Jefferson ‘traça’ três objetivos até 2018: primeiro é título no Botafogo

Goleiro monta estratégia para vencer o Vasco neste domingo e ser campeão. Até a próxima Copa do Mundo, quer voltar à Seleção Brasileira e ser um dos que mais atuaram pelo Fogão

Jefferson - Botafogo
Candidato a herói na final, Jefferson quer estratégia para vencer Vasco (Foto: Jorge Rodrigues/Eleven/Lancepress!)

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"Com o tempo você aprende a não reclamar". Afastado da Seleção Brasileira e derrotado no primeiro jogo da final do Campeonato Carioca, contra o Vasco, Jefferson, goleiro do Botafogo, não reclama. O veterano de 33 anos aprendeu a aceitar os caminhos tortuosos da vida e a trabalhar para ser melhor. Nem a opção do técnico Dunga de mantê-lo longe da Seleção e nem o gol marcado por Jorge Henrique semana passada tiram do atleta a vontade de fazer algo a mais pelo clube do coração e também pelo país.

Entre os objetivos a cumprir,  o primeiro pode ser selado neste domingo, às 16h: o título estadual no Rio de Janeiro diante do rival Vasco, no Maracanã. O próximo é estar em os três que mais atuam pelo time de General Severiano e um terceiro é vestir a camisa da Seleção em 2018, na Copa do Mundo da Rússia. Ao LANCE!, o goleiro fala como pretende ir passo a passo e sem reclamações rumo às vitórias.

- Quando você tem 20 e poucos anos, tudo parece ser ruim. Aprendi a não reclamar na Turquia. Quando você sai do país, você vê que lá fora é mais difícil ainda. É cultura, alimentação, profissionalismo, cobrança, disciplina... Voltei cobrando mais, mais maduro, sendo o mais profissional possível. Estou mais experiente, mais maduro, todo jogador precisa crescer, precisa evoluir. Voltei com outra cabeça e hoje me envolvo no futebol do clube, sou capitão por tudo que passamos aqui e agora temos que ter uma estratégia, saber ser inteligentes e construir o placar ao longo do jogo - fala o goleiro.

Jefferson defendeu o Botafogo de 2003 a 2005 antes de passar quatro anos no futebol turco. Quando retornou, 'maduro e experiente', em 2009, não sabia que um turbilhão de emoções o aguardava: alcançou de vez a notoriedade na Seleção Brasileira, mas foi ao fundo do poço ao participar da campanha que culminou com o rebaixamento botafoguense à segunda divisão do Campeonato Brasileiro em 2014. Pensou em sair mais uma vez. Ficou.

- Não pelos torcedores e nem jogadores, mas pela situação. Estávamos praticamente desacreditados, sem ambiente algum, sem comando, aquilo ali me frustrou muito, é complicado ver o clube que você ama daquele jeito. Eu praticamente tenho minha vida toda aqui, naquele caos eu até cogitei sair, era o fundo do poço. Mas graças a Deus o presidente Eduardo entrou em 2015 e mudou o ânimo, deu vida nova ao clube, estrutura. Agora estou muito feliz e isso nem passa mais pela minha cabeça - alegra-se.

E é por tal confiança que agora sente ao vestir a camisa do Botafogo que o goleiro acredita ter plenas condições não só de conquistar o título carioca, mas também de ajudar a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2018, mesmo que hoje aparentemente não faça mais parte dos planos de Dunga.

"Nosso elenco é jovem, mas já demonstrou ter força e coragem para vencer. Temos 90 minutos para conseguir o resultado positivo e vencer o Carioca" 

Confira abaixo um bate-papo com o goleiro Jefferson:  

LANCE!: Você acredita que já entrou para a história do Botafogo?

Jefferson: Meu objetivo é fazer história aqui dentro. Isso alimenta o jogador de futebol, quero estar entre os três que mais vestiram a camisa do clube. Porém, sei que não é só isso que faz o cara entrar para a história, é preciso conquistar títulos. Acredito sim, que já estou um pouco na história do Botafogo, e digo isso por ter passado por todos os momentos aqui dentro, rebaixamento, subi da Série B para a Série A do Brasileirão, coisas boas e ruins, acho que isso é que faz uma pessoa ser reconhecida dentro do clube. Minha história dentro do Botafogo é bonita por isso e, claro, antes de me aposentar quero conquistar um grande título.

A começar pelo Carioca neste domingo?
​A gente está muito otimista para esse jogo, sabemos que será uma partida complicada, mas é um título muito importante pelo qual o Botafogo tem que lutar e conquistar com todas suas forças. Sabemos que nosso time tem muitos jogadores jovens no elenco, mas eles já demonstraram em outras ocasiões maturidade para jogar clássicos. Temos 90 minutos para construir um resultado positivo. 

O público da primeira final foi bom, mas ao longo do campeonato o torcedor pouco compareceu. O que aconteceu com o Carioca? O que precisa mudar?
​Na minha opinião, o que poderia mesmo acontecer é dar uma filtrada, são muitos jogos, é complicado para nós. Não que os outros clubes não mereçam, mas acho que tem que separar alguns estádios que vão chamar mais a atenção do torcedor. No Carioca, somos obrigados a jogar em estádios ruins, campos ruins, é preciso separar palcos que têm capacidade para levar torcedores. E isso não é só aqui no Rio de Janeiro, mas é na Copa do Brasil também. Alguns lugares não comportam jogos importantes. São condições precárias, vestiários horríveis e o campo também. Como isso vai atrair o torcedor?

O que deve ser feito?
Muito difícil...Acho que a crítica vale mais para regulamento, não cabe a mim ficar dizendo isso, mas talvez horários melhores... Complicado o torcedor comparecer às 22h, não tem acesso direito, acho que tem que rever isso, rever o preço do ingresso, estamos passando um momento difícil também, ingresso caro afasta.

O Botafogo tem condições de brigar pelo título brasileiro?
Eu vou ser bem sincero, acho que vai chegar um momento da temporada em que vamos ter que priorizar Brasileiro ou Copa do Brasil, os jogadores vão amadurecendo mais durante a competição e isso é realmente necessário para nós, porque eu já vi times que priorizaram a Copa e foram rebaixados porque não tiveram elenco para aguentar a barra, faltou competitividade, então precisamos amadurecer, e sei que os dois não dá para conquistar.

O que Ricardo Gomes tem de diferente em relação aos outros técnicos que passaram pelo clube recentemente?
​Ricardo chegou no Botafogo desacreditado, e nós acolhemos ele aqui. Acho que o Botafogo mais ajudou o Ricardo no começo do que o inverso e hoje as coisas mudaram, agora é o contrário. Ele que ajuda o clube. Está outra pessoa, praticamente apto a fazer todo o trabalho que um treinador faz, ele ficou muito tempo fora, é normal demorar um pouco para as coisas se ajeitarem de fato, está dando cara ao time, eu fico muito feliz por isso.

O quanto a religião te influência dentro de campo?
Para mim, Deus é tudo. A gente não faz oração para ganhar o jogo, fazemos para Deus nos dar força e saúde para executarmos bem nosso trabalho. Quando a gente perde um jogo, fazemos reunião para nos encorajar, trazer uma paz interior aos jogadores, algo tão necessário. Dentro de campo, vamos lutar pelo que é nosso.

"Eu vou ser bem sincero, acho que vai chegar um momento da temporada em que vamos ter que priorizar Brasileiro ou Copa do Brasil" 

Falando sobre Seleção Brasileira, como enxerga as críticas a Dunga?
Muito difícil falar sobre isso, mas vou dizer o que penso. Convivi muito tempo com o Dunga, é um cara transparente, experiente e todo jogador respeita. Mas treinador vive de resultado, acho que daqui a pouco as coisas vão começar a fluir para ele. Críticas sempre vêm e é preciso digerir bem isso.

Ficou chateado da maneira como foi 'afastado'? Quais são suas expectativas em relação ao Brasil?

Ninguém tem cadeira cativa na Seleção e o que resta ao jogador é trabalhar. Você tem que treinar e dar a volta por cima, pouco importa o que o jogador sente. A Seleção tem grandes jogadores e alguns estão de fora e são ótimos, como Thiago Silva, que nem vem sendo convocado, Marcelo, Hulk, é rotatividade... Na carreira, um dos meus principais objetivos ainda é a Seleção. Acho que estarei apto a ajudar o Brasil. Não quero jogar tanto como o Rogério Ceni, mas com 36 ou 37 anos ainda poderei contribuir em 2018.

Acha que o 7 a 1 ainda atrapalha de alguma maneira? O que mudou desde então?
Hoje o 7 a 1 é página virada, a história nunca vai apagar isso, todo jogador de futebol tem que entender isso, mas temos que ser profissionais, infelizmente aconteceu. Hoje, acabou. Os jogadores assimilaram isso, a gente pensa em estar na Copa do Mundo de 2018 com título. E mesmo que o título venha, 2014 não será apagado.

Você se vê como um responsável por ter quebrado um estereótipo sobre goleiros negros que vem desde 1950, com Barbosa?
​Eu pude fazer parte, por um lado, de um momento histórico para a Seleção. Vai demorar muito para a Copa do Mundo voltar a ser aqui no Brasil, recebi muita força naquele momento, a família do Barbosa me procurou, conversamos, agora aquilo ali ficou para trás. O que vale é comprometimento.

Existe uma pressão exacerbada sobre o Neymar? O que tem prejudicado o rendimento dele pelo Brasil?

É muito difícil para o Neymar. Acho que a carga de responsabilidade que jogam em cima dele é complicado pela pouca idade que tem. Ele já conquistou muitas coisas, provou muitas coisas, é o capitão do Brasil, é muita pressão sobre ele, por mais que ele tente mostrar que está tudo bem, ninguém é de ferro e isso acaba refletindo dentro de campo. Com 22 anos, eu não teria a cabeça de hoje, ele precisa estar com pessoas boas ao lado dele. A pressão tem que bater em outro lugar. Minha postura hoje é outra tanto na Seleção como no Botafogo.

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