E(L!)eição RJ – Marcia Tiburi: ‘Tratar o Maracanã como bem popular’

Candidata ao Governo do Rio pelo PT, ela quer colocar o Complexo Maracanã no centro de uma discussão popular e integrar o esporte com diversas áreas da gestão

Marcia Tiburi é candidata ao Governo do Rio pelo PT
Marcia Tiburi é candidata ao Governo do Rio pelo Partido dos Trabalhadores (Alexandre Araújo)

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Graduada em Filosofia, Marcia Tiburi afirmou ser urgente que cidadãos se envolvam na política para mudar o atual cenário pelo qual o país passa e, por isso, aceitou ser candidata. Postulante ao cargo de governadora pelo PT (Partido dos Trabalhadores), ela quer colocar o rumo do Maracanã em discussão com a sociedade, mas ressalta que acredita que o Estado deveria administrá-lo até para devolvê-lo ao povo. Além disso, quer administrar o Complexo de maneira mais aberta.

Marcia pensa em integrar diversas áreas do governo do Rio e aponta que esporte, segurança e economia andam lado a lado, porém, não se pode pensar na prática esportiva apenas como mercado ou espetáculo.

A candidata atendeu ao LANCE! para discutir o papel que o esporte pode ter em uma possível gestão.  

LANCE! - Por que se candidatar?

Marcia Tiburi: No meu ponto de vista é absolutamente urgente que as pessoas que não se envolvem com política, passem a fazer parte dela. Essa movimentação implica em uma responsabilização das cidadãs e dos cidadãos pela política no nosso país. O movimento de desmontagem e destruição da política na história recente, e na história como um todo, não tem favorecido na transformação da vida das pessoas ou dos Estados de um modo geral, em um cenário que é melhor de se viver. Participar da política é participar da transformação social e não podemos nos demitir dessa tarefa, desse dever de cidadania. Para mim, política é dever de cidadania.

"O nome do Maracanã chegou aos mais diversos lugares do mundo. Você fala em Rio de Janeiro, fala em Maracanã, assim como fala do Pão de Açúcar e da Praia de Copacabana. Não podemos esquecer do aspecto simbólico do Maracanã. Do meu ponto de vista, devemos administrar o Maracanã e, com isso, conseguiríamos fazer o que é mais importante, que é devolver o Maracanã ao povo"

Quais os projetos para a gestão do Maracanã?

Em relação ao Maracanã, vamos ter de discutir com a sociedade civil. Porque, hoje, há essa controvérsia: se deve ser administrado por uma gestão pública ou privada. E a minha tendência é pensar que o Maracanã deve ser administrado pelo Estado. Afinal de contas, defendo o fortalecimento do Estado. E o Estado como eixo do desenvolvimento de todo o território. Penso no Estado como uma função principal de que as coisas funcionem, inclusive, o Maracanã. Mas por quê? Porque o Maracanã é um símbolo. O nome do Maracanã chegou aos mais diversos lugares do mundo. Você fala em Rio de Janeiro, fala em Maracanã, assim como fala do Pão de Açúcar e da Praia de Copacabana. Não podemos esquecer do aspecto simbólico do Maracanã. Do meu ponto de vista, devemos administrar o Maracanã e, com isso, conseguiríamos fazer o que é mais importante, que é devolver o Maracanã ao povo. Falo em devolver o Maracanã ao povo e em devolver o Estado também. O Estado, atualmente, está sob mãos do poder econômico. Em termos concretos, devemos pensar o Maracanã não só como um estádio e complexo, em todo o sistema de esporte que transita ali, mas em algo que a população espera, como o ingresso barato. Eu não penso que deva ter de recriar a "Geral". Se as pessoas quiserem muito uma "Geral", damos um jeito, mas o Maracanã está todo confortável. Por que os ingressos não podem ser baratos, embora o Maracanã seja confortável e bonito? Não preferimos uma "Geral", preferimos conforto e a preços acessíveis. Tratar o Maracanã como bem popular.

E para o Célio de Barros e o Júlio Delamare?

É preciso revitalizar todos esses estádios e fazer com que o Maracanã, neste sentido do complexo, seja bem utilizado pelas pessoas. Para isso, precisamos repensar o que seria administrar o Maracanã de maneira aberta. Abrí-los para as instituições, criar programas que envolvam as escolas e torne transversal esse aparelho dos esportes junto aos aparelhos escolares. Pensar como os jovens, as crianças, os cidadãos podem usar esse complexo. Mas, também, como podemos gerar mais dinheiro para este complexo? Promovendo grandes eventos, feiras, campeonatos internacionais... Juntar o Maracanã a programas de turismo. Essa é um das potencialidades do Rio, então, é preciso integrar o Maracanã em um projeto de transformação da capital do Rio em capital mundial dos esportes. Transformar o Rio nesta capital do turismo, que, ao mesmo tempo, é capital do turismo esportivo, e fazer com que esse complexo seja fator de desenvolvimento econômico, gerador de emprego. Por isso, me interessa em pensar em uma empresa do Estado.

Quanto à Aldeia Maracanã, algo especial?

Em relação a isso, vamos ter de pensar muito porque ela foi destituída do lugar dela, foi desmontada, desapareceu e vamos ter de dar um novo símbolo, revitalizá-la. Hoje em dia, ela é uma ferida no contexto deste complexo. Ela foi maltratada. O que podemos fazer com isso? Por enquanto, pensamos em ouvir a população pra ver como as pessoas entendem. O complexo todo do Maracanã, eu não sairia dizendo "Ah, vou fazer isso", eu diria "Vamos parar para pensar. Chamar a população do bairro, a população da cidade e escutar as pessoas que são envolvidas nos vários âmbitos dos esportes". Acho que precisamos tratar sempre de maneira muito participativa e discutir muito com as pessoas o que vamos fazer. Não acredito em um governo de soluções que venham, simplesmente, de cima para baixo. Se não, bastaria eleger a pessoa que viesse com as soluções mágicas, as mais fantásticas. Pensamos em um governo que seja racional, razoável, com bom senso, com cuidado, atenção, construído na escuta com as pessoas. E existem assuntos delicados. A Aldeia Maracanã é um desses muitos assuntos delicados.

"O governo federal atual é um governo que se instaurou a partir de um golpe, o que torna tudo impossível. O objetivo desse golpe não era melhorar a vida da população, muito menos a vida dos Estados, muito menos a economia e a situação fiscal. Então, com que governo negociaríamos? Temos de lutar pelo Estado do Rio de Janeiro"

No início, não havia a previsão de o Estado fizesse a gestão das arenas do legado da Rio-2016, mas, de alguma forma, pode se envolver?

Uma coisa é pensar que o Governo Federal, a partir de 1º de janeiro de 2019, será um governo de esquerda e com o qual será fácil negociar. O governo federal atual é um governo que se instaurou a partir de um golpe, o que torna tudo impossível. O objetivo desse golpe não era melhorar a vida da população, muito menos a vida dos Estados, muito menos a economia e a situação fiscal. Então, com que governo negociaríamos? Temos de lutar pelo Estado do Rio de Janeiro. Vamos brigar pelo nosso Estado e tudo aquilo que achamos importante. Minha tendência é lutar também pelo complexo esportivo, porque o complexo esportivo precisa ser visto como um fator de desenvolvimento do Estado e o meu compromisso é com o desenvolvimento do Estado. Seja que setor for, se puder trazer para dentro do nosso programa, trarei. O complexo do esporte, com saúde, educação, precisam funcionar juntos. E tem outro aspecto importante aqui no Rio que é a segurança. Quando se tem o pensamento do fortalecimento do esporte, junto com educação e saúde, como gerador de emprego, é fantástico imaginar que o esporte pode livrar os jovens do caminho infeliz que é o da criminalidade. Acho que podemos investir sim! Não acredito em nenhum tipo de economia estatal baseada na austeridade. A tendência é que, quanto mais investimento, a economia se aqueça.

Há algum projeto específico em relação ao Gepe (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios)?

Temos um projeto para a polícia, mas o conceito básico do nosso governo é integração. Vamos integrar as áreas e tentar criar soluções para problemas a partir de uma metodologia de integração. Quando falo de integração, falo de juntar áreas, saberes. Falo em criar um programa para incentivar o esporte nas escolas, que funcione com o campo da saúde, mas precisamos promover essa integração, fazer com que as áreas funcionem em nexo. No caso, a segurança também. Precisamos trazer a polícia para perto. A nossa polícia vai ser ser uma polícia que vai ter uma função, que será mostrar a presença cuidadora, protetora e cuidadosa do Estado na vida das pessoas. Uma polícia que ajuda, protege e respeita. Para que a polícia possa fazer isso, ela também precisa ser respeitada. Então, esperamos construir para as polícias vários programas que valorizem o funcionário público, que é o policial, para que ele possa atuar em uma região, na rua ou no estádio de maneira a tornar o dia a dia das pessoas, a diversão e o trabalho agradáveis. Outra expressão que faz parte do nosso governo é "qualidade de vida". O esporte melhora a qualidade de vida das pessoas. E em que sentido a polícia pode ser menos violência e mais qualidade de vida? Para isso, precisamos fazer com que a polícia tenha um espaço maior e mais cuidadoso, e formação melhor.

A Secretaria tem alguns projetos em parceria com os grandes clubes. Como enxerga isso?

Precisamos fomentar programas que possam ser realizados no contexto das comunidades, das favelas e dos bairros. O esporte tem de ser fomentado a partir de políticas para as periferias, desde a criação de uma quadra até competições. É preciso que o Estado participe fomentando grandes eventos esportivos. Trazer para cá os grandes eventos, as grandes feiras, mas também fazer com que, nas comunidades, onde as pessoas têm a vida cotidiana, que o esporte esteja presente a partir de condições criadas com equipamentos, quadras, pequenas instalações. Penso que precisamos facilitar os aparelho públicos para que as pessoas tenham acesso às mais diversas práticas esportivas. E a escola é fundamental neste processo. Não só a educação física tem de ser bem cuidada, mas a escola tem de ser também um centro de esporte para as pessoas, precisa ser mais aberta às pessoas. Para isso, precisa de organização. Existem coisas que são muito fáceis de se fazer e que não precisam de grandes investimentos, mas de criarmos a cultura também voltada à prática de esportes. O Rio já tem essa potencialidade, essa vocação para a prática de esportes, basta fomentarmos e ouvirmos os mais diversos especialistas que possam trazer ideia e programas.

Em maio, foi criado o Conselho Estadual do Futebol Masculino e Feminino do Rio de Janeiro (Conefut-RJ). Há algo visando esse conselho?

É uma medida importante. Mas precisamos de um Conselho com real participação e envolvimento dos diferentes setores do do futebol no Estado Rio de Janeiro. Grupos de torcedores e torcedoras, clubes, atletas masculinos e femininos.

Na nossa gestão, queremos que este espaço possa servir para mediar as relações entre as torcidas organizadas e o poder público, visando projetos de prevenção à violência nos estádios do estado.

Temos tido conversas com grupos de torcedores que expuseram o modelo bem sucedido alemão do Fã Projeckt, desenvolvido na Bundesliga, que reduziu muito a violência dentro e fora dos estádios sem aumentar a repressão. O Conselho também deve dar atenção aos clubes formadores, às famílias dos jogadores e jogadoras de base e do interior, aos clubes com menor investimento, e precisará elaborar um Plano Diretor do Maracanã e um Plano de Desenvolvimento do futebol feminino fluminense.

"Se olhar só como mercadoria ou só como espetáculo, vai pensar no setor privado e ele que se vire com os esportes. (...) A tarefa do Estado é transformar o esporte em direito e criar uma cultura do esporte que beneficie a vida dos jovens, das crianças, das comunidades carentes, das favelas..."

E em relação aos projetos socioesportivos junto à Suderj, o que se é imaginado?

Se virmos o esporte não como mercado ou simples espetáculo e passarmos a ver o esporte como fator de inclusão social, também muda as políticas. Se olhar só como mercadoria ou só como espetáculo, vai pensar no setor privado e ele que se vire com os esportes. Que o setor privado tome posse dos esportes e resolva o que desejar em relação a ele. É claro que, na nossa perspectiva, essa liberdade está dada, não há nenhum problema em relação a isso, mas a população mais carente, mais necessitada não tem como fazer uso nem dos equipamentos e nem pelas estruturas criadas por aqueles que tratam o esporte como mercadoria.

Então, a tarefa do Estado é transformar o esporte em direito e criar uma cultura do esporte que beneficie a vida dos jovens, das crianças, das comunidades carentes, das favelas... Enfim, dos territórios que hoje são maltratados por um sistema de segurança, que também foi transformado em mercadoria. E tudo que se transforma em mercadoria, piora a vida das pessoas. Precisamos resgatar uma sociedade de direitos e um governo que promove direitos. Isso, ao meu ver, é um governo democrático.

A Secretaria tem parcerias com outras Secretarias que não estão ligadas diretamente ao esporte, como a com o Novo Degase e o programa Novo Plano Juventude Viva. Como enxerga o papel do esporte como oportunidade de uma melhora de vida?

Precisamos também casar a compreensão que temos dos esportes, do lazer, da cultura e do emprego, com a questão da segurança. De nada adianta instalar um complexo maravilhoso no meio de uma comunidade sem que essa comunidade esteja amparada também pela inteligência da polícia que desmantela milícias e outras formas de violência nos mais diversos lugares. É preciso uma atuação conjunta com projetos que possam cuidar das pessoas, mas cuidar de uma maneira integral, dando a elas também condições de ocuparem esses aparelhos que possam existir. Outra palavra muito importante para o nosso programa de governo é "acesso". Precisamos tornar acessível. Hoje, o Rio padece sob tiroteios, violência, mortes, intervenção militar. Tem lugares que não é capaz nem sequer de sair para fazer uso da quadra. Facilitar o acesso. Melhorar condição de segurança, transporte, dos empregos para que as pessoas possam também ter lazer. Transformar o esporte em fator de desenvolvimento econômico, e aí cria-se um ciclo virtuoso na economia e qualidade de vida.

Bate-bola com a candidata Marcia Tiburi:

Pratica ou praticou algum esporte?

Nunca na minha vida (risos). Não sou boa com isso, não. Mas filosofia é um esporte radical, isso eu garanto.

Ídolo no esporte
A Marta! Marta é o suprassumo do futebol.

Lembrança que tenha ligação com esporte
Tenho uma lembrança terrível. Pode ser algo meio baixo astral? O 7 a 1 na Copa de 2014. Lembro muito bem daquele jogo.

Time do coração
Aqui no Rio, sou Botafogo.

Quem é:
Nome completo: Marcia Angelita Tiburi (PT)
Vice: Leonardo Giordano (PC do B)
Data de nascimento: 06/04/1970
Coligação: Frente Popular - PT / PC do B
Ocupação: Professora de Ensino Superior
Valor em bens declarados: R$711.000,00

*Nesta terça-feira, acompanhe a entrevista com o candidato Pedro Fernandes, do PDT

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