Sidão ao L!: ‘2016 foi o ano da minha redenção na carreira’

Goleiro supera dramas pessoais e vê carreira renascer no Audax e reafirmar no Botafogo, clube onde pretende ficar. Desafio neste domingo é a Chapecoense

Sidão recebeu a reportagem do L! em casa 
 (foto:Paulo Sergio/LANCE!Press)

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Sidão poderia ser mais um dos inúmeros exemplos de jogadores que tentam sucesso no futebol brasileiro e fracassam. O roteiro de chance desperdiçada, problemas pessoais, instabilidade financeira, tour por clubes de menor expressão e dúvidas quanto ao futuro se encaixariam perfeitamente no perfil do goleiro. Mas ele não desistiu do sonho de menino. E deu a volta por cima.

Hoje, aos 33 anos, teve a sonhada oportunidade em um clube grande. O Botafogo precisava de goleiro para substituir o ídolo Jefferson, lesionado. Encontrou no destaque do Audax no Paulistão muito mais que uma solução momentânea para reagir no Brasileiro.

Em conversa com o L! antes da partida deste domingo, às 16h, contra Chapecoense, na Arena Condá, Sidão fez um balanço da sua vida. Acima de tudo, quer que 2016 seja muito mais que o ano da sua redenção. Planeja o futuro e espera que o casamento com o Botafogo não dure apenas até dezembro, quando termina o empréstimo.

Qual o significado de novamente ter a oportunidade de atuar em um clube de grande expressão como o Botafogo?
É a realização de um grande sonho. Poder atuar em um grande clube e jogando na elite do futebol brasileiro. Sempre falo que para a carreira de um jogador de futebol valer a pena ele precisa passar por um clube de expressão. A oportunidade chegou agora e estou muito feliz com isso.

Os primeiros jogos foram fundamentais para sua afirmação não só para torcida, mas com os próprios companheiros?
Grupo é muito bom. Fiquei até surpreso na chegada, já que pensava ser um pouco difícil de lidar com os caras. Mas a galera é sensacional, me acolheram muito bem e isso foi importante para eu me sentir a vontade.

Desde a sua chegada o Botafogo aumentou seu aproveitamento no Brasileiro e mostra evolução. Você se considera como um dos fatores importantes nesta reação?
Sinto que a confiança mudou desde a minha chegada, mas não posso atribuir isso apenas pela minha entrada no time. Ainda bem que calhou da minha titularidade acontecer justamente no momento onde a equipe cresceu e recuperou a confiança no Brasileiro.

Mesmo em evolução, a defesa do Botafogo ainda segue instável. Quais pontos considera que necessita de um ajuste maior?
O ataque era muito cobrado no início pelos poucos gols marcados, algo que melhorou nas últimas rodadas. Mas a gente ainda sofre gols na defesa. Precisamos ser mais coesos, errar o mínimo possível, uma vez que no Brasileiro os adversários costumam aproveitar bem essa situação nas partidas.

O Botafogo jogou pela primeira vez no Rio de Janeiro na semana passada. Sentiu diferença no seu primeiro contato com a torcida local?

Senti muita mudança nesse quesito. Minha estreia foi em Volta Redonda e agora na Arena é um outro clima. No clássico, com uma situação adversa, a gente viu que ter a Arena faz toda a diferença e acredito que ela vai ser importante para a conquista de pontos preciosos dentro do Brasileiro.

Foi também seu primeiro clássico pelo clube. Aquele gol do Salgueiro te trouxe um alívio pela situação em que o Botafogo se encontrava?
Muito alívio. Quando saiu o gol eu comemorei muito sozinho e senti uma emoção diferente, meus olhos se encheram de lágrimas, pela emoção. Foi algo novo pra mim na carreira, um clássico, uma vez que em São Paulo era sempre um time grande contra pequeno. Desta vez foram dois gigantes. E representar o Botafogo foi muito importante.

Tirou alguma lição do seu primeiro clássico carioca?

Saí bem chateado do clássico com os gols que sofri. Mas depois vi o jogo com calma pela televisão. Foram bolas difíceis, mas na hora achei que poderiam ser defendidas. Ficou de lição acreditar sempre no resultado, valorizar nosso espaço, a nossa casa com o apoio da torcida.

Onde o Botafogo pode chegar neste Campeonato Brasileiro?
O Ricardo tem tocado na tecla de chegar ao final do turno para ficar na parte de cima da tabela e almejar no segundo turno uma Libertadores. Mas para isso a gente precisa ir bem nos próximos jogos.

Dá para conciliar com a Copa do Brasil e pensar em títulos?
Precisamos focar as maiores forças no Brasileiro, mas valorizar muito a Copa do Brasil. Para isso o grupo todo precisa estar preparado, uma vez que o cara que não atua no Brasileiro pode jogar na Copa do Brasil. O Botafogo merece estar disputando títulos e a Copa do Brasil é um grande torneio.

Sidão - Botafogo
Sidão em ação pelo Botafogo (Foto:Vitor Silva/SSPress/Botafogo)

Como é sua relação com o Helton Leite. Teve algum cuidado na sua chegada para não existir algum clima ruim entre vocês?
Estava em São Paulo quando a mídia publicou que o Botafogo estava atrás de mim e que viria para ser titular. Minha preocupação no primeiro momento foi conversar com ele. Quando cheguei no Rio de Janeiro eles foram jogar contra o Atlético-PR e só tive contato com o grupo no retorno. Em um treino falei para ele jogar tranquilo, que era a oportunidade dele, para ficar em paz, pois não tinha essa de vir e jogar de cara. Se no momento ele continuasse bem, eu não teria entrado na equipe titular. Esperei a minha oportunidade e quando apareceu procurei aproveitar.

E o Jefferson? Já imaginou como vai ser quando ele estiver perto do retorno? Continuando nesse ritmo acredita que o Ricardo Gomes pode, inclusive, te manter no time e deixar ele no banco de reservas?
Minha maior preocupação hoje é deixar uma boa opção para o Ricardo, dele poder falar que pode contar comigo tranquilamente quando precisar. Sei o valor e o significado do Jefferson para o clube e a torcida. Hoje estou bem tranquilo com o retorno dele. A cada dia aumento o contato com ele nos treinos. E estou aproveitando ao máximo a minha oportunidade de jogar e mostrar que eu tenho condições de atuar com a camisa do Botafogo. O dia vai chegar, não vai dar para correr. É esperar para ver o que vai acontecer. Estamos ansiosos para ver o Jefferson trabalhando com a gente. Particularmente estou louco para ver o Jefferson atuando.

Seu contrato chega ao fim em dezembro. Gostaria de permanecer no Botafogo mesmo que seja na condição de reserva do Jefferson?
Tenho esperança que o Botafogo queira minha permanência. Espero que tenha a valorização, que eles se interesse e a prioridade é o Botafogo. Não vejo problema em ser banco do Jefferson. Maior sonho é permanecer aqui no clube.

Sidão faz milagre na vitória sobre o Internacional
Sidão teve grande atuação contra o Inter (Foto:REPRODUÇÃO)

No Audax era comum ver o Sidão usando muito os pés. Aqui no Botafogo, não. O Ricardo Gomes fez esse pedido ou é uma filosofia diferente de jogo?
É importante jogar com os pés. As novas gerações certamente vão vir mais preparadas nesse quesito que a minha. Aqui no Botafogo é um método diferente de trabalho, o Ricardo não prioriza isso. Então a gente sempre se adapta à condição que o chefe pede (risos). Sinto um pouco de falta, porque você se sente mais participativo, mas passou.

O seu início de carreira foi no Corinthians, outro clube grande. Mas nessa época você teve problemas fora de campo, como já admitiu. Como foi aquele período? Além do álcool, você chegou a se envolver com drogas também?

Bebia praticamente todos os dias. Foi um período bem complicado. Nessa época minha mãe faleceu e isso me afetou ainda mais. Não tinha cabeça para assumir que precisava de tratamento. Me afundava cada vez mais. Me envolvi com drogas também, mas tinha mais medo de me viciar, até por ver uns caras usando e não queria aquilo para a minha vida. Felizmente coloquei a minha cabeça no lugar e segui em frente.

Até pelo seu próprio exemplo, acredita que falta um acompanhamento melhor dos jogadores jovens aqui no Brasil?
Acho que falta. Vai ter atleta com uma família estruturada, mas outros, sobretudo de periferia, veem no futebol a chance de ajudar a família. Isso até a hora que o dinheiro cai na conta e ele começa a se perder e se deslubrar. Falta um amparo a esses meninos para mostrar que pode curtir sem se perder e se afundar. E o cara tem que querer, se não ele faz besteira.

O Botafogo possui jogadores que estão começando agora. Acredita que se for necessário, vai procurar ajudar com conselhos?
Acho muito importante passar minhas vivências para eles. Até porque eu me lembro de pessoas falando comigo e eu não dava atenção, achava o cara careta, que aquele coroa estava falando besteira. Se eu tivesse escutado algumas pessoas não teria feito tanta besteira. Sempre que eu posso passo a minha experiência para que os garotos não repitam os erros que eu cometi.

Você considera que sua saída do Corinthians aconteceu por não escutar quem quis te ajudar no início de carreira?

Eu desperdicei a oportunidade. Me lembro que ia virado para o treino. Saía na sexta e chegava sábado exalando álcool e isso vai acumulando, os caras vão observando. Consegui ficar de 2001 a 2003 no Corinthians, mas na hora de renovar isso pesou, o pessoal não queria um cara que dava tanto problema e não resolvia dentro de campo. Tem cara que dá problema, mas resolve dentro de campo.

Em algum momento da sua carreira pensou em desistir?
Cheguei a largar a carreira em 2007 ou 2008, muito em função da falta de estabilidade financeira, que eu queria casar, fazia planos como qualquer pessoa. Quando se é jovem acaba se aventurando. Joguei por três clubes do Maranhão. Com o futebol não estava dando.

O que te fez mudar de ideia?
Foi o sonho mesmo, de moleque, de ser jogador de futebol. Por mais difícil que seja o caminho, é algo difícil de arrancar de uma pessoa. O próprio ex-jogador tem ainda aquele sonho de poder voltar a jogar. Poucos conseguem alcançar, mas foi isso que me manteve nesse caminho. Em São Paulo encontrei a estabilidade financeira. Cheguei no Audax em 2012. Era um clube que não pagava muito, mas tudo era em dia. Por isso só quis sair dali só quando valesse a pena.

Considera que o ano de 2016 foi o ano da sua redenção?
Foi. Me lembro que comecei o ano na reserva, pensava que era mais um ano no banco, tenho 33 anos, comecei a imaginar que minha carreira estava para acabar. Na minha cabeça iria encerrar ali no Audax, mas Deus tinha planos maiores para mim. Eu estava no carro, indo ao encontro de um pastor, pensando exatamente nisso. Esse pastor disse que Deus tinha uma coisa para me falar e que minha carreira estava só começando. Então foi algo marcante e após isso as coisas passaram a acontecer. Espero em seis ou sete anos de carreira seguir atuando em um grande clube e em alto nível. Não quero ser o cara que apareceu em 2016 e sumiu no ano seguinte. Quero me firmar como um dos ótimos goleiros do Brasil.

Sidão apresentação (Foto: Felippe Rocha)
Sidão sendo apresentado ao lado de Antônio Lopes (Foto: Felippe Rocha)

O Botafogo possui capítulos importantes da história que aconteceram por conta de superações. Por conta disso e da sua própria história, esse casamento foi certeiro?
Olhando por esse lado bate sim as histórias de superação. É válido a comparação. Sempre faço questão de postar em redes sociais que é uma alegria enorme poder vestir essa camisa e poder defender o clube.

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