Neymar, o capitão certo para a Seleção Brasileira

Nesta sexta-feira, quando entrar em campo contra a Colômbia, Neymar viverá uma nova etapa na carreira. Por decisão do mesmo Dunga que não o levou para a Copa de 2010 por achar que aquele garoto do Santos ainda era muito imaturo para jogar um Mundial, o atacante assume a braçadeira de capitão, desbancando o zagueiro Thiago Silva, que não está nos Estados Unidos devido a uma lesão e vê de longe o maior craque brasileiro assumir o seu posto.

A decisão não podia ser mais acertada, mas não deixou de causar surpresa. Até esta quinta-feira, a pergunta era quem assumiria o lugar com a ausência de Thiago Silva apenas nestes dois jogos. Não entrava na pauta uma mudança definitiva. E Neymar tinha a concorrência de David Luiz, o único com empatia capaz de fazer pequena sombra ao atacante. Só que Dunga viu que seria uma bobagem não aceitar a liderança de Neymar neste momento.

O treinador teve três mostras seguidas disso. A primeira na Copa. Neymar recebeu a camisa 10, chamou a responsabilidade e foi eficaz. Quando saiu da competição após a entrada por trás do colombiano Zuniga, que ele enfrentará hoje, o time que já não era essas coisas sentiu a falta da fera e levou as duas surras históricas.

A segunda, nos dias que vão da escolha do treinador à apresentação dos jogadores. Dunga ao assumir deu a indireta de que Neymar não era craque por não ter sido campeão do mundo e não decidir sempre os jogos. Enquanto era criticado pelas declarações, o treinador viu Neymar acatar a declaração numa boa, sem resmungos, até entendendo o ponto de vista esquisito do comandante. E se Dunga queria vê-lo mostrando maturidade, que tal o jeito que Neymar pôs fim a qualquer mágoa ou ressentimento com Zúñiga, quando desafiou o colombiano a tomar o banho de balde de água gelado que virou febre entre os vips. Até mesmo o candidato a desafeto o vê como um cara diferente.

A terceira mostra veio nestes dias em que Dunga está conhecendo o grupo nos Estados Unidos. E certamente foi a que mais pesou. Neymar é o cara. Puxa as brincadeiras com os novatos; fala com todos os jogadores sempre sorrindo; quando treino o ténico pede para que faça as funções x, y e z, o camisa 10 nem pestaneja. E se a postura de Thiago Silva nunca foi a de um líder nato, a hora de uma troca definitiva, sem o zagueiro por perto, vem a calhar.

- Capitão tem de ser uma referência. Neymar é. E possui uma liderança positiva - disse Dunga ao confirmar o seu novo capitão.

Jogue pressão, liderança, qualquer coisa. Neymar mata no peito e leva na boa. Quer só um exemplo do que ocorreu no treino desta quinta-feira? No modestíssimo e péssimo gramado do estadiozinho da Universidade da Florida, que tem uma arquibancadinha de madeira e de onde se escuta tudo que se fala dentro do campo... Neymar, já oficialmente o nosso capitão, mostrou o que Dunga quer: obediência e liderança.

Obediência por fazer tudo o que técnico mandava no treino de saída de bola. Era um tal de Dunga gritar "bola para o Neymar na direita, vai, vai", "troca de posição com Tardelli",  "chama o jogo pela esquerda" (tudo com a proibição de não ter imagem, já que serão as jogadas ensaiadas para o jogo desta sexta).

E no rachão a fera do Barcelona mostrou o poder sob o grupo. Foi o capitão do seu time, dava as coordenadas, sempre que estava em condição de fazer um gol tocava para um companheiro, fazia as jogadas de efeito (No primeiro tempo um passe de rosca que Oscar quase marcou. No segundo tempo, uma rolada no gramado tentando um passe de ponta a cabeça). Depois, levou uma entrada dura e ficou mancando até o fim do rachão. Chegou a assustar a imprensa, a ponto de Dunga parar a brincadeira um minuto depois...E o que fez Neymar? Chegou em Robinho, que era o capitão do outro time, fazendo cara de sério e marrento:
- Ganhei essa aqui, sai pra lá, vem cá o meu time... vedm tirar a foto posada dos vencedores! -

Chegava a ser hilária a zoação com Robinho.

- Cara, foi empate, 8 a 8... - dizia o ex-companheiro de Santos.

Neymar nem deu bola, tirou a foto, foi beber água junto com os outros do grupo, apertou a mão de um por um, como se fosse político em véspera de eleição. E partiu correndo para a fase final do treino - puxado, de duas horas - cobrando faltas e pênaltis.

A pancada do fim do rachão? Pode ter doído na hora, mas Neymar já tinha esquecido. E hoje, no Sun Life Stadium de Miami  o craque-capitão brasileiro estará prontinho para entrar em campo com a braçadeira de capitão, tirar o (tóisss?) e ver se leva o Brasil a um triunfo que marque o início da nova era Dunga e o seu jogo 1 como capitão.

Como Neymar só tem 22 anos, parece que esse seu mandato periga ser o mais longo da história da Seleção.