Nenê não tira o sorriso do rosto e se declara: ‘Não me vejo em outro time’

Em entrevista ao LANCE!, meia diz que é 'uma coisa muito louca' jogar no time do coração e vestir a camisa 10 que foi de Raí. 'Um título aqui seria muito especial'

A chapada do Nenê! Camisa 10 caiu nas graças da torcida com seu chute colocado
Rubens Chiri/São Paulo FC

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Nenê recebeu a reportagem do LANCE! no CT da Barra Funda com um sorriso no rosto na tarde desta sexta-feira. Enquanto se dirigia ao local em que esta entrevista seria realizada, gargalhou ao encontrar Liziero diante das câmeras de uma emissora de TV. Durante o papo, fez interrupções para brincar com Diego Souza ("Estou falando bem de você aqui, Didi!") e para dar uma bronca bem-humorada em um amigo que insistia em telefonar para ele. É realmente difícil encontrá-lo com a cara fechada no São Paulo.

- Se eu não estou bem, se não estou sorrindo, alguma coisa está errada. O pessoal até fica: "Pô, o que foi?". Geralmente tento ser o mais brincalhão possível. Até no treino, às vezes, o Fernando (Piñatares, preparador físico) briga porque a gente fica zoando antes do aquecimento. Ele fica bravo, mas acho que é importante ter um ambiente gostoso. Não sou tão engraçado quanto o Reinaldo, mas a gente está sempre se divertindo - disse o camisa 10, uma das maiores esperanças do Tricolor para o clássico contra o Santos, às 16h deste domingo, na Vila.

Motivos para sorrir não faltam, principalmente após a chegada de Diego Aguirre. Depois de um período de instabilidade sob o comando de Dorival Júnior, o meia se consolidou como uma das referências da equipe que está surpreendendo muita gente ao brigar pelo título brasileiro. O relacionamento com os companheiros é o melhor possível, sobretudo com Diego Souza, Reinaldo e Everton, e o carinho da torcida só cresce. Tudo isso no clube pelo qual torcia na infância e vestindo a camisa 10 que era de Raí, seu antigo ídolo e atual diretor. Aos 37 anos - mas com "carcaça de 27", como ele mesmo diz -, Nenê ainda quer muito mais.

- Cara, eu não penso ainda em parar. Estou muito bem aqui, tenho mais dois anos, talvez mais três (o contrato atual vence no fim de 2019). A ideia de parar aqui seria realmente maravilhosa, não me vejo em outro time. Estou muito feliz aqui e a ideia é ficar muito tempo ainda.

Veja abaixo a entrevista completa com Nenê:

LANCE!: É especial para você jogar na Vila Belmiro contra o Santos, clube que você defendeu entre 2003 e 2004?
​Nenê: Com certeza. Tenho bastante carinho pelo Santos. Foi pouco tempo, mas fiz jogos muito bons, até hoje o pessoal lembra e tem carinho por mim. Quando eu saí do Paris (em 2013), estava praticamente certo para voltar e acabou não virando. A Vila Belmiro é um estádio bem tradicional, um lugar que eu conheço bem. É legal, com certeza será diferente. Espero que a gente faça um grande jogo.

Tem algum gol na Vila que você não esquece?
Ah, tem vários que foram marcantes para mim. Teve um gol na semifinal da Libertadores (contra o Independiente Medellín) que classificou a gente para a final. Gols de falta bem legais. Um gol que eu lembro que foi bonito para caramba acho que foi contra o Paraná. Dei uma meia-lua e o Pelé estava na Vila Belmiro, teve imagem dele vibrando com o gol. Foi bem marcante.

E foi lá que você quebrou um dente, não foi? O pessoal aqui tira sarro...
Eu já tinha esse dente quebrado. Quebrei na piscina quando era moleque. Fui mergulhar, bobão, não sabia que era rasa e quebrei o dente. Estava arrumado com uma resina, mas acho que não era tão boa. Tomei uma cotovelada e quebrou. Aí não sei porque fui dar coletiva com o dente quebrado (risos). Eu quis brincar com a situação. Até brinquei com o Leão no meio do jogo: "Olha, quebraram meu dente". E ele: "P..., vai jogar!". Ficou bravo (risos). Eu levei na brincadeira, mas fui panguão, porque depois de tantos anos os caras lançaram essa foto para me zoar.

Nenê com o dente quebrado
Nenê com o dente quebrado - FOTO: Reprodução

Quando você saiu do PSG e ficou perto de voltar para o Santos, que ainda tinha o Neymar, parecia o momento ideal para conquistar títulos no Brasil. Depois você ainda veio para o Vasco e bateu na trave. Sente que chegou a hora de erguer um troféu relevante aqui?
Na trave eu não digo, porque o que nós tínhamos na cabeça de conquistar nós conquistamos, o Carioca. Quando eu saí, deixei o time na Libertadores, que era o objetivo, era o que a gente tinha condições de alcançar. Eu não acho que bateu na trave no Vasco, mas realmente poder conquistar o título brasileiro é uma coisa que não tem preço. E ser campeão no clube do coração, então, vai ser muito especial. A motivação é muito grande para ajudar o São Paulo a voltar para o lugar em que estava acostumado antigamente.

Como era o Nenê são-paulino? Era fanático?

Eu não era daqueles caras fanáticos. Eu gostava de jogar bola, ficava o dia inteiro jogando bola. Eu via os jogos na TV, até porque não tinha condição de vir para cá, nada. Quando eu era moleque não saía de Jundiaí por nada (risos). Eu assistia aos jogos, às vezes ia para a escola com a roupa, mas não era aquele fanático. Eu tinha meus ídolos, minhas referências, mas queria saber só de jogar bola na rua, todo dia, com meu time de salão lá na Vila Rami, em Jundiaí, o Floresta.

E na época o Raí era o seu maior ídolo?
Era, era ele mesmo. Eles foram campeões mundiais, ele fez aquele golaço de falta. Isso para mim é muito bacana, é uma coisa muito louca. A gente fica brincando às vezes: "Pô, você era meu ídolo, depois jogou no Paris, foi o 10, depois eu joguei lá também, agora aqui". Para mim é uma honra trabalhar com ele, é um cara muito bacana. Ele falou: "Agora é a sua vez, a gente tem condições de conquistar muitas coisas, vamos juntos, vai dar certo". É muito bacana você poder fazer o que seu ídolo fazia antes. É realmente especial, bem legal.

O torcedor do São Paulo gosta muito de você. O que acha dessa identificação? Acha que pode se tornar ídolo?
Cara, eu vejo isso com a maior alegria possível. Acho que eles veem a minha paixão pelo futebol, porque eu faço o que eu amo, eu me doo. Não é que sou meia esquerda e fico só ali. Não, eu quero ajudar o máximo possível e tento retribuir o carinho deles a cada jogo, a cada treino. Sempre que a gente pode faz uma aproximação legal com eles. Fico muito feliz de ser essa alegria para eles, porque eles me transmitem isso. O reconhecimento da torcida não tem preço para mim. Isso me dá uma motivação ainda maior. E esse negócio de ídolo não fico pensando, é uma coisa que vem deles mesmo. Se eles considerarem, para mim vai ser incrível, mas eu só vou poder aceitar isso se conquistar um título importante. E espero que seja esse ano já, o Brasileiro.

A "chapada do Nenê", que caiu no gosto da torcida, você deve ao Reinaldo. Já havia trabalhado com um cara tão extrovertido assim?
A gente falava isso antes, só que ele falou no treino e o cara filmou. Ele falou de uma maneira que só ele sabe, né? Então pegou, foi um negócio incrível, até fiquei surpreso com todo mundo falando. E o Reinaldo, para mim, é o cara mais resenha que eu já tive como companheiro. E não é que o cara quer ficar fazendo graça, é o jeito dele, é natural. Até o Tirulipa (humorista, filho de Tiririca) brincou: "Pô, você parece meu irmão". Cara, é muito bacana, ajuda pra caramba o ambiente, é um cara espetacular. Não tem tempo ruim com ele também. Está sempre brincando, zoando todo mundo. E eu estou sempre rindo, né? É um cara único. A gente tem que aproveitar essa alegria dele, que contagia o resto. Vamos no embalo.

E ele tem jogado bem também. Até como ponta.
Ele é versátil, né? É um cara que ataca bem, tem um cruzamento muito bom, a chapada dele é boa também. Ele sempre teve essa característica de atacar bastante. Então quando acontece qualquer coisa e precisa de um cara ali, ele ataca bem e além disso sabe defender. Contra o Atlético-MG ele jogou ali e a gente teve uma intensidade muito forte, tivemos a posse de bola o tempo inteiro, pressionamos. No próprio jogo contra o Corinthians ele fez os dois gols. O "treineiro" viu, né? Contra o Atlético ele jogou na ponta porque já tinha ido bem nesse clássico. É bom porque pode ajudar nas duas posições.

O Diego Souza é outro jogador de quem você é muito próximo. Vocês evoluíram juntos no clube, estão até empatados na artilharia da temporada com 12 gols... Como é essa conexão entre vocês?
​Ele é um cara muito fácil de lidar, um cara parceiro. A gente sempre tenta fazer coisas fora daqui, um jantar, um churrasco, um pagodinho que ele gosta, um truco... Tudo isso vai aproximando a gente, né, cara? Ele é de grupo pra caramba, é inteligente. A gente chama essa responsabilidade pela nossa liderança e pela experiência, então a gente se juntou ainda mais por isso. Tentamos ajudar extracampo também, nos jogos, nos treinos. E é legal a gente estar empatado na artilharia. Na minha opinião ele poderia ter até mais gols, porque ele é o centroavante, mas ele também foi meia. É meio parecido o jeito da gente jogar, então a gente se entende muito. Eu brinquei que ainda não tinha dado uma assistência para ele (até o jogo contra o Bahia), mas a nossa conexão faz com que um ou outro esteja sempre ajudando de alguma maneira. Se não está ele, estou eu. É uma coisa muito bacana entre a gente, gosto muito dele. Antes ele parecia ser doidão, mas é um cara muito tranquilo, gente finíssima, estou muito feliz por essa nossa amizade.

Ele parecia doidão?
Acho que é porque ele também sempre foi muito competitivo, a gente é parecido até nisso. Ele fica doido se perde. Ele até fala: "Eu fico cego". Tipo assim, ele fica p... quando está perdendo. Mas antes ele tinha mais esse tipo de coisa e tal. O cara que é de fora imagina, né? Fala: "Pô, o bicho é embaçado". Mas nada a ver, é o jeitão dele. Até o jeito dele andar mesmo (risos).

Depois de um começo instável, ele se fixou como camisa 9. É algo que te ajuda?
Ele vai muito bem de cabeça, protege muito bem a bola. Ele me ajuda, porque eu não fico sozinho. A gente até fala: "Mano, fica perto de mim, fica perto de mim". Quando a gente está separado fica mais difícil. A inteligência dele ajuda bastante a fazer uma tabela, às vezes ele já está sabendo que eu vou dar uma bola de primeira. Me ajuda pra caramba.

É o seu melhor parceiro no futemesa?

Quando eu jogava com o Rodrigo Caio a gente não perdia. E quando jogo com o Diego Souza não tem jeito, a gente não perde. A gente separa para dar jogo. Ultimamente tenho jogado mais com o Reinaldo, e ele é chato pra caramba. Ele brinca, rouba uns pontos, o Diego fica p... É engraçado.

O crescimento do time e de vocês dois coincide com a chegada do Aguirre. Você já tinha trabalhado com ele por três meses no Al-Gharafa. Já havia uma afinidade?
Afinidade daquela época, não, porque foi pouco tempo. Mas a gente já se conhecia e isso ajudou bastante. Eu também falo espanhol, então isso ajuda a se comunicar com os outros também. E ele também sabia como eu era, já me conhecia, então isso ajudou bastante. É um cara que foi realmente essencial para a gente criar essa identidade que eu acredito que faltava, ter essa intensidade que a gente não estava tendo por "n" razões, não falo nem do treinador. A gente precisava criar uma coisa assim, de que poderíamos conquistar coisas grandes, porque o grupo já era muito bom. Faltava encaixar. Ele encaixou primeiro atrás, passamos a não tomar mais gols, depois começamos a fazer os gols na frente, jogar com o mesmo time em vários jogos, entrosamos. Entramos nos trilhos e começou a dar certo.

E o seu posicionamento também mudou. Com o Dorival, você jogava mais pela ponta, com mais obrigação de marcar. Houve uma conversa sobre isso com o Aguirre?
Ele mesmo já sabia, já conhecia minhas características. Mas dependia muito também do sistema, dos jogadores que tinham aqui. Ele acabou dando essa confiança, mostrando que ali eu podia render mais. E eu disse que ali é onde eu me sinto mais à vontade, deu certo desde o princípio e graças a Deus as coisas fluíram muito bem.

Você chegou a dizer para o Dorival que não se sentia bem naquela posição?
Até conversamos, ele sabia disso, mas ele precisava criar uma estratégia nova porque o time não estava conseguindo render e fazer os gols como ele estava pensando. Eu não estava tendo problema nenhum, estava até jogando bem, no começo fiz gols, dei passes. Mas em alguns jogos o outro time atacava muito, eu tinha que voltar com o lateral e consequentemente não chegava na frente como eu posso fazer quando estou no meio. E ali eu pegava menos na bola também. Eu gosto de estar sempre pegando na bola. No meio eu tenho a opção de cair para a direita, para a esquerda, dar opção para os volantes jogarem comigo. Se eu não estou com a bola é como se eu não estivesse fazendo nada, ajudando em nada. Não que era ruim, mas onde estou agora o rendimento poderia ser muito maior, como aconteceu.

O Aguirre é o grande responsável pelo fato de o São Paulo vender caro qualquer derrota e ser um time mais raçudo hoje em dia?

Acho que foi indo aos poucos, mas com certeza ele ajudou bastante. Não faltava vontade de ganhar, isso sempre tem, mas faltava o algo a mais. Se não estava dando certo a gente tinha que buscar o outro lado. Não vai na qualidade? Vai na raça. E também a confiança. O time estava com dificuldades. É normal, era um time novo, estava entrosando. Não é que ele chegou e fez ser assim. Foi o curso normal das coisas. Mesmo uma seleção não rende nos primeiros jogos, nos primeiros meses. Tinha que encaixar, tinha que entrosar, e a gente foi entrosando, foi se unindo: "Pô, vamos que a gente consegue". E o Aguirre trabalhou bastante nessa parte, ajudou muito, mas o curso natural das coisas ajudou a gente a ficar dessa maneira.

Hoje você se considera insubstituível na equipe?

Nenhum jogador é insubstituível. Eu tento sempre dar meu melhor, ajudar o time, mas a gente precisa de todos. Quando eu estava suspenso ou quando o Aguirre me deu um descanso depois da viagem da Sul-Americana, o Shaylon entrou, fez gol e tudo. Todos os jogadores são extremamente importantes, a gente fala muito sobre isso. Nosso diferencial não é Nenê, não é Diego Souza, Reinaldo, Everton... É o grupo. O grupo é muito bom, e não são só 11. A temporada é muito longa e acontecem problemas. Eu, graças a Deus, não machuco nada, mas sempre pode acontecer o que aconteceu com o Everton, o Bruno Peres. Então todos são importantes.

Vocês têm adotado o discurso do "jogo a jogo", mas dá para dizer que um clássico como o de domingo tem peso extra na briga pela liderança?

Cada jogo é uma final, mas com certeza vencer um clássico é diferente, dá ainda mais confiança. Isso é normal. Mas a gente pensa realmente no próximo jogo, então o jogo contra o Santos vai ser o mais importante do ano para a gente. Mesmo que a gente vá jogar fora de casa, não importa. Temos que jogar da mesma maneira em casa e fora, ir com a máxima vontade de conquistar os três pontos.

Quem são os maiores adversários do São Paulo no Brasileiro?

Cara, acho que os três times que estão ali junto com a gente. Está tudo muito perto, três pontos, um ponto, isso não é nada. Até quem está com quatro, cinco pontos a menos, acho que a diferença é pouca. Inter, Flamengo e Palmeiras.

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