Clubes de São Paulo que dependem do estadual relatam dura realidade: ‘O segundo semestre é cruel’

Conheça a realidade de times que necessitam do Campeonato Paulista para a temporada

Montagem - São Caetano e Portuguesa Santista
Azulão e Briosa jogam a A2 do Paulistão (Fotos: Divulgação/São Caetano; Fabrizio Neitzke/Portuguesa Santista)

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A cada ano que passa, a possibilidade de extinção dos estaduais é lembrada e até pedida por parte dos torcedores - e também da imprensa - de futebol. Alguns defendem a medida por problemas de calendário, outros alegam que a competição perdeu a relevância, e ainda há quem proponha a criação de mais divisões do Campeonato Brasileiro. Porém, a competição ainda é vital para uma parcela significativa dos clubes.


No Brasil, existem mais de 650 times profissionais e, apenas 124 participam das divisões nacionais, entre as séries A, B, C e D. Envolvendo os clubes paulistas que disputam a A1 e A2, 50% dos 32 clubes participantes não estão presentes em uma das quatro divisões do Brasileirão, ou seja, grande parte das equipes têm o estadual como principal, ou única, competição do ano.

Leandro, goleiro que disputou a série A2 do Campeonato Paulista pela Portuguesa Santista, contou em entrevista ao LANCE!, qual o impacto do torneio na temporada do elenco profissional.

"O segundo semestre é cruel, porque o número de clubes que continuam em atividade é muito menor do que no primeiro semestre"

- No estadual, o clube recebe uma cota da Federação, direito de televisão e, naturalmente, pela visibilidade, os patrocínios são melhores e se tem mais renda de público pela atração de se jogar um Paulistão. Já na Copa Paulista, o clube não conta com esses apoios da Federação e televisão, então, a renda fica muito menor e os gastos são quase os mesmos. Por isso, existe a dificuldade dos clubes no segundo semestre, não só em Copas, mas também nos Brasileiros da séries C e D - explicou o goleiro.

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Leandro irá se transferir por empréstimo para o Anápolis-GO, pois ainda não houve definição se a Briosa irá jogar a Copa Paulista nesta temporada. Não é a primeira vez que o atleta se transfere para outro clube por empréstimo no segundo semestre. Em 2021, o goleiro jogou a outra metade do ano pelo Taubaté. Vice-presidente da Briosa, Emerson Coelho explica esse movimento de parte do elenco:

- É uma questão de estratégia, porque se não for disputar outra competição, não faz muito sentido a gente ficar com elenco inteiro aguardando pro Campeonato Paulista do ano que vem. Normalmente, a Portuguesa mantém alguns atletas, aqueles que são interesses estratégicos para o clube e, se não disputar mais nada, a Portuguesa empresta - refletiu o dirigente.

Quando questionado sobre grupos que pedem o fim dos estaduais, o representante do clube do litoral paulista é enfático ao ressaltar a importância da competição.

"Pra um país do tamanho do Brasil, com o número de estados que tem, população de quase 220 milhões de habitantes, enfraquecer estadual é uma grande burrice"

- O Brasil é um país de dimensões continentais, não há muito como comparar com a Europa. Os campeonatos estaduais são essenciais para o futebol brasileiro respirar, eles são mais importantes, a meu ver, num país de dimensões continentais como o Brasil, do que os Campeonatos Brasileiros. Porque são os estaduais que mantém os clubes em atividade, eles que são celeiros de jogadores - opinou o vice-presidente.

Um clube que já viveu momentos áureos no futebol brasileiro e, hoje, depende bastante do Campeonato Paulista é o São Caetano. Mauricio Reigado, diretor geral do clube, explica a relevância do torneio estadual para o atual momento do Azulão.

- A importância é gigante! É nossa principal competição, nosso carro chefe. Mesmo com a eliminação precoce deste ano, já estamos trabalhando para o ano que vem. Vamos entrar na Copa Paulista para buscar o título, mas o grande objetivo é construir uma base sólida para o Paulistão 2023 - declarou o representante. 

Ao adentrar no campo da realidade financeira e de manutenção do elenco, Mauricio revelou detalhes: -Impossível manter o elenco inteiro por conta da diferença de investimentos e retorno de mídia que as duas competições geram, mas todos os funcionários foram mantidos e a comissão técnica também. Em relação aos jogadores, nós estamos reformulando o grupo e muitos estão já no radar, inclusive com compromissos prévios para o ano que vem-, contou o dirigente.

Atualmente no formato de SAF (Sociedade Anônima de Futebol), o clube aspira voltar ao cenário nacional. No entanto, se engana quem acredita que o time não recebe apoio da torcida neste momento. Enzo Petrone, membro da Organizada Gladiadores, fala que existe apoio da cidade de São Caetano do Sul, mas os torcedores são impactados pela escassez de jogos.

"Quem viveu o São Caetano na época de 2002, que foi finalista da Libertadores, e 2004 campeão paulista, e ver os tempos de hoje... é triste"

- A falta de competições, em relação ao sentimento, nunca vai atrapalhar. Só que é difícil ficar sem ver o clube o semestre inteiro. Por exemplo, neste ano, jogou o Paulista e foi eliminado. Agora, a gente só joga em setembro. O vínculo da cidade com o clube é bastante afetado porque não tem calendário, mas o sentimento de quem gosta e ama o clube verdadeiramente nunca vai acabar - desabafou o torcedor.

Enquanto outras alternativas para a falta de competições não é solucionada, a maioria dos clubes brasileiros tentam se sustentar diante dessa realidade. Os jogadores tentam ganhar visibilidade para alavancar suas carreiras e os torcedores persistem na busca de dias melhores.

* Sob supervisão de Marcio Monteiro

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