Candidato à medalha, Avancini admite estar abaixo de europeus
Brasileiro de 32 anos compete em Tóquio na madrugada desta segunda-feira, na categoria mais radical do mountain bike, o cross country. Ele chegou ao topo do ranking este ano

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Esperança de medalha para o Brasil no ciclismo mountain bike, o petropolitano Henrique Avancini, de 32 anos, viveu nos últimos anos o auge da carreira e vai em busca do primeiro pódio olímpico. Ele entra em ação na categoria cross country, o XCO, a mais radical do esporte, nesta segunda-feira, às 3h (de Brasília).
O brasileiro chegou a liderar o ranking mundial do XCO em abril, em razão dos bons resultados alcançados em 2020. No ano passado, ele se tornou o primeiro brasileiro na história a vencer uma etapa da Copa do Mundo da modalidade, na República Tcheca.
Atualmente, Avancini ocupa a 11ª posição na lista da UCI (União Ciclística Internacional). Na atual temporada, o atleta disputou apenas duas etapas da Copa do Mundo, tendo como melhor resultado o 10º lugar em Albstadt (ALE).
Apesar de admitir estar abaixo dos europeus na preparação, ele acredita que pode se colocar entre os gigantes do MTB mundial na capital japonesa.
- Estou me sentindo bem e calmo. Fiz uma alteração na programação de treinamentos nas semanas antes dos Jogos, e resolvi permanecer no Brasil para fazer toda a preparação lá com o intuito de manter as coisas mais sob controle, com menos desafios logísticos no meio da pandemia, e acho que foi uma decisão acertada. Estou me sentindo em um estado muito bom - comentou Avancini, ao LANCE!, antes de embarcar para Tóquio.
Entre os principais rivais de Henrique nos Jogos de Tóquio estão os suíços Mathias Flueckiger e Nino Schurter (1º e 3º do ranking, respectivamente), e o francês Victor Koretzky, segundo melhor do mundo.
Confira o bate-papo completo com Avancini:
LANCE! Como você avalia a procura pelo mountain bike no Brasil atualmente?
Henrique: O esporte vem crescendo globalmente, até em locais em que a bicicleta não é tão utilizada. O MTB como disciplina esportiva é centralizado na Europa. Quando você pensa como esporte competitivo, recreativo ou amador, existem outras áreas no mundo em que a modalidade é tão grande ou maior. O Brasil é um dos polos globais do MTB. É óbvio que o país ganhará cada vez mais algum destaque. Estamos pleiteando espaço com pessoas tradicionais, a direção do esporte muitas vezes tem uma cabeça antiquadas, de décadas atrás. Esse processo de globalização é muito menos agressivo.
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L!: Qual será a importância dos Jogos de Tóquio para o MTB ?
H: Os Jogos de Tóquio trazem esse reflexo. Após a Olimpíada do Rio, o Brasil passou a ser a principal audiência da Copa do Mundo a nível mundial de um evento que tem números impressionantes, para modalidades olímpicas. Sendo número um mundial. É uma transição lenta. Tóquio é uma oportunidade de sair do ninho e mostrar pros atletas e equipes que dá para viajar mais, expandir para locais diferentes e levar o esporte para mais longe.
L!: Como você avalia o terreno das disputas no Japão?
H: É um lugar com condições muito semelhantes com as que aprendi a pilotar, surpreendentemente, de mata atlântica. Sou de Petrópolis, onde tem esse tipo de vegetação. Não sei até que ponto isso é vantagem. É algo muito sutil, quando você se sente confortável pode ser algo negativo. Estou acostumado a competir em termos que não tenho hábito. Vai ser uma das poucas vezes na carreira que estarei em um terreno similar. Mas não é só meu desempenho isolado, é isso aliado aos outros obstáculos, os vivos.
L! Como vê a ascensão dos rivais em 2021, no momento em que você enfrentou barreiras com a pandemia? Isso te preocupa?
H: Meu começo de ano foi inconstante. Quando pretendíamos disputar alguma competição, eu não podia viajar. Eu fazia um treino considerando o evento, e ele era cancelado. Meu início de temporada foi postergado em dois meses, e eu perdi em qualidade. Estava gerando menos ganhos e trabalhando de forma pesada. Não me senti bem e resolvi dar um passo atrás para resgatar. Assumi a liderança no final de 2020 e permaneci até maio. Fiquei sete meses liderando o ranking, e é uma modalidade europeia. O calendário acontece lá, as principais equipes estão lá. É o esporte que amo, mas tenho que lidar com isso. Não é verdade que eu e os europeus passamos pelas mesmas dificuldades. Passei dois meses na Europa, e é uma diferença grande. Você está trabalhando em condições climáticas que não são as ideais, o que é diferente de voltar para casa, ficar com sua família, ir ao CT e à academia pessoal. Estou no mesmo mar que eles, mas não no mesmo tipo de embarcação. Tem gente que está com o macarrão boiando. Não é algo que me incomoda, sempre foi assim. Mas as coisas ainda estão em processo de mudanças.
L!: Qual é a sua impressão sobre a imagem dos Jogos Olímpicos em meio à pandemia? Os japoneses estão no clima?
H: Eu nem me prendo ao contexto atual. Nem quero trazer pros meus pensamentos, meu dia a dia. Os valores do esporte são justamente lidar com adversidades, com resiliência e adaptabilidade. Só temos que ser atletas. Não é fácil, mas trazer o desafio aumenta o risco. É uma situação que amplia o estresse e os desafios, mas no fim das contas é o ambiente recheado de pessoas que foram mais preparadas para lidar com isso. Se a vibe vai ser boa ou não, não sei. Preciso correr e estar em bom estado.
L!: Quais são seus planos para além dos Jogos?
Sou bem envolvido em organizações de eventos. Eu participei ativamente da organização da etapa da Copa do Mundo de MTB em 2022, em Petrópolis. Foi um processo longo, que começou em 2018, com as primeiras reuniões. Faço parte do Conselho Administrativo da CBC, como atleta e consultor. Temos um esporte fértil, uma indústria capacitada, uma mídia que comunica, além de equipes. Os atletas não dependem de investimento externo para se dedicarem. É um caso muito diferente do cenário olímpico geral do país. Não temos dificuldades que outras modalidades têm. Em gestão, temos uma oportunidade de ouro.
L!: Quais tem sido as maiores dificuldades para fazer o esporte crescer?
H: O que me incomoda é que o que vem sendo feito de mais significativo pelas iniciativas privadas não tenha envolvimento profundo com as entidades organizadores do esporte. Há um desejo de melhora, mas ainda falta a capacitação interna para aproveitar o momento. O esporte pode crescer muito mais. É uma crítica e um elogio ao mesmo tempo.
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