativa. Se “o que vale são os 3 pontos”, que esse valor inclua também a responsabilidade por como chegamos lá. Quando aceitarmos o “tudo pode” como normalidade, estaremos comprando a ideia de que resultados imediatos podem se sobrepor a princípios que sustentam um jogo — e uma sociedade — saudáveis. Qual será o preço que pagaremos amanhã?
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