Copa do Mundo: Entenda estratégia do Catar para evitar legado de ‘elefantes brancos’

Especialistas analisam o destino dos estádios após o torneio

Estádio Nacional de Lusail, no Qatar, palco da final da Copa do Mundo de 2022
Lusail Stadium terá a maioria de seus assentos removidos (Foto: GABRIEL BOUYS / AFP)

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Foram construídos oito estádios para a Copa do Mundo no Qatar e, com o encerramento da competição, cada um deles já tem o seu destino traçado. Para evitar os elefantes brancos após o torneio, alguns serão desmontados e outros terão sua capacidade reduzida.

- Este tipo de planejamento é importantíssimo para um desenvolvimento urbano qualificado. Espero que esta se torne uma tendência para outros campeonatos de grande porte. A modernização da construção civil nos permite equilibrar os ambientes urbanos com as necessidades da população. Não adianta realizar um projeto excepcional se ele não terá utilidade a longo prazo - afirmou Tatiana Fasolari, vice-presidente da Fast Engenharia, empresa especializada em overlays.

Responsável pelas estruturas provisórias construídas para ampliar a capacidade de parte dos estádios da Copa do Mundo do Brasil, em 2014, Fasolari tem grande experiência neste tipo de construção. Sua empresa também foi responsável pela construção de arenas para os jogos olímpicos e sul-americanos.

- A grande vantagem é a possibilidade de fazer uma obra limpa, sem a produção de resíduos, e totalmente reaproveitável para outros projetos - afirmou a especialista.

O Estádio 974, cujo nome remete ao número exato de contêneires utilizados em sua construção, está sendo totalmente desmontado desde a última partida, Brasil 4 x 1 Coreia do Sul, em 5 de dezembro. O Comitê Supremo de Entrega e Legado da Copa do Mundo 2022 informou que não há uma data certa para concluir a desmontagem. Até agora, apenas alguns contêineres e parte das instalações do teto foram removidos, já que estão previstos outros eventos na agenda da arena. O destino dos materiais ainda é incerto.

O Lusail, em Al Daayen, palco da final do Mundial, com capacidade para quase 90 mil pessoas, terá a maioria dos assentos removidos e reaproveitados em lojas, cafés, clínicas de saúde e, possivelmente, em uma escola. Já o Internacional Khalifa não deve passar por mudanças. O estádio foi o único que não foi construído do zero para o Mundial. Ele será utilizado pela seleção masculina do Qatar, e também ganhará o status de principal palco do atletismo do país.

Os estádios Al Janoub, Ahmad Bin Ali e Al Thumama terão suas capacidades reduzidas de 40 mil para 20 mil lugares. Além disso, o estádio Al Janoub será utilizado pelo Al-Wakrah, clube da liga do país. O Ahmad Bin Ali receberá jogos do clube catari Al-Rayyan, além de ter campos de críquete, quadras de tênis e outras modalidades. E no Al Thumama será construído uma clínica de medicina esportiva, um centro de pesquisas em inovações energéticas, quadras de ginástica e pista de ciclismo.

Já os estádios Education City e Al Bayt, também terão suas capacidades reduzidas. O Education City passará de 25 mil para 15 mil, se tornando o palco dos jogos da seleção feminina de futebol do Qatar, além de funcionar como um polo esportivo de lazer. O Al Bayt passará de 60 mil para 32 mil espectadores e será usado como hotel cinco estrelas com shopping e um hospital especializado em medicina esportiva.

- As estruturas temporárias existem há muitas décadas, mas sempre para as experiências e ações no entorno das arenas; é interessante demais ter um estádio temporário, e acredito que os gestores estudaram muito para chegarem neste modelo, que pode vir a ser uma tendência dependendo do país que esteja organizando o evento. Vários fatores devem ser analisados junto com a parte financeira, como por exemplo, o investimento para a qualificação e o crescimento do esporte no país - afirma Renê Salviano, da agência Heatmap, que atende empresas que atuam em estádios como Allianz Parque e Mineirão.

Na visão dos especialistas, este tipo de solução para evitar que as estruturas percam utilidade deve se tornar uma tendência nos próximos eventos esportivos maiores. Fernando Patara, cofundador e Head de Inovação do Arena Hub, principal centro de fomento à inovação em esporte, entretenimento e mídia da América Latina, explica por que as construções provisórias trazem inúmeros benefícios.

- Obras desse tipo são extremamente sustentáveis, uma vez que boa parte do material poderá ser reaproveitado. Sem contar que o custo de manutenção do estádio, após o torneio, será bem menor e mais adequado à realidade do país sede. Em eventos temporários, como a Copa do Mundo, essa é uma ótima alternativa. As arenas multiuso, como o Allianz Parque, também são exemplos de projetos mais modernos e que notamos um melhor aproveitamento no uso desses espaços - afirmou Patara.

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