Tenistas temem priorização de dinheiro e europeus na retomada do circuito

Atletas que estão fora da lista do US Open, acreditam que retorno é precipitado

Thiago Monteiro, Patrício Arnold e João Menezes
Divulgação

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Por Ariane Ferreira - Diante da possibilidade da ATP e WTA conseguirem junto a autoridades globais a permissão para que tenistas possam viajar, independente de barreiras sanitárias, o Tênis News conversou com tenistas de menor ranking para entender seus temores.

Alvos da ação "Players Relief" idealizada pelo sérvio Novak Djokovic com intuito de arrecadar fundos de apoio aos tenistas de menor ranking dentro do top 300, este atletas se veem novamente alheios às discussões de retomada do circuito profissional.

O Tênis News buscou conversar com profissionais de diferentes nacionalidades, e de um argentino recebeu a negativa da conversa: "Não adianta eu dizer o que eu penso, eles não se importam e eu vou continuar sem jogar. Não viu o que aconteceu agora?".

A revolta tratava-se do cancelamento oficial de torneios em nível Challenger e ITF em território norte-americano que seriam realizados em paralelo ao ATP 500 de Washington, cancelado nesta quarta-feira, e o Masters/WTA de Cincinnatti e o US Open por parte da federação norte-americana (USTA). "Se pode um ATP com uns 70 caras, pode um Challenger com 60", seguiu.

Nas últimas semanas algumas federações nacionais optaram por "realizar torneios para preparar os atletas para o circuito oficial". Este foi o caso da federação portuguesa, comandada por Vasco Costa, que em conversa com o Tênis News explicou o projeto de três etapas de torneios e a antecipação do campeonato nacional de outubro para julho.

"Fruto do COVID e de uma parada longa dos atletas, a ideia foi de criamos um circuito sênior, com premiação financeira, e nele ter nossos melhores jogadores nacionais para eles ganharem ritmo para quando recomeçar o circuito internacional", iniciou explicando. Segundo Costa, o retorno de atletas e treinadores "foi bastante positivo" e ponderou: "Já que eles estavam há muito sem jogar e os árbitros sem trabalhar. De certa forma, foi um torneio para acelerar a retoma da atividade profissional deles".

O circuito português começou no sul do país, o Algarve, e por quatro semanas, esteve nas principais regiões do país, encerrando no norte, na cidade do Porto. Ali, ouvimos Nuno Borges, campeão de três das quatro semanas no masculino em simples Vale do Lobo (Algarve), Figueira da Foz (Centro) e Porto.

Borges conhece bem os tênis norte-americano, por lá competiu em quatro temporadas da NCAA (circuito universitário), onde foi campeão, e acha a retomada do tênis apressada, motivada por razões econômicas. “Eu tenho acompanhado mais ou menos a situação lá. Não sei. Acho que se eles forem realizar o torneio é certamente porque eles tomaram todas as medidas para que seja seguro jogar, mas acho complicado. Eu gostaria que houve um bocadinho mais de tempo, acho que é muito cedo para se fazer um torneio desta dimensão, como é o US Open”.

“Eles precisam desesperadamente de entrar na economia, eles precisam mesmo do dinheiro, mas a saúde vem primeiro", prosseguiu o português. "Precisamos de mais tempo, se for o caso, no próximo ano só. Acho que os números ainda não são tão bons. A mim, quero mesmo que retorne rápido, acho que podemos ter sim torneios, em pequenas bolhas, sem espectadores”, analisou Borges que vê como "grande risco" de contaminação as viagens e compactua em partes com o temor do possível descuido e "furo" das bolhas construídas pelos eventos. "Não sei muito da vida dos outros, mas sabe-se que nesses torneios maiores há sim quem tire um tempo para estar com os amigos, ir a um bar, coisas assim... pode ser que alguém faça mesmo nessas condições, mas eu não vou estar colado aos outros jogadores, guardo meu distanciamento. Se eu guardo as regras e mantenho meu distanciamento, já é um bom passo para manter a segurança de todos", declarou.

Nuno Borges ainda ressaltou a dificuldades de algumas nacionalidades em transitarem entre países. Mesma opinião da compatriota Ana Filipa Santos: "Ainda hoje, eu, portuguesa não posso ir a todos os lados. Há coisas de reciprocidade (países que não são recebidos em razão da pandemia, não aceitam visitantes das nações que lhe fecharam as fronteiras) e outras mais. Há gente praticamente isolada em seus países, não dá para ter um tênis igual e de oportunidade assim. O esporte é mundial, não é? Eu vou esperar um pouco mais", revelou ela que tem sido favorável a ideia de circuitos nacionais.

O mineiro João Menezes também não está entre os que irão competir em Nova York, mas estaria no qualificatório, se existisse. O número 3 do Brasil e 185º do mundo vê a motivação econômica das entidades do esporte para a retomada

do circuito agora.

Mesmo assim, em conversa via Whatsapp, o mineiro diz que jogaria nos Estados Unidos se tivesse sua vaga, mas pontua a complicada situação de tenistas como os brasileiros, ainda aguardando a oficialização da parceria entre ATP e WTA com o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) pata garantir a entrada de todos os atletas.

“Saber que metade das fronteiras do mundo estão fechadas pra mim, porque eu sou brasileiro, por ter um alto índice de COVID aqui… isso daí, realmente, é complicado. Mostra que a ATP, ITF, WTA, eles querem voltar o circuito, por uma minoria estar em condição de jogo. Acredito que só a Europa, já que nos Estados Unidos tá complicado e China já declarou que não tem mais eventos esportivos esse ano, então, eles estão pensando única e exclusivamente no dinheiro", decretou.

"Se eles conseguirem mesmo a liberação de viagem pra todos de forma igual, aí, acho perfeito. Porque daí, quem não quiser viajar, seja porque se sente inseguro ou alguma coisa, não vão. Viaja quem quer. Se não conseguirem, aí complica um pouquinho", finalizou.

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