Retranqueiro? Saiba como o Santos pode jogar com Fábio Carille
Treinador está acostumado a trabalhar bem com equipes limitadas
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O técnico Fábio Carille voltou ao Santos com a missão de comandar a reestruturação da equipe na Série B do Brasileirão. Embora seja bem avaliado - especialmente dentro do clube - pela passagem anterior, o treinador provoca certa resistência em uma parte da torcida do Peixe.
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Isso porque Carille ficou marcado por um estilo de jogo defensivo, o que desagrada parte dos santistas. Outros trabalhos de sua carreira, no entanto, mostram que sua principal marca está na versatilidade.
O momento de maior destaque na carreira do técnico foi, inegavelmente, o Brasileirão de 2017, do qual foi campeão com o Corinthians. O time era considerado limitado, a ponto de iniciar o ano apelidado como "quarta força" pelos rivais paulistas. A solução encontrada pelo treinador foi manter aquilo que deu certo sob o comando de Mano Menezes e Tite em anos anteriores. Com estes profissionais, vale lembrar, Carille era o responsável pelo treinamento específico do sistema defensivo.
Os sistemas táticos utilizados eram o 4-2-3-1 ou o 4-1-4-1. A principal marca da equipe estava na defesa que marcava por zona (ou seja, priorizava a proteção do espaço e não as perseguições ao adversário) e se posicionava na entrada da área, como um "muro", para proteger a região do campo conhecida como "funil" (de onde saem a maioria dos gols no jogo). No ataque, ideias simples: a construção por meio de triangulações nas pontas e a infiltração de um dos volantes (Maycon) - na área.
Além da chegada do volante, o Corinthians também contava com a presença de Jô na área. O centroavante foi peça-chave do título, marcando 18 gols - foi o artilheiro da competição. E foi a partir da saída do atacante que Carille começou a mostrar todo o seu repertório, no Paulistão de 2018.
Com dificuldades para encontrar um jogador dentro do próprio elenco que pudesse fazer jogadas de pivô, o técnico resolveu apostar em um sistema tático sem atacantes, uma espécie de 4-2-4-0. Clayson e Jadson jogavam nas pontas, enquanto Rodriguinho e Romero atuavam nas costas dos volantes adversários. Foi com essa estratégia que o Timão sobrecarregou Felipe Melo, único volante do time do Palmeiras à época, e superou o rival na final do Paulistão de 2018.
Em maio do mesmo ano, Carille se transferiu para o Al-Wehda, da Arábia Saudita, mas a aventura no Oriente Médio durou pouco tempo: retornou ao Corinthians em 2019 para iniciar um novo trabalho. Com novos jogadores, montou uma equipe que tentava controlar a posse de bola, com Sornoza e Jadson circulando no meio do campo e Ramiro trabalhando ao lado de Fagner pela ponta direita.
A proposta, no entanto, não deu certo e o técnico acabou demitido no final da temporada. A culpa pelo "fracasso", na visão do próprio treinador, foi dele mesmo, como contou em entrevista ao SporTV em 2020.
- Foi um ano de aprendizado, de coisas que não voltarei a fazer na carreira. Erros acontecem, mas o importante é aprender com eles. Eu não faria tantas mudanças como fiz. Quando você faz muitas mudanças, vai tirando a confiança do jogador.
Em 2020, deu início a nova passagem pelo futebol saudita, dessa vez no comando do Al-Ittihad. Deixou a equipe em agosto do ano seguinte graças a uma divergência com a direção do clube, mas não sem deixar bons resultados: chegou à final da Liga dos Campeões Árabes em 2020 e levou o clube à sua melhor campanha na Liga Saudita desde 2016.
PRIMEIRA PASSAGEM PELO SANTOS
Fábio Carille chegou ao Santos em setembro de 2021 para livrar o time do risco de rebaixamento no Brasileirão. Logo de cara, diagnosticou problemas na defesa e mudou o sistema tático da equipe: passou a atuar com três zagueiros, no 3-4-2-1.
O time marcava com linha de cinco defensores, seguindo os mesmos padrões da linha de quatro que protege a entrada da área. O fato de ter um jogador a mais na defesa permitia ao Santos ser mais agressivo na pressão aos adversários. Uma vez que a bola era recuperada, o time puxava o contra-ataque explorando o ataque dos alas ao espaço.
O objetivo foi cumprido, mas um início ruim no Paulistão serviu como justificativa para que Edu Dracena, então diretor-executivo do Santos, demitisse o técnico. O trabalho de Carille não agradava ao dirigente, que decidiu realizar a troca.
Seus dois trabalhos seguintes foram sem destaque: no Athletico-PR, durou apenas sete jogos (três vitórias e quatro derrotas) e foi demitido após sofrer uma goleada por 5 a 0 diante do The Strongest (Bolívia) na Libertadores. Pelo V-Varen Nagasaki (Japão), campanhas discretas: terminou a segunda divisão apenas na 11ª (2022) e na 7ª posições (2023).
Diante de tantas indefinições na montagem do elenco do Santos - quem sai, quem fica e reforços - é difícil apontar como Carille deve organizar sua equipe. A consistência defensiva, característica fundamental para que o time seja competitivo na segunda divisão, deve dar as caras novamente.
Os duelos físicos podem forçar o técnico a atuar com um centroavante mais fixo, como fazia com Jô em 2017. Outra característica da Série B que deve influenciar na montagem do time são os gramados ruins, que dificilmente farão o treinador optar por um time que tentava controlar a posse.
Carille tem repertório e conhecimento suficientes para conduzir o Santos pela disputa da Série B sem sofrimento. Além disso, está acostumado a trabalhar com elencos limitados, como deve ser o Santos na próxima temporada graças às limitações no orçamento. Diante das circunstâncias, sua contratação parece uma escolha acertada da direção santista.
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