Para melhorar salário, time de Uganda dá mototáxis para elenco

Clube pertence à Receita Federal do país e motos foram entregues na semana passada

Uganda Revenue Authority FC (Foto: Divulgação)
Presidente do Uganda Revenue Authority FC, Ali Ssekatawa, entrega moto para jogador  (Foto: Divulgação)

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No início do ano, os jogadores do Uganda Revenue Authority FC receberam a visita de Doris Akol, a comissária da equipe. O título é honorário. É como se fosse presidente de honra. Mas ela tomou a iniciativa e garantiu que se a temporada fosse boa, o clube faria alguma coisa para ajudar financeiramente o elenco.

O URA terminou campeonato nacional na terceira posição. Um bom resultado. Como promessa feita tem de ser cumprida, o presidente Ali Ssekatawa reuniu o elenco na semana passada. Os atletas esfregaram as mãos esperando um cheque gordo. Quando chegaram no campo, havia 17 motos estacionadas.

“O custo de vida tem subido muito no país e os jogadores têm encontrado dificuldades para sobreviver. As motos vão ajudá-los”, explicou Ssekatawa, em entrevista ao LANCE! por telefone.

O presente foi para que eles usem os presentes no cada vez mais crescente mercado dos “bodas bodas” em Uganda. Que aproveitem os veículos para ganhar dinheiro extra como motoristas de mototáxis.

O boda boda é uma febre em Uganda, nação africana com 37,5 milhões de habitantes. As ruas estão infestadas pelas motos que fazem serviço de transporte como alternativa às empresas tradicionais. Os números não são oficiais, mas é a segunda atividade que mais emprega no país. Apenas na capital, Kampala, a estimativa é que existem 120 mil veículos realizando o serviço.

“Sabemos que pagamos um salário para vocês, mas queremos suplementar esta renda. Usem as motos com sabedoria e terão algo para se orgulharem”, afirmou Doris Akol, ao entregar as chaves.

“Nossa intenção é que eles não pilotem as motos. Queremos que coloquem alguém para fazer isso porque há certo risco. Mas confesso que se decidirem pilotar as motos, não há muito o que podemos fazer”, completou o presidente.



O futebol em Uganda é pobre. A seleção nacional nunca participou da Copa do Mundo. O melhor resultado foi o vice-campeonato na Copa Africana de Nações de 1978. A média salarial nas equipes da primeira divisão não passa dos US$ 100 (R$ 375) por mês. A estimativa do clube é que os novos taxistas podem dobrar essa renda no mercado dos bodas bodas.

Além dos jogadores, o técnico Kefa Kisaala também ganhou um veículo.

A medida causou polêmica também fora de Uganda pela dúvida de onde veio o dinheiro para comprar as motos. Uganda Revenue Authority é uma agência encarregada por fiscalizar e coletar impostos no país e é braço poderoso do Ministério da Fazenda e Planejamento Econômico. É como se a Receita Federal no Brasil fundasse um time para jogar no Campeonato Brasileiro da Série A.

A previsão era que para o biênio 2014-2015 a agência arrecadasse US$ 3,2 bilhões em impostos (R$ 12 bilhões). Além do cargo no clube, Doris Akol é executiva da URA desde outubro do ano passado.

“Com esse complemento de renda, tenho certeza de que eles vão tirar essas preocupações da cabeça e jogarem melhor. Não terão mais que pensar tanto em dinheiro”, afirma Ssekatawa.

A Receita Federal do país ainda é um ranço de quando a liga profissional local foi criada, em 1968. Não havia entidades esportivas em número suficiente para sustentar um campeonato. O governo convocou entidades civis para formarem times e tornar a competição viável. Foram criadas equipes pelo exército, pela indústria cafeeira…

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