Farpas, broncas, jogaços: perto de nova final, Atlético-MG e Flamengo veem rivalidade ficar mais acalorada
LANCE! relembra conflitos nos bastidores e ouve ex-atletas sobre capítulos que até hoje rendem discussão entre as torcidas dos finalistas da Supercopa do Brasil
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Os bastidores da disputa do título da Supercopa do Brasil de 2022 acirraram ainda mais os ânimos de Atlético-MG e Flamengo para o confronto de domingo (20). Houve impasse e mudanças de estádio até a definição de que a Arena Pantanal seria o palco do jogo. As trocas de farpas entre diretorias e muita discussão, contudo, não são incomuns em um clássico interestadual com chama que voltou a acender.
UM 2021 COM MUITA DISCÓRDIA
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O ano passado foi permeado por atritos e trocas de farpas entre os clubes. O vice-presidente do Flamengo, Rodrigo Dunshee, utilizou uma rede social para pedir perda de mando de campo e punição severa ao Atlético-MG e ao estafe do Galo. Na súmula, foi relatado que o diretor de futebol do clube mineiro, Rodrigo Caetano, "desferiu socos e chutes na cabine do VAR" durante a partida com o Santos. O Atlético rebateu as acusações.
O jogo entre Flamengo e Atletico, no Maracanã, foi precedido por outro imbróglio: o Rubro-Negro não disponibilizou a carga de 10% dos ingressos aos torcedores visitantes. O Galo afirmou que o pedido foi feito com antecedência, mas a diretoria da equipe rubro-negra não liberou. O caso foi parar no STJD. A partida foi vencida por 1 a 0 pelo Flamengo.
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FINAL DE 1980, ATO 1: RISPIDEZ E BRONCAS COM ARBITRAGEM
A tensão começou a rondar o embate entre Atlético-MG e Flamengo logo na primeira partida da decisão do Campeonato Brasileiro de 1980. Ao LANCE!, o meia Andrade recorda que a magnitude das equipes na época tornava a disputa ainda mais forte.
- Tinham vários jogadores da Seleção Brasileira nos dois lados. Além da nossa geração ser fantástica, ter o Zico, Nunes, Junior, do outro lado tinham João Leite, Luisinho, Cerezo, Paulo Isidoro, Reinaldo... Com isto, eram sempre jogos muito duros, difíceis, equilibrados, daqueles que não se pode cometer erros. Tanto que os placares em geral eram apertados - disse.
O goleiro João Leite recordou a geração que marcou época entre a Massa.
- Tínhamos um grande time, com Paulo Isidoro, Pedrinho Gaúcho, Osmar, Jorge Valença, Chicão, Reinaldo, Palhinha, Éder... Quando enfentávamos o Flamengo, a gente revia colegas que só encontrávamos quando íamos para a Seleção Brasileira. Era muito marcante isso - afirmou.
No jogo de ida da decisão de 1980, Reinaldo aproveitou uma hesitação de Junior e abriu o placar para os mineiros. Contudo, a reta final do confronto foi bastante turbulenta.
O zagueiro rubro-negro Rondinelli foi atingido no maxilar e saiu carregado de campo. O "Deus da Raça" recordou as marcas.
- O jogo estava acontecendo, fui para uma jogada na área e, de repente, veio do nada o Palhinha e, sem bola, me deu um soco. Foi um gesto de agressividade, premeditado. Depois disso eu desmaiei. Graças a Deus fui tirado de campo rapidamente e operado. Esse soco me fez perder a audição. São coisas que acontecem - disse.
O atacante atleticano Palhinha descartou qualquer desavança com o defensor.
- Não, nenhuma, rivalidade só dentro de campo - afirmou.
O goleiro do Atlético-MG, João Leite, contestou a postura da arbitragem de Romualdo Arppi Filho (que, mais tarde, apitou a final da Copa do Mundo de 1986, entre Argentina e Alemanha).
- A gente definia o Romualdo como "juiz de futsal", aquele apita falta o tempo todo e "amarra" o jogo. Conseguimos sair com o placar de 1 a 0, mas estávamos jogando muito bem e sabíamos o quanto ia ser difícil o jogo de volta no Maracanã. A nossa vantagem era muito pequena e, no outro lado, também tinham jogadores de nível de Seleção... - ponderou.
FINAL DE 1980, ATO 2: FLAMENGO CAMPEÃO E NOVAS POLÊMICAS
O jogo decisivo do Campeonato Brasileiro foi repleto de emoções e algumas doses de reclamação. O Flamengo saiu na frente com Nunes e, logo depois, Reinaldo igualou. Ainda no fim do primeiro tempo, Zico pôs os rubro-negros novamente na frente. Reinaldo marcou pela segunda vez mas, na reta final, Nunes se desvencilhou da marcação e honrou o apelido de "Artilheiro das Decisões" ao fazer o 3 a 2 que se tornaria o gol do título.
Escalado entre os titulares do Rubro-Negro, o ponta Júlio César destaca a dimensão que foi a conquista para o clube naquele momento.
- O Campeonato Carioca mais extenso, tinha um impacto muito grande. Mas aquela geração que tinha Zico, Andrade, Junior, foi muito especial para quem viveu e conquistar o Brasileiro foi sensacional - disse.
Ao se lembrar dos confrontos com o Galo, o "Uri Geller" reconheceu que o tom subia em campo.
- Eram dois times muito fortes. Do outro lado, tinham Cerezo, Isidoro, Palhinha, Reinaldo... Agora, ai, o "couro comia"! O meu tornozelo tem lembrança das entradas do Chicão (ex-volante atleticano). Mas são marcas da vida, valeram a pena - constatou.
Os últimos minutos também foram de nervos à flor da pele. Reinaldo, Palhinha e Chicão foram expulsos.
- O (árbitro da partida, José de Assis) Aragão foi para o jogo no Maracanã sentindo muito a pressão de apitar a decisão. Foram muitas alternativas, estádio bem cheio, o Atlético lutou até onde pôde, mas não deu. A diretoria do clube tinha muita fragilidade quando se tratava da escala dos árbitros - disse João Leite.
LIBERTADORES DE 1981: O JOGO QUE TEIMA EM 'NÃO ACABAR'
A Copa Libertadores de 1981 abriga o capítulo mais discutido da história do confronto. Devido à campanha equilibrada que fizeram no Grupo 3 (incluindo dois duelos empatados em 2 a 2), Flamengo e Atlético-MG tiveram de realizar um jogo-desempate no Serra Dourada para decretar qual seria a equipe classificada para a fase semifinal.
Só que o desfecho foi conhecido após pouco mais de 30 minutos. O árbitro José Roberto Wright (carioca, mas que à época era árbitro da Federação Catarinense de Futebol) expulsou cinco jogadores do Galo e a vaga ficou com o Rubro-Negro.
Passados cerca de 40 anos, o lamento com a partida permanece. O ex-atacante do Atlético, Palhinha, afirmou.
- Fiquei chateado pois foi um título que corri atrás. O Wright expulsou o Reinaldo à toa. Logo depois, deu vermelho para o Éder. Cheguei para ele e disse: "quer dar a vitória para eles? Então me expulsa também!" Depois que eu fui expulso, ficamos com o oito, vieram as outras expulsões (Chicão e Osmar). O Flamengo tinha um ótimo time, a arbitragem não precisava prejudicar a gente dessa maneira - disse.
Presente naquela partida, o rubro-negro Andrade também criticou a forma como tudo transcorreu no Serra Dourada.
- Tinha tudo para ser um ótimo jogo, de um futebol de alto nível, mas acabaram criando uma coisa desnecessária. Ninguém esperava que um jogador viesse por trás e desse uma "banda" no Zico logo no início da partida - disse, em referência ao lance que culminou no cartão vermelho para Reinaldo.
João Leite não poupou críticas à condução da arbitragem de Wright.
- Foi uma situação completamente anormal. Era um jogo organizado pela Conmebol, entre um time mineiro e um carioca. Tinham de escalar um árbitro peruano, argentino, paulista, gaúcho... Além disto, o Wright estava no mesmo avião que levou o Flamengo para Goiânia. Como aceitar uma coisa dessas? - e desabafou:
- Logo no início, perdemos o Reinaldo, que já tinha sido expulso em 1980. Depois, a expulsão dos cinco jogadores, acaba com o sonho de um grupo todo conquistar a Libertadores. Ficamos muito revoltados, nosso sentimento foi de desemparo. Não consigo rever aquele jogo até hoje. Foi realmente desagradável. Nenhum dos times precisava daquilo - finalizou.
COPA UNIÃO: 'DUELO À PARTE' ENTRE RENATO GAÚCHO E TELÊ SANTANA
Anos depois, a Copa União trouxe um ingrediente curioso para a semifinal entre as duas equipes. Comandado por Telê Santana (técnico do título brasileiro de 1971), o Atlético-MG encararia em 1987 um Flamengo que tinha entre seus destaques Renato Gaúcho. O atacante tinha sido cortado da Seleção Brasileira por Telê da Copa do Mundo de 1986.
O lateral-esquerdo do Atlético, Paulo Roberto Prestes, contou que o Galo vinha com um misto de sentimentos para os confrontos com o Rubro-Negro.
- A gente passou pelas duas fases como líderes e invictos. O Atlético passava por uma renovação de jogadores, subiram alguns atletas para a equipe profissional. Mas a pressão do time não vencer o Brasileiro desde 1971 era muito grande e veio para a gente também - declarou, ressaltando:
- Tínhamos jogadores muito bons. Renato Morungaba, o Sérgio Arújo, Chiquinho... Um time muito forte. Os dois jogos foram épicos - completou.
O meia Andrade contou como estava o empenho do Rubro-Negro, em especial de Renato Gaúcho prestes a enfrentar a semifinal.
- Soube que, na época, o Renato ficou um pouco magoado com o Telê com a situação de não ter disputado a Copa. E teve essa coincidência desse encontro na semifinal - afirmou Andrade.
O "Tromba" relembrou que, para 1987, o Flamengo também passava por uma transição de gerações.
- Só Zico, eu e Leandro tínhamos feito parte do time do início da década de 1980. Vinham Zé Carlos, Jorginho, Leonardo, Bebeto, Renato... Já o Atlético tinha uma equipe muito jovem, fez uma ótima campanha no início. Foram dois jogos dificílimos - recordou.
O lateral Leandro (que também não foi para o Mundial de 1986 em soliariedade a Renato Gaúcho) atuava como zagueiro no Rubro-Negro.
No Maracanã, o Flamengo saiu na frente com gol de Bebeto. No jogo de volta, o Rubro-Negro também saiu na frente, mas o duelo ganhou contornos dramáticos.
- A partida tinha sido equilibrada no Maracanã. E, no Mineirão, abrimos 2 a 0 no primeiro tempo (com Zico e Bebeto), mas podíamos ter saído com quatro, cinco gols de vantagem. Na volta do intervalo, em poucos minutos, eles empataram (gols de Chiquinho e Sérgio Araújo) e com o Mineirão lotado, o Atlético veio com tudo. Só que, no contra-ataque, o Renato Gaúcho foi muito feliz e mandou a bola na saída do goleiro - detalhou Andrade.
Paulo Roberto Prestes falou sobre a frustração atleticana em torno do jogo.
- A gente foi muito bem nos primeiros turnos, criou-se uma expectativa gigantesco. Mas são coisas do regulamento. Sabíamos que o Flamengo era um time forte e um descuido podia ser fatal - disse.
Posteriormente, o Rubro-Negro foi campeão ao levar a melhor sobre o Internacional.
PROJEÇÃO PARA A DECISÃO DA SUPERCOPA DO BRASIL
Ex-jogadores de Atlético-MG e Flamengo não escondem a expectativa por um jogo capaz de marcar época. As duas equipes são vistas como as melhores do país no momento.
- Acredito que será um jogo muito bom. Atlético e Flamengo não sabem jogar de maneira recuada. Vão para frente, têm elenco e condições para fazerem diferença. Quem estiver mais adaptado, equilibrado também no aspecto físico, levará a melhor. Este elenco do Galo tem uma vantagem de estar leve emocionalmente: a equipe conquistou nos últimos anos títulos do Brasileiro, da Copa do Brasil, já conquistou uma Libertadores. Nós tínhamos um jejum nas costas - afirmou o ex-lateral atleticano Paulo Roberto Prestes.
O ex-zagueiro rubro-negro Rondinelli foi taxativo.
- São duas grandes equipes e indiscutíveis em busca de um novo nível de afirmação. O Paulo Sousa tenta comprovar que tem o elenco do Flamengo na sua mão, enquanto o Atlético-MG quer ratificar sua melhor fase após 51 anos de espera por um título brasileiro - disse.
Ex-goleiro do Atlético-MG, João Leite traçou suas perspectivas.
- O Flamengo vem com um time de peso, com muitos destaques e o Atlético está em um momento bom. Porém, os times têm pouca rodagem. Eles estão em inicio de temporada, sem suas melhores formas físicas. Esperamos que o bom futebol prevaleça em campo - declarou.
Um dos jogadores marcantes do Flamengo, Julio Cesar Uri Geller não se poupa a dizer.
- Esta rivalidade é uma das maiores do Brasil. E estou acreditando no Flamengo, isso é um jogo digno de final. Só não vou botar caneleira para jogar, mas estou na torcida - brincou.
Atlético-MG e Flamengo moverão paixões.
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