Eleição Vasco 2020: ‘O Vasco é uma grande estatal mal administrada’, diz Jorge Salgado

Candidato da chapa 'Mais Vasco' é o segundo personagem da série de entrevistas do LANCE! com os postulantes a presidente do Vasco na eleição do próximo dia 7

Jorge Salgado - Vasco
Jorge Salgado foi candidato derrotado em 1997, e volta à disputa neste 2020 (Foto: Divulgação/Mais Vasco)

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O LANCE! dá sequência, nesta terça-feira, à tradicional série de entrevistas com os candidatos à presidência do Vasco na eleição marcada para o dia 7 de novembro. São as mesmas perguntas para os cinco postulantes. Por ordem alfabética, o segundo entrevistado é Jorge Salgado, que se candidata pela segunda vez. Ele representa a chapa "Mais Vasco".

Por que ser presidente do Vasco?
É um desafio muito grande. Eu já venho perseguindo isso já de tempos para trás. Há algum tempo atrás eu fui candidato, perdi a eleição e me afastei um pouco, e agora eu estou num momento em que dá para ser candidato por dois motivos: pela equipe excepcional da Mais Vasco, pessoas comprometidas trabalhando, dando o melhor de si e que se destacam nas suas áreas da trabalho. E, em segundo trabalho, eu vou ter tempo também. Eu não sou mais um executivo da minha empresa, eu faço parte do conselho então vou ter tempo para me dedicar. Vou levar minha experiência de finanças, de mercado, e vou levar minha experiência de futebol e minha experiência de Vasco. Já fui vice-presidente de finanças, já fui diretor de futebol da Seleção então acho que posso agregar muita coisa do ponto de vista de Vasco.

Como obter recursos para um cenário pós-pandemia ou ainda de pandemia?
Não é uma coisa fácil, mas temos como objetivo de fazer duas captações de mercado: uma atrás de um CCB, que é uma cédula de crédito bancário, no valor de R$ 70 milhões, e uma segunda, também no valor de R$ 70 milhões ou R$ 80 milhões, de um Fedic, que é um fundo de direito creditório. Como vai ser feito isso? Para a primeira, de R$ 70 milhões, já estamos conversando com investidores vascaínos, mostrando o produto, como ele é, mostrando garantias que podemos oferecer para respaldar esse produto, e vamos tentar captar. Se você me perguntar: "Você vai conseguir captar?" Não sei, mas vamos tentar captar. Nosso plano A é tentar uma captação de mercado. Fazer com que o Vasco acesse esses canais de mercado de capitais, quando precisar de crédito ir a mercado buscar esses crédito. Então temos esses produtos estruturados, que, em captando (os recursos), vão nos dar uma margem de manobra grande, inclusive de estruturação da dívida, alongamento da dívida. Achamos que com R$ 150 milhões, mais ou menos, a gente dá uma arrumada muito boa na casa.

O que acha do desempenho atual do time?
O momento atual do futebol do Vasco não é bom. Se você me perguntasse três semanas atrás, eu diria que é bom, para você ver como as coisas mudam rapidamente. O Ramon teve um ótimo início, depois entrou num marasmo e começou a entrar numa descendente. Então, hoje, o Vasco não está fazendo uma boa campanha no Brasileiro, está se aproximando da zona de rebaixamento (ainda não havia entrado no Z4 na última quarta-feira, quando esta entrevista foi feita), hoje tem jogo importante, adversário direto na tabela, mas acho que vamos nos recuperar. Apesar de não concordar com a saída do Ramon, achei precipitada, acho que o Vasco tem tudo para se recuperar. Tem um treinador novo, que vai vir com um discurso novo, motivação nova. Vamos torcer para ele acertar.

Como avalia a estrutura física das sedes do clube? Do Calabouço ao CT.
O CT está em fase finalíssima de conclusão da primeira fase. São dois campos e, depois, tem os outros campos dentro de um projeto. Vamos dar continuidade a isso. Pretendemos dar continuidade a esse bom legado que essa diretoria está deixando para o clube. Vamos continuar isso. Tem também o CT que vai servir à base, na Rodovia Washington Luiz. Tudo que estiver em andamento nós queremos concluir. Não queremos interromper. Em relação às outras sedes, assim tivermos um fôlego maior, do ponto de vista financeiro, é muito fácil arrumar aquilo. É contratar uma empresa de arquitetura boa, estudar um projeto viável, condizente com a situação do local e executar. Não tem mistério nenhum, mas não é uma prioridade inicial.

Como administrar a dívida do Vasco?
A gente vai administrar captando novos recursos, negociando dívidas antigas, com deságio, e alongando. Essa captação nova deve ter prazo maior para dar mais fôlego para fazer essa transição. Eu vou tentar fazer o que já fiz no próprio Vasco em 1988-1989. Pegamos uma situação, na época do presidente (Antônio Soares) Calçada e do Eurico Miranda, de terra arrasada. E em três anos conseguimos pagar a dívida do clube, fomos campeões brasileiro. Enfim, foi um momento memorável. As condições, hoje, são diferentes. O clube deve muito mais. Construiu-se um passivo enorme de R$ 650 milhões. Como a gente faz para diminuir isso? Renegociando a dívida, fazendo uma captação nova de recursos e alongando a dívida.

Como obter investimentos para o futebol?
Eu conheço um pouquinho de futebol, tenho uma experienciazinha razoável. Não estou lá dentro, mas, de longe, vejo muita ineficiência na condução do futebol. Vejo ineficiência em muita coisa que acontece no futebol. Você sabe, por exemplo, me dizer quantos jogadores o Vasco tem no profissional? Tem muito jogador, não tem? E não estamos satisfeitos com essa quantidade. Queremos contratar mais jogadores. Então está faltando critério, está faltando eficiência, está faltando comando. Não dá para ter um elenco do tamanho do do Vasco. Está jogando dinheiro fora. Vamos fazer uma conta: se eu pegar uns 15 jogadores que não jogam, mas estão na folha, você está falando de mais ou menos R$ 2 milhões. Esse valor vezes 12 meses são R$ 24 milhões. Vezes três anos são R$ 72 milhões que vão para a lata do lixo. Você acha que o Vasco pode se dar ao luxo de jogar na lata do lixo R$ 72 milhões em salário de jogador que não joga? É um verdadeiro absurdo isso. Então alto lá. Vamos entrar, olhar essa situação, ver o que vai dar para fazer, mas certamente vamos ter que dar uma melhorada nisso aí, está muito ruim. E outra coisa: vamos parar com essa cultura de ter três treinadores por ano. Porque além de não dar resultado no campo, compromete o clube financeiramente. O treinador, normalmente, faz um contrato de 12 meses e recebe três. Você queria ter esse emprego, não queria? Trabalhar três meses e receber 12? Então é o seguinte: o Vasco é uma grande estatal mal administrada. Para fazer uma caricatura disso, parece os Correios, que estão falando numa privatização, que tem corrupção e que tem sacanagem para todo lado. É o Vasco. Vejo dessa maneira. Dei um pequeno exemplo de como que, alocando recursos com mais inteligência, os recursos para o futebol aparecem. Não pode é pagar uma folha enorme para um bando de jogadores que não jogam. É prejuízo na veia para o clube.

Como será a relação com a base? Mais investimentos? Será possível fazer melhores vendas ou manter revelações?
Ali na base também tem que dar uma melhorada grande. Sabe qual a melhora que tem que ter? Tem que ter eficiência também. Estou falando de quê? Vasco é uma fábrica de produzir bons jogadores na base, mas aproveita muito mal esses jogadores quando eles chegam no profissional. É óbvio que você não consegue aproveitar todos eles, mas o que você tem que fazer: colocar os melhores para o profissional e o estoque que não foi utilizado no profissional tem que ser trabalhado para vender ou emprestar. Isso onera a folha e perturba o trabalho do elenco. Não estamos fazendo isso direito. Então talvez criemos uma área de negócios dentro do futebol para exatamente tratar de compra e venda de jogadores que não estão sendo utilizados, ser mais ativo nisso. Precisamos monetizar aquele jogador que tem futuro, mas não está sendo utilizado. Tentar criar um canal de venda para esse jogador. Hoje, se você pegar o balanço dos clubes, a média de vendas de jogadores nos últimos anos foi de mais ou menos R$ 100 milhões por ano. No ano passado nós vendemos R$ 14 milhões. Esse ano, praticamente, só o Marrony. É muito pouco. O nosso maior rival vendeu R$ 600 milhões nos últimos três anos. Temos que melhorar isso também. Temos que ser mais eficientes nesse lado.

Você entende que a intensidade da política do Vasco atrapalha o desempenho esportivo do clube? E como será daqui para frente?
A intensidade política acaba batendo, mas chega já sem força no futebol. O futebol tem uma blindagem muito grande. A primeira coisa que um clube que faz um ano político é tentar blindar o futebol, fazer com que as notícias da política não cheguem ali nos jogadores e no clube. Obviamente que alguma coisa vai chegar, mas já enfraquecida, sem força para alterar performance em campo. Agora, essa perturbação política é muito ruim para o clube como um todo porque desgasta a imagem do clube, afasta possíveis patrocinadores... o sócio, do lado de fora do clube, faz uma leitura ruim, de não haver entendimento, de ser só briga. Você vê: estamos a 15 dias de uma eleição e está cheio de ação na justiça. Pretendemos, assumindo o Vasco, terminar com isso. Criar uma regra muito transparente, muito nítida de quem pode e quem não pode votar e seguir nela. O clube convoca o sócio para uma anistia, de repente o Conselho Deliberativo julga que aquela anistia foi dada de maneira errada. Aí começa um conflito na Justiça quanto a isso, aí o sócio que pagou não sabe se pode ou não votar, mas quando ele pagou diziam que ele podia. Quer dizer,  não dá para ter um clube com harmonia e paz com essas questões todas. Então isso tem que ser resolvido. Pretendemos resolver isso daí. E outra coisa: essa guerra política que existe hoje, terminada a eleição ela vai deixar de existir porque vai mudar o Conselho Deliberativo. As pessoas que estão, hoje, na mesa, presidindo, o primeiro, o segundo (presidente e vice do Deliberativo, respectivamente Roberto Monteiro e Sergio Romay) elas vão deixar o Conselho. Nós vamos ganhar a eleição e vamos ter ampla maioria no Conselho Deliberativo. Vamos compor toda a mesa do Deliberativo. Não vai haver o tumulto que houve na eleição passada. O candidato que ganhou no voto (Julio Brant) perdeu no conselho. Esse que ganhou no conselho era aliado do presidente do conselho. Meses depois o presidente da diretoria administrativa e do Conselho Deliberativo brigaram, romperam. E daí decorre todo esse tumulto. Isso aí vai ser uma página que vamos virar Vamos assumir, ter maioria no conselho. vamos colocar nossas propostas para serem debatidas em alto nível harmônico e vamos conseguir aprovar a nossa reforma do estatuto.

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