Mauro Galvão, o homem de confiança de dois patronos

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Bangu e Botafogo, que entram em campo neste sábado em busca de uma vaga na final da Taça Rio, tiveram muito em comum na década de 1980. Ambos contavam com 'patronos', figuras controversas nos bastidores, mas apaixonadas por seus respectivos clubes e capazes de quase tudo por eles, principalmente fazer jorrar dinheiro nos cofres: eram Castor de Andrade, pelo lado alvirrubro, e Emil Pinheiro, no alvinegro. E as duas equipes também contaram, nessa mesma época, com o talento do zagueiro Mauro Galvão, homem de confiança dentro de campo dos 'chefões'.
Mauro Galvão relembra a conquista da Taça Rio de 87 pelo Bangu
Em entrevista ao LANCENET!, Galvão relembrou suas passagens pelos dois clubes, coroadas com dois títulos marcantes: um deles foi a Taça Rio de 1987, última conquista de prestígio do clube de Moça Bonita, que volta à fase decisiva do mesmo torneio 25 anos depois. O outro foi o título estadual de 1989 com o Alvinegro de General Severiano (ou, na época, de Marechal Hermes), pondo fim a um jejum de 21 anos. E, é claro, o zagueiro contou ainda como era a convivência com os 'homens fortes' de ambos os clubes, ícones do futebol carioca no período.
A ida para o Bangu, seu primeiro clube no Rio de Janeiro
- Em 86, eu vim para o Bangu depois de sete anos no Internacional, o clube que me projetou. Mas era o momento de partir para dar sequência na minha carreira. Ir para o Rio de Janeiro era muito importante. Recebi um telefonema do Carpegiani, que era técnico da equipe banguense na época. E também vieram vários jogadores: Neto, Márcio Rossini... O Bangu naquele momento era um time muito interessante e que vinha fazendo boas campanhas (foi vice-campeão brasileiro e carioca no ano anterior). Por isso achei que era o momento de dar esse passo na carreira.
O ambiente em Moça Bonita e a figura do patrono Castor de Andrade
- No Bangu era um pouco diferente dos demais clubes onde joguei. Era mais solto, não havia tanta rigidez. O estilo do Castor era mais tranquilo, de muita conversa, brincava, mas também cobrava. Quando vim para o Rio, no momento em que fui contratado pelo Bangu, o Castor foi a Porto Alegre, e eu senti firmeza porque ele se dispôs a ir lá, e não foi uma contratação fácil. E também no momento em que conversei com ele dizendo que era necessário eu sair para um time grande, ele aceitou logo, não colocou empecilhos. E em 88 fui para o Botafogo, junto com o Paulinho Criciúma e o Marinho. Foi uma mudança muito importante para mim.
Pinheiro, o técnico do Bangu na Taça Rio de 1987
- Ele era um treinador que sabia acertar a equipe. Foi muito bem no Bangu, conseguimos conquistar um título. Tive com ele uma relação sempre próxima. Procurava me passar experiências suas como ex-zagueiro (do Fluminense). Era uma pessoa muito séria, mas que ao mesmo tempo sabia levar muito bem o grupo. Tanto que depois também foi contratado pelo Botafogo, onde se juntou a mim, ao Paulinho e ao Marinho. Deixou grande saudade (Pinheiro faleceu em agosto de 2011).
A campanha na Taça Rio e o jogo do título (3 a 1 no Botafogo)
- Lembro que o Bangu fez uma campanha muito boa. Tinha um time 'certinho'. Um bom goleiro, uma defesa firme, um meio-campo com marcação, mas também boa saída de jogo. No meio jogávamos eu e o Toby de volantes, e mais à frente o Arturzinho, e no ataque o Marinho, o Paulinho Criciúma e o Ado. Mas apesar de ter bons jogadores, era um time em que o pessoal não acreditava muito que pudesse chegar. Mas chegamos e conquistamos o título com uma vitória inesperada e fulminante, com os três gols ainda no primeiro tempo.
O que faltou para o time alvirrubro ir à frente e levantar o título carioca?
- É muito difícil quando você joga contra equipes do porte de Flamengo e Vasco, que foram as que disputaram o triangular final, porque são equipes que têm um peso, além da qualidade. Não me lembro de tudo, mas eram bons times e naquele momento não conseguimos superá-los. Acho que o fato de o Bangu ter chegado foi um grande feito, porque não temos nem como comparar, por exemplo, a folha de pagamento. O Bangu tinha um bom time, mas para se chegar a um título estadual, há outras coisas que você tem que acompanhar. Nos jogos, por exemplo, a torcida era 80% dos times grandes. Isso é difícil mudar. Às vezes você consegue, num momento de desatenção do adversário, ou quando ele te subestima, mas isso é a exceção, não a regra.
A chegada ao Botafogo de Emil Pinheiro
A diferença que eu vejo entre o Emil e o Castor é que o patrono do Botafogo era mais discreto, não aparecia muito na mídia. Mas, assim como o banguense, também procurava ajudar em algum problema, fazer o jogador se sentir em casa. Era também muito tranquilo, atencioso. No Botafogo, o Emil também deu muito certo. A gente tinha uma relação muito boa. Foi fundamental para a minha carreira.
O fim do jejum estadual em 1989
Em 88, tivemos um ano difícil, corremos risco de queda no Brasileiro, mas em 89 as coisas mudaram e melhoraram. As arestas foram aparadas. O (técnico Valdir) Espinosa chegou muito bem, passando confiança. Porque aquele era um time desacreditado, 'ah, vai morrer na praia'. E sempre o Botafogo tinha um tabu pra quebrar, não vencia tal adversário há tantos jogos, então até o final tivemos que lutar para acabar com isso. Não tínhamos ganhado um clássico até vencer o Flamengo na decisão. O tempo todo tínhamos que provar e fazer com que acreditassem e superassem a desconfiança e a incerteza.
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