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ESPECIAL: Antes ‘Bin Laden’, Diego luta por espaço no futebol

Demolição do anel inferior do Maracanã é concluída (Foto: Fernanda Almeida/Governo do Estado do RJ)
imagem cameraDemolição do anel inferior do Maracanã é concluída (Foto: Fernanda Almeida/Governo do Estado do RJ)
Dia 27/10/2015
22:31

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A mala em punho, o olhar despreocupado e o jeito típico de boleiro misturavam Diego Lima da Conceição, de 20 anos, aos outros garotos que chegaram às 8h30 daquela terça-feira – no último dia 5 – para o treino do Nacional, da Quarta Divisão do Campeonato Paulista.

Levado pelo ex-jogador Zé Maria, coordenador de Esportes da Fundação Casa (ex-Febem), Diego faria o seu primeiro teste no clube, depois de ter ficado duas temporadas nas categorias de base da Portuguesa e de passar sem sucesso neste ano por Flamengo, de Guarulhos, e Rio Branco, de Americana.

O sonho brilhando nos olhos era o mesmo de dois anos atrás, quando decidiu largar o apelido de “Bin Laden” na antiga Febem da Vila Maria, na Zona Norte de São Paulo, e fazer do futebol a ponte de sua reintegração à sociedade.

A primeira chance já havia sido dada pela Lusa, na época em que ainda estava internado na Fundação por ter cometido um grave crime sobre o qual pede para não comentar. Disse que se sentiu discriminado na Portuguesa, após uma reportagem de TV revelar o caso.

– Eu ia bem nos treinos, era elogiado, o treinador falava que minha chance chegaria, mas nunca chegou – lamenta Diego.

No Nacional,  teria três oportunidades de mostrar ao técnico José Antonio Nogueira que merecia estar no elenco que vai jogar a Quarta Divisão do Paulista deste ano. Mas o condicionamento físico abaixo do dos outros atletas é um dos motivos que o fizeram ser dispensado.

– Ele precisaria de um mês para se adaptar e mais um mês de trabalho, para aí começar a jogar. E não temos esse tempo – diz Nogueira.

Foi mais uma porta se fechando, para a tristeza da mãe Maria da Conceição, cuja casa, em Aparecida do Norte (SP), deve receber o filho de volta mais uma vez. É ela a responsável por reanimá-lo a cada obstáculo. Afinal, não pode deixar as tentações do crime voltarem a atormentar a cabeça do filho.

– Já me ofereceram R$ 4 mil a cada duas semanas para tomar conta de boca de fumo, deram revólver na minha mão para ajudar em assalto, mas decidi que o futebol será meu caminho – diz ele. – Essa dificuldade toda faz parte da minha vitória.

Bate-Bola com Diego Lima da Conceição - meia e atacante

Em que momento você resolveu mudar de vida?
Quando meu irmão faleceu. Ele tinha problema nos dois pulmões, usava drogas. Foi em 2008. Quando eu fui ao velório, nem me tiraram as algemas para que eu pudesse abraçá-lo. Só pude tocar na perna dele. Nem quis ficar muito tempo para não causar mais sofrimento à minha família, que estava desabada. E eu sem poder ajudar. Foi ali que resolvi mudar.


Por que você acabou não dando certo na Portuguesa?
Venceu o contrato no fim do ano passado. Estava chegando muita contratação de nome para a minha posição. Então, eu saí.

Faltaram oportunidades?
Joguei o Campeonato Paulista Sub-20 por dois anos seguidos e entrei em três jogos apenas. Cheguei a fazer nove gols em sete amistosos, mas mesmo assim não me colocavam para jogar.

Por quê?
Não sei se partia de cima...

Ficou alguma mágoa?
Não, muito pelo contrário. Tenho uma satisfação enorme de ter conhecido aquelas pessoas, que me ajudaram a amadurecer no esporte e na vida. Só não me deram oportunidade de jogar.

Se algum time do exterior, como o Qatar, por exemplo, lhe desse uma chance, você abraçaria?
O que eu tiver de passar nessa vida, que Deus me devolveu a esperança, eu passo. Já passei fome, fui treinar a pé. Várias vezes.

E se não der certo no futebol?
Não acredito que Deus me tirou daquele lugar e me deu essa chance para não dar certo. Liedson (atacante do Corinthians) virou com 23 anos, por exemplo.

Com a palavra José Antonio Nogueira - técnico do Nacional

O grupo está formado há menos de três meses. Diego mostra ser um atleta que jogou muito tempo. O problema é estar parado, e isso está pensando muito para ele. Não está tendo mobilidade nem capacidade física para acompanhar o ritmo. Temos vaga para um jogador completo de área, que venha resolver nosso problema. E ele não está em condições de o plantel absorvê-lo, pelo pouco tempo que teremos para o início do campeonato, dia 30.

Com a palavra Edu Miranda - técnico do Sub-20 da Lusa

Diego chegou com escolta armada. Foi muito curioso. Ele vinha com aquela roupa bege de preso. Primeira coisa que eu falei: “Você vai tirar essa roupa e, no vestiário, vão lhe dar short, camisa e meião da Portuguesa. Outra coisa: não vem com essa de senhor porque aqui não tem nenhum senhor. Aqui eu sou técnico e você não é preso, é atleta.” O grupo todo o abraçou como se fosse irmão e fez um trabalho magnífico.
Aqui na Portuguesa, acho que faltou um pouco de foco para ele. Mas ainda tem muito tempo pela frente e acredito que vai vingar. Tem habilidade, malandragem e ousadia do jogador brasileiro.

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