Passado e futuro: o DNA futebolístico da família Assis

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João Ademar, 54 anos, e Theylor, sete anos, são torcedores do Internacional, moram na mesma rua no bairro Vila Nova, em Porto Alegre, e carregam o sobrenome da família que ficou conhecida na cidade e no mundo por revelar dois craques. E é no mesmo local em que Assis e Ronaldinho trilharam os primeiros passos no futebol que passado e futuro dos Assis se encontram.
Às vésperas do retorno de Ronaldinho ao Olímpico contra o Grêmio, clube que o revelou, tio do jogador conta os detalhes sobre o DNA futebolístico de atacantes da família e o primo do rubro-negro projeta mesmo sucesso dos parentes consagrados.
Antes mesmo de Assis despontar no Grêmio em 1987, Mikimba, como era conhecido João, começava a carreira profissional no Inter de Lages (SC), no fim dos anos 70. Atacante de extrema habilidade, segundo relatos da família, o então jogador foi o precursor dos Assis nos campos.
- Ronaldinho e Assis costumam dizer para as pessoas que o bom da família era eu. Acho que jogava de maneira parecida com a do Ronaldinho. Brincadeiras à parte, costumo dizer que não ensinei nada a eles. Acho que se espelharam em mim e fizeram suas carreiras - disse Mikimba, com a mesma voz mansa e sotaque característicos de Ronaldinho.
(Theylor, primo de Ronaldinho, sonha em seguir os passos do atacante/ Foto: Eduardo Mendes)
Atento aos relatos do tio, Theylor não soltava a bola de couro velho com a qual bate pelada com os amigos na rua. A nova aposta para a sucessão do talento dos Assis nos gramados carrega os traços de Ronaldinho. Os mesmos olhos esbugalhados, porém, não acompanharam de perto as gerações seguintes a de Mikimba.
O garoto não viu Assis e Hilton, outro primo e atacante que defendeu o Inter na década de 90. Em relação a Ronaldinho, o passado do camisa 10 no Barcelona não foi registrado pela memória de Theylor. São as atuações recentes pelo Rubro-Negro que dão a dimensão do futebol do jogador ao jovem.
- Teve o gol direto, de escanteio (contra o Avaí) e aquele de falta que a barreira pulou (contra o Santos). Ele é muito bom - relatou Theylor, imitando a maneira como a barreira do Peixe se portou no momento da cobrança da falta.
Incontestável para Theylor e os Assis, Ronaldinho não perde o título de melhor nem mesmo para Neymar, cujo corte moicano é imitado pelo garoto. Mesmo sem aderir ao visual do primo, o jovem se rende ao Assis mais famoso dos anos 2000.
- Tudo o que ele faz com a bola é impressionante.
SAUDADES
É na rua Marquês do Maricá que boa parte da família Assis mora em Porto Alegre. A última vez em que Ronaldinho esteve ali foi no Réveillon de 2001, ano no qual ele se transferiu para a França. Boa parte dos cerca de 50 sobrinhos e primos do jogador que nasceram nesse período sequer conheceu pessoalmente o jogador.
Mesmo com a presença do atacante do Flamengo na capital gaúcho a partir de sábado para o jogo no Olímpico, as esperanças do encontro acontecer são escassas.
Conceição, tia de Ronaldinho, exibe camisa do PSG que ganhou do sobrinho (Foto: Eduardo Mendes)
– Sabemos que ele têm muitos compromissos. Quando o Brasil jogou em Porto Alegre tentamos ir até o hotel, mas não conseguimos falar. Theylor nunca o viu e seu sonho é conhecer o Ronaldinho. Mas ele sabe de todos os sobrinhos ou primos que nascem. O pessoal sempre avisa a ele – contou Conceição Assis, tia do jogador.
Ronaldinho, apesar de não ter morado na mesma rua de seus parentes, tinha uma casa próxima ao local. A residência que foi comprada pelo pai do atacante, João da Silva, foi derrubada para a construção de um condomínio.
Rua onde Ronaldinho deu os primeiros chutes na bola. Boa parte da família Assis ainda mora no local (Foto: Eduardo Mendes)
O contato com o atacante se limita às festas familiares na residência da mãe de Ronaldinho, Miguelina, quando ele está presente. O local também abriga as casas do rubro-negro e de Assis.
– Todo sábado costumava ter um encontro da família na casa da minha irmã. Tinha um pagode, que é a outra marca registrada da família. Mas ele não podia estar sempre. Tive com ele faz tempo e ganhei uma camisa do PSG – contou a tia do atacante do Fla.
OS ASSIS NO MUNDO DO FUTEBOL
Mikimba
O primeiro da família a jogar profissionalmente. Atacante, passou pela base do Grêmio, e no fim dos anos 70 defendeu o Inter de Lajes (SC) e teve
passagens pelo Moto Club (MA).
Assis
Despontou no Grêmio a partir de 1987. Atuou em seis clubes do exterior. Teve passagens pelo futebol carioca por Vasco e Fluminense, em 1996.
Hilton
Primo de Ronaldinho, foi atacante do Inter nos anos 90. Teve uma experiência também no futebol japonês.
Ronaldinho
Ficou dez anos na Europa . Eleito o melhor do mundo em 2004 e 2005.
Diego
Filho de Assis, é atacante, tem 15 anos e joga na base do Porto Alegre.
FAMÍLIA TEM PROJETO SOCIAL
Foi no Campo do Periquito, localizado também no bairro Vila Nova, que Ronaldinho fez suas primeiras exibições públicas. O campo pertencia aos Assis há mais de 40 anos e, desde 2001, foi englobado a um projeto social registrado naquele ano pela marca Ser Assis, que é da família.
Garotos que treinam no campo onde Ronaldinho jogava se preparam para treino (Foto: Eduardo Mendes)
Três vezes por semana, 120 garotos com idade entre 12 e 16 anos treinam sob a supervisão de Vânius Garcia. As equipes mirim e infantil disputam o campeonato municipal de Porto Alegre. No momento, as duas categorias lideram os torneios.
– Tudo é gratuito. Mais do que ensinar, temos a preocupação de dar assistência para os meninos. Aqui eles têm reforço escolar e sempre estamos conversando com os pais – explicou Garcia.
O projeto é mantido por meio de doações e ajuda dos pais dos garotos matriculados.
COLORADA, FAMÍLIA APOSTA EM RONALDINHO
Apesar de Assis e Ronaldinho terem sido revelados pelo Grêmio, boa parte dafamília Assis torce pelo Internacional. A escolha de levar os garotos, naquela época, para o rival do Colorado partiu do pai, João Silva Moreira.
– Ele era torcedor fanático do Grêmio. Assis já estava lá. Depois, levou Ronaldinho – contou a tia do jogador, Conceição.
Rivalidade à parte, a torcida pelos jogadores ilustres nunca deixou de existir, especialmente para Ronaldinho, que teve uma saída conturbada do Olímpico.
A indignação de boa parte dos gremistas não é vista com razão pelos parentes do jogador que saíram em defesa do rubro-negro.
– Isso que está sendo criado é mais pela mídia. Ele é profissional e recebeu uma proposta melhor. Não vejo problemas em relação a isso. Ele tem o carinho de todos – disse o tio Mikimba.
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