Gestão Esportiva na Prática: Futebol em 2 km – A jornada de Pedro e o valor do instinto
No jogo das métricas, o oportunismo ainda vale ouro

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Na semana passada, a análise fria de uma corrida acendeu uma fogueira no Flamengo. Filipe Luís, técnico do clube, foi direto na coletiva após a vitória sobre o São Paulo - como é do seu perfil: Pedro precisava entregar mais. E apresentou dados para sustentar sua visão - quilometragem, intensidade, comprometimento.
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Foi o suficiente para instaurar o tribunal público do “caso” Pedro. Em vez de conversas no vestiário, vieram julgamentos na mídia, debates nas redes e vaias no Maracanã. Como se o esforço de um atleta pudesse ser traduzido apenas por satélites e sensores. Como se o futebol fosse uma ciência exata.
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Pedro respondeu. Se posicionou. Conversou com seus companheiros. E, sobretudo, se apoiou na sua fé.
Dias depois, o Flamengo foi derrotado pelo Santos. Pedro, condenado. Filipe, criticado. E no meio do caos, ainda apareceu Neymar - não o craque, mas o amigo - para abraçar Filipe, como quem diz: “Você não está sozinho”. Mais uma chuva de críticas e julgamentos. Filipe já estava sendo levado de prodígio a treinador que ainda não tirou as chuteiras.
No domingo seguinte, o Flamengo enfrentaria o Fluminense. Um clássico que carregava mais do que rivalidade: era o primeiro Fla x Flu, após um Mundial frustrante - onde seu rival regional ficou à sua frente no torneio. O ambiente estava pesado. Pedro foi novamente relacionado para o banco de reservas. Cenário pronto para vaias, novos julgamentos e tensão à flor da pele rubro-negra.
Daí entra em cena o futebol, esse dramaturgo genial, que adora reviravoltas. E coube a ele, Pedro, mudar o roteiro. Recebeu do treinador 20 minutos, deve ter percorrido cerca de 2 km - número tímido para os vigilantes do GPS -, mas o suficiente para estar no lugar certo, na hora certa. Escanteio. Desvio. Instinto. Gol.
Gol de centroavante. Estilo Romário. Gol de quem transforma pouco em tudo. A bola veio quadrada sete dias antes, o contexto era torto, mas Pedro, com técnica e fé, dominou a jogada e colocou ela para dentro. Vitória para o Flamengo e, em uma semana que tinha todos os ingredientes para terminar com um gosto amargo para o clube da Gávea, a bola saiu dos pés de Pedro direto para as redes, e para o treinador e diretoria do clube, redonda e com três pontos na bagagem.
Mais uma aula do futebol
Enquanto discutirmos somente os dados, seguiremos esquecendo do invisível. Da alma. Da coragem de acreditar quando ninguém mais acredita. No mundo dos algoritmos, o imponderável ainda dita o placar. Os números seguirão importantes. A sensibilidade e a visão sistêmica de quem trabalha no futebol, seguirão fundamentais.
Obrigado, futebol. Por ser maior do que as planilhas. E por nos lembrar, sempre, que o essencial, ainda escapa dos radares e segue sendo invisível aos olhos.

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Felipe Ximenes escreve sua coluna no Lance! todas as quartas-feiras. Confira outras postagens do colunista:
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