Tour de France: Chegou a hora do maior show do ciclismo de estrada

Veja análise de Fernando Moyna, do blog 'Solta o Freio', sobre a prova que começa sábado

Prova Tour de France
A edição de 2020 do Tour de France começa neste sábado (Foto: Divulgação)

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Teremos vários atrativos além dos melhores ciclistas das melhores equipes no Tour de France 2020. O percurso deste ano será entretenimento puro. Sem dúvida, o melhor dos últimos 10 anos. Só teremos uma etapa completamente plana na décima. E mesmo assim, será no litoral oeste da França, com excelente chance de ventos cruzados e chegada numa ilha.

Adicione a esse percurso uma temporada totalmente atípica, em que todos enfrentaram a novidade de alinharem para largar para um Tour de France sem o ritmo de provas como num ano normal. Com a reformulação do calendário depois da pandemia as equipes acharam melhor apostar TODAS suas fichas no Tour de France. Além do óbvio fato do Tour ser a prova mais importante do ano, levaram em conta na preparação em março da montagem de seus calendários 2 motivos principais:

- Porque ainda não se sabia se poderiam acontecer mais cancelamentos até o fim da temporada..

- Porque o Giro, que largará só 2 semanas após o Tour, acontecerá ao mesmo tempo da temporada de clássicas. Ou seja, quem largar no Giro não largará para a maioria das clássicas mais importantes do ano.

O que vinha acontecendo nos percursos era a ASO, organizadora da prova, dar um peso maior ao critério financeiro, para as cidades que pagam para ter a largada e a chegada das etapas, e menos ao aspecto esportivo das etapas. Claro, sempre terão que colocar etapas de ligação entre as regiões e para os sprinters, mas bastava colocar alguma coisa, algum calombo que fosse, para que valesse a pena para que ciclistas fortes como os especialistas em clássicas investirem, gastarem energia na tentativa de fugas. Do contrário, como vimos em outras edições, tínhamos a fuga com 2 ou 3 ciclistas das equipes convidadas para mostrarem seus patrocínios na transmissão internacional e todo mundo sabia que viria para o sprint massivo. Ou seja, 3 horas de transmissão mostrando castelos, igrejas, vinhedos e zero de disputas. Muita gente assiste e aprecia o lado turístico da transmissão, mas ter 5, 6 ou as ridículas 9 etapas como em 2017 completamente planas desestimula a maioria que quer ver o lado esportivo da prova, pois vão fazer outra coisa e colocam o alarme para acordar a 10km da chegada.

Acho que talvez o antídoto tenha sido a performance do francês Alaphilippe ano passado. Um ciclista tremendamente versátil, que lembra o Valverde, mas como escala justamente menos e tem mais sprint, o percurso até pelo menos a metade do Tour está lotado de etapas onduladas de todo tipo. O abandono do também francês Pinot ano passado foi triste, mas mostrou que com um percurso montanhoso e com menos contrarrelógio ele pode SIM desafiar as grandes equipes pela camisa amarela. Coincidência ou não, só haverá 1 contrarrelógio e mesmo assim COM montanha e na última etapa. Melhor para quem vai assistir.

Essa incerteza que o percurso proporciona joga contra o favoritismo de alguém. Esse ano a equipe Ineos finalmente terá com a equipe Jumbo um duelo pelo controle do pelotão. Com o corte do Froome e do Thomas, só teremos 1 ex-campeão na largada, que é o atual campeão Bernal. Dos 11 campeões de grandes voltas em atividade, teremos 6 largando: Bernal, Carapaz, Roglic, Dumoulin, Quintana e Valverde.

Até a disputa da camisa verde, em que o Sagan SEMPRE irá largar como favorito, esse ano passa a ser mais aberta. O próprio Alaphilippe passa a ser um candidato, assim como Nizzolo, Trentin, Stuyven e os sprinters “puros”, como Ewan, S. Bennett e Viviani. Outros excelentes sprinters como Gaviria, Demare e Ackermann foram preteridos em suas equipes para reforçarem o apoio aos que disputam na geral (GCs) nas suas equipes. Esses irão “só” para o Giro de Itália, com mais etapas para os sprinters.

Com poucas etapas com chegadas em sprint massivo, aumentará a disputa dos sprints intermediários, que distribuem pontos na disputa da camisa verde, já que a chance de ficarem para trás antes da chegada será boa. Mais uma vez, melhor para quem assiste.

Na disputa das camisas de bolinha de melhor escalador, essa realmente não há como saber. Já teremos 2 montanhas de “categoria 1” na 2ª etapa. Será um total de 28 montanhas categorizadas, mas muito distribuídas entre as 3 semanas de prova. Graças aos deuses do ciclismo.

Quem gosta de analisar a altimetria das etapas notará um “B” amarelo na última ou penúltima montanha das etapas. Serão bônus de tempo (8s, 4s e 2s), não pontos, no topo das montanhas. Isso serve para incentivar os GCs, que querem disputar a geral, a atacarem antes do topo da última montanha e evitar que as equipes como a Ineos ou Jumbo controlem com seus super gregários o ritmo altíssimo na ponta do pelotão e inibindo as fugas dos escaladores. Com sorte, os escaladores irão se arriscar por esses bônus e quem sabe, façam uma aliança temporária para se livrem das 2 equipes que dominarão a prova.

Três semanas, muitas disputas, muitos candidatos, start list de galáticos, excelente percurso e muita incerteza.

Preparem-se! Vai começar o maior evento esportivo mundial de 2020.

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