A ‘nova Venezuela’! Como a seleção mudou seu futebol de patamar

Mudança de mentalidade, valorização das categorias de base e renovação... Após longo trabalho, a 'Vinotinto' comprova que agora pode sonhar com voos mais altos em campo

Bolívia x Venezuela - Comemoração
(Foto: LUIS ACOSTA / AFP)

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A luta por almejar voos mais altos já está no horizonte da Venezuela. Depois de ter obtido pela terceira vez uma classificação à próxima fase da Copa América,  a “Vinotinto” comandada por Rafael Dudamel, colhe os frutos de um longo trabalho para se fortalecer internacionalmente:

– Foi um trabalho que iniciou ainda com Pastoriza (José Omar Pastoriza, técnico da seleção entre 1998 e 2000). Ele fez os jogadores passarem a trabalhar com consciência. E o primeiro resultado veio em 2007, sob o comando de Richard Paez – recorda Miguel Mea Vitali, ex-volante e atual dirigente do Caracas (VEN), ao LANCE!.

Anfitriã na Copa América daquele ano, a “Vinotinto” passou de fase pela primeira vez na história (e na liderança do Grupo A). Técnico do grupo que caiu nas quartas de final para o Uruguai, Paez vê um marco naquela geração:

– Foi um salto exponencial de qualidade. Houve uma transformação na mentalidade dos atletas, que pararam de jogar com medo. Isto foi crucial.

'Jogadores passaram a trabalhar com consciência', diz Miguel Mea Vitali


Além disto, a seleção voltou suas atenções para a base a partir de 2012, com a chegada de Rafael Dudamel. Técnico do sub-17 e do sub-20, ele fortaleceu a ascensão de revelações. Surgiram nomes como Fariñez, Machís e um conhecido dos brasileiros: Soteldo, camisa 10 do Santos.

Em 2011, a Copa América trouxe um resultado melhor: os venezuelanos chegaram às semifinais. O goleiro Vega lembrou a campanha:

– Nós fomos com a meta de ficar entre os quatro e conseguimos. Queríamos avançar em relação à edição anterior.
.
Às vésperas do duelo com a Argentina, as expectativas são altas sobre a atual geração da “Vinotinto”:

- Já temos boa parte dos jogadores no exterior, muitos deles titulares em suas respectivas equipes. Além disto, nesta Copa América foram realizados bons jogos, como nas partidas contra Peru, no próprio empate contra o favorito Brasil e a Bolívia - declara Miguel Mea Vitali.

Aos olhos de Vega, a perspectiva é que o futebol venezuelano se expanda ainda mais:

– A seleção vem mostrando sua cara no futebol internacional. Está progredindo seu trabalho, para chegar ao nível de Brasil, Argentina ou Uruguai. E quem sabe, chegamos à vaga no Mundial.

COMISSÃO TÉCNICA COM UM 'REFORÇO' QUE IMPÕE RESPEITO

Francisco Maturana - assistente técnico da Venezuela
Campeão da Copa América na Colômbia e com vasto currículo, Francisco Maturana hoje é assistente de Dudamel (Divulgação / FVF)

A “Vinotinto” conta com um trunfo de respeito para continuar a construir sua evolução em campo nesta Copa América. Rafael Dudamel tem como assessor técnico Francisco Maturana. “Reforço” para esta edição, o colombiano tem em sua trajetória a conquista da edição do torneio em 2001, com a Colômbia, além de já ter comandado a seleção "cafetera" em duas disputas de Copa do Mundo e uma Copa das Confederações, além ter se sagrado campeão da edição de 2001.

Mesmo já contando com uma vasta experiência e façanhas como ter levado o Atlético Nacional à conquista da Copa Libertadores de 1989, o profissional foge dos holofotes nesta empreitada na Venezuela.

Hoje auxiliar, Maturana faz questão de ressaltar que o protagonista é Dudamel, e esquiva-se de perguntas sobre a seleção “vinotinto”.

Em contato rápido com o LANCE!, o colombiano de 70 anos explicou sua conduta na seleção venezuelana:

– Isto poderia ser visto como uma tentativa de buscar "protagonismo". Só que minha função é apenas contribuir para o treinador e aprendermos juntos. E o protagonista é (Rafael) Dudamel. São meus códigos, por mais obsoletos que pareçam. Não me sentiria à vontade.

REGRA DA FEDERAÇÃO CONTRIBUI PARA SURGIMENTO DE GAROTOS

Bolívia x Venezuela - Comemoração
Ao menos um jogador sub-20 tem de atuar entre os profissionais dos clubes venezuelanos (Foto: DOUGLAS MAGNO / AFP)

Uma medida da Federação Venezuela de Futebol (FVF) favoreceu o surgimento de uma nova safra de jogadores:

– Existe uma exigência de que pelo menos um jogador sub-20 esteja por 90 minutos em campo nos clubes. Acreditamos que isto contribui para o desenvolvimento do jogador. Tanto que nomes como Fariñez, Machís e Soteldo
foram vice-campeões do Mundial Sub-20 em 2017 – detalhou o vice-presidente da FVF, Jesús Berardinelli.

Aos olhos do ex-treinador da Venezuela, Richard Paez, esta regra explica o atual momento dos jogadores:

- Dá um nível de experiência aos jogadores. Eles conseguem ter 30, 40 partidas entre os profissionais. Não é à toa que há menores de 20 anos que já são destaque no nosso futebol.

A EVOLUÇÃO DA VENEZUELA

Bolívia x Venezuela - Comemoração
'Seleção cresceu mesmo em contexto político do país complicado' (Foto: LUIS ACOSTA / AFP)

COM A PALAVRA

'Rafael Dudamel consolidou renovação'

LUIS COTTÉ

Repórter da Rádio La Plata


Rafael Dudamel foi muito importante para consolidar o processo de renovação da seleção venezuelana. Quando comandava as categorias de base, ele mu-
dou o ensinamento dos atletas e mostrou que os resultados de 2007, sob o
comando de Richard Paez, e 2011, com Cesar Farías, não tinham sido em vão.

Vieram resultados expressivos no sub-17 e no sub-20, mesmo em um período político e sócio-econômicos complicados. Em 2015, houve um processo de transição, mas, a partir da Copa América Centenário, Dudamel começou a tomar as rédeas desta nova geração.

O treinador tem a seu favor o fato de contar com jogadores que atuam fora do
país. São o caso de Soteldo e do próprio Rondón.

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