Ex-presidente do Vasco, Antônio Soares Calçada morre aos 96 anos

O português foi responsável por comandar o Cruz-Maltino em seu período mais vitorioso. Sob sua gestão, o Vasco conquistou três Brasileiros, uma Libertadores e uma Mercosul

Roberto Dinamite e Antônio Calçada
Calçada ao lado de Roberto Dinamite, em cerimônia de inauguração do ginásio poliesportivo com seu nome (Foto: Divulgação/Vasco)

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Os corações vascaínos ficaram de luto na manhã desta segunda-feira. Um dos dirigentes mais emblemáticos da história do Vasco, Antônio Soares Calçada morreu aos 96 anos, no Rio de Janeiro, vítima de complicações causadas por uma infecção abdominal. 

Além de ser presidente de honra do Cruz-Maltino, Calçada deixa como legado o fato de ter sido o mandatário mais vitorioso do clube. Entre 1983 e 2000 no poder, o clube foi campeão da Copa Libertadores, conquistou três Brasileiros, uma Copa Mercosul e sete Campeonatos Estaduais.

Em seu site oficial, o Vasco soltou uma nota lamentando a morte do ex-presidente. O clube também decretou luto de três dias.

UNIÃO BRASIL-PORTUGAL: O INÍCIO NO VASCO

Nascido na Vila da Feira, no Distrito de Alver, em Portugal em 16 de abril de 1923, Calçada desembarcou em solo brasileiro ainda garoto. Sua ligação com o Vasco teve início em 1942, quando ingressou como sócio do clube. Logo ocupou seu primeiro cargo: tornou-se diretor do departamento de Tênis de Mesa do clube, na administração de Otávio Menezes Póvoa. Além disto, foi vice de futebol nas gestões de mandatários como Cyro Aranha, Manuel Castro Filho, Artur Rodrigues Pires e João Silva.

AS PRIMEIRAS GESTÕES NO CRUZ-MALTINO

Em 1982, Antônio Soares Calçada alcançaria o principal posto no Vasco. Com a chapa "Vasco da Gama", venceria o histórico presidente Agarthyno da Silva Gomes (que teve uma de suas gestões marcadas pelo título brasileiro de 1974) e Eurico Miranda.

No poder a partir de 1983, Calçada manteve Roberto Dinamite como principal jogador do elenco e mesclou um elenco de jovens como Acácio, Donato, Geovani e Mauricinho a experientes que desembarcaram nos primeiros anos, como Roberto Costa, Elói e Daniel González. No ano seguinte, o Cruz-Maltino chegou à decisão do Brasileiro, mas foi derrotado pelo Fluminense.

Em 1985, a equipe não teve bom rendimento na Copa Libertadores. Porém, durante o ano viu o surgimento de um atacante promissor: no amistoso diante do Nova Venécia, Romário marcou seus primeiros gols. No fim do ano, Calçada foi reeleito em pleito contra Eurico Miranda.

AS PRIMEIRAS GERAÇÕES VITORIOSAS

A partir de 1986, Calçada uniu-se com um então adversário político no Vasco: Eurico Miranda passou a ser seu vice de futebol. No ano seguinte, o mandatário saborearia o seu primeiro título no clube. Com um gol de Tita, que fora contratado naquele ano, o Vasco sagrou-se campeão carioca em 1987, batendo o Flamengo por 1 a 0. Comandada por Sebastião Lazaroni, a equipe ainda tinha a dupla Romário e Roberto Dinamite como destaques e contaria com jogadores como Dunga, Mazinho e Paulo Roberto.

O ano de 1988 (no qual voltou a ser reeleito) voltaria a ser de festa na Colina, com a base da equipe campeã do ano anterior. Após uma estreia com revés para o Flamengo, o Cruz-Maltino teve mais uma grande campanha no Carioca. Além de vencer dois dos três turnos, a equipe foi novamente campeã sobre o Rubro-Negro, com direito ao célebre gol de Cocada. Naquele ano, o Vasco ainda fez uma "quina": emplacou cinco vitórias seguidas sobre o maior rival.

O PRIMEIRO TÍTULO BRASILEIRO E MAIS ESTADUAIS

Em 1989, Calçada, ao lado de Eurico Miranda, "atiçariam" a rivalidade entre Vasco e Flamengo. Aproveitando que Bebeto estava com sua situação contratual indefinida com o Rubro-Negro, o clube fez uma negociação cautelosa e conseguiu que o craque fosse para São Januário.

Com Bebeto como referência e artilheiro, a repatriação de Tita e contratações como Luiz Carlos Winck, Quiñonez, Zé do Carmo e Marco Antônio Boiadeiro, o Vasco sagrou-se campeão brasileiro. No Morumbi, coube a Sorato garantir a conquista com o gol da vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, consagrando também jovens como Bismarck e William.

Depois desta conquista, o dirigente (que em 1991 venceu nova eleição) voltaria a ver o Vasco campeão em 1992, meses após a equipe ver o título brasileiro escapar por tropeços na fase final. Em um Estadual com Maracanã interditado, o Gigante da Colina, que tinha Roberto Dinamite em seu último ano na carreira, as revelações Edmundo, Valdir, Leandro Ávila e Carlos Germano e nomes como Bismarck, Luisinho, Jorge Luís e William, foi campeã invicta em dois turnos. No jogo do título, Valdir garantiu a vitória por 1 a 0 sobre o Bangu.

Mesmo perdendo Roberto Dinamite, Edmundo e Luiz Carlos Winck, o Cruz-Maltino alcançou o bicampeonato carioca no ano seguinte. Com Valdir como co-artilheiro (com 19 gols, ao lado de Ézio, do Fluminense) e a afirmação de nomes como Pimentel, Gian e Yan, a equipe sagrou-se campeã de forma dramática. Após uma vitória por 2 a 0 no jogo de ida e uma derrota por 2 a 1 no segundo jogo, o Vasco alcançou o título com o empate em 0 a 0 na decisão com o Fluminense.

Em 1994, Calçada teria um novo feito como presidente: levar a equipe a seu primeiro (e único até o momento) tricampeonato carioca. Com um time reforçado pelo craque Dener e pelo zagueiro Ricardo Rocha, a equipe vascaína teve um início promissor na competição. Mesmo abalado pela morte do camisa 10 (devido a um acidente automobilístico), o Vasco voltou a se firmar e sagrou-se campeão com uma vitória por 2 a 0 sobre o Fluminense, com dois gols marcados pelo jovem Jardel. No mesmo ano, conseguiria mais uma vez sua reeleição.

CONTRATO COM O BANK OF AMERICA E LIBERTADORES NO CENTENÁRIO 

Após dois anos marcados por entressafras, idas e vindas de jogadores e brigas políticas, Calçada conseguiu um grande feito: no início de 1997, a Conmebol reconheceu a conquista do Campeonato Sul-Americano de Clubes de 1948 como título continental. Graças a esta atitude, o Vasco teve direito a disputar a edição da Supercopa Libertadores.

Além disto, o Vasco alcançou um patamar ainda maior dentro de campo. Capitaneado por Edmundo (que já estava vendido à Fiorentina-ITA) e com reforços pontuais como Mauro Galvão, Evair e Válber, o Cruz-Maltino, que mantivera nomes como Felipe, Juninho, Ramón e Pedrinho no elenco, foi campeão de maneira irrepreensível. Após ter sido líder de ponta a ponta, o Cruz-Maltino chegou ao topo do país com dois empates sem gols diante do Palmeiras.

Reeleito mais uma vez para o cargo em 1997, o dirigente teve a missão de conduzir o Vasco no ano do centenário do clube. Contando com o aporte financeiro do Bank of America, o clube montou uma sucessão de esquadrões. Foram contratados jogadores como Donizete, Luizão, Vagner, Sorato e Mauricinho para o decorrer da temporada e o time alcançou mais feitos.

Além de um novo título carioca, Calçada era o presidente cruz-maltino no ano do maior título da história: a Copa Libertadores. Porém, o sonho do Mundial Interclubes esbarrou na derrota para o Real Madrid.

Em 1999, no entanto, o dirigente logo voltou a comemorar pelo clube. Tendo Guilherme, Donizete e Juninho como destaques e em reforços como Paulo Miranda e Zé Maria, o Vasco iniciou o ano campeão do Torneio Rio-São Paulo, derrotando o Santos nas duas partidas da final. No mesmo ano, os dirigentes ainda repatriariam Edmundo e depositariam as fichas na contratação de Viola, mas o Cruz-Maltino se despediria cedo no Brasileiro.

O ano 2000 começou empolgante para o clube: em uma "cartada" da qual o presidente foi crucial, Romário, que fora dispensado do Flamengo, retornou à Colina para a disputa do Mundial de Clubes em janeiro. Tendo também como novidades a ascensão de Hélton e as chegadas de Jorginho e Júnior Baiano, o clube foi à decisão no Maracanã, mas amargou a derrota nos pênaltis para o Corinthians.

Passadas as frustrações em finais no Torneio Rio-São Paulo e no Carioca, o Vasco teria um fim de ano para não esquecer. Com novidades como Clébson, Juninho Paulista e Euller, o Cruz-Maltino foi crescendo no decorrer da Copa Mercosul e da Copa João Havelange e chegou à decisão em ambas. Diante do Palmeiras, o Cruz-Maltino alcançou a '"Virada do Milênio", no jogo em que obteve uma histórica virada de 3 a 0 para 4 a 3 em pleno Parque Antarctica.

Já na final turbulenta na Copa João Havelange, Calçada conseguiu seu último título como presidente. Com a vitória por 3 a 1 do Vasco sobre o São Caetano, o mandatário conquistou seu terceiro e último título brasileiro.

Além de conquistas no futebol, Antônio Soares Calçada foi vencedor em outras modalidades: o Vasco obteve o bicampeonato da Liga Sul-Americana de Basquete e o tricampeonato estadual de Remo.

PRESIDENTE DE HONRA E NOVA PARTICIPAÇÃO NA POLÍTICA

Mesmo tendo deixado a presidência a partir de 2001 (sequer se candidatou em 2000, na eleição vencida por Eurico Miranda), Calçada se manteve ligado ao Vasco. Além de ser um dos beneméritos, tornou-se presidente de honra do Cruz-Maltino.

O ex-presidente ainda foi homenageado pelo clube. Em 2014, ele deu nome ao ginásio poliesportivo localizado em São Januário.

Sempre lúcido até o fim de sua vida, Antônio Soares Calçada mostrou-se ativo até no pleito que culminou na eleição de 2017. Ele tornou-se vice de Júlio Brant assim que a chapa entre Brant e Campello se rompeu, mas a chapa foi derrotada por Alexandre Campello.

No início de julho deste ano, as complicações abdominais levaram Calçada para o CTI.  Após chegar a ficar estável, Calçada voltou ao CTI na semana passada e, desta vez, o ex-presidente não resistiu. 

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