Carl Lewis, lenda olímpica, dá show de simpatia e mostra seu lado humano na COB Expo
Dono de dez medalhas olímpicas, o norte-americano arrancou risadas e deu detalhes de sua carreira e vida pessoal durante passagem por São Paulo

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Aos 64 anos, com dez medalhas olímpicas no currículo e inúmeros recordes batidos ao longo da carreira, Carl Lewis é daquelas figuras que até quando se vê de perto é plausível se questionar se aquela cena, de fato, está acontecendo. E não só pela importância histórica do norte-americano para o esporte e para a modalidade, mas muito pela simpatia e o jeito "boa praça" que exalou tanto quanto a aura de campeão durante sua passagem pela COB Expo, em São Paulo. Afinal, não é todo multicampeão do esporte que se vende mais humano do que atleta.
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Quem acompanhou o painel com Carl Lewis durante a feira organizada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) ouviu o ex-saltador e corredor falar sobre sua carreira, o atual trabalho como técnico, a nova geração do atletismo e também sobre sua vida pessoal e os valores sociais que carrega. Lewis fez questão de se apresentar como um competidor que saiu do "desacreditado" para uma unanimidade no universo esportivo. Para ele, não há fórmula mágica acima do esforço e do treino para todo ser humano que quer ser um atleta de alto nível.
Nascido em Birmingham, Alabama, em 1961, cresceu em Nova Jersey, Nova Iorque, em uma família unida pelo atletismo. Seus pais, Bill e Evelyn Lewis, eram treinadores da modalidade e criaram os filhos incentivando à prática da corrida, uma família onde Carl teve como primeiras "adversárias" seus irmãos. E se engana quem acha que o futuro campeão era prodígio desde pequeno. O mais baixinho entre eles, menos que a própria irmã mais nova, Carol, Carl Lewis afirmou que acreditava ser "horrível" e que não iria longe. Mas seus pais mudaram isso.
- Durante anos da minha vida eu pensava que seria horrível e que não conseguiria ir longe. Mas meus pais me convenceram que eu seria alguém muito bom. Me ensinaram e técnica. Chegou um momento em que cresci e comecei a melhorar, tudo porque treinava muito. Aos 15 anos queria ser o melhor da minha casa, aos 16 do meu estado e aos 17 queria ser o melhor do mundo - descreveu Lewis no palco da COB Expo.
Carl se consolidou como uma jovem promessa do atletismo norte-americano na Universidade Houston e em 1981, três anos antes da primeira medalha de ouro nos Jogos de Los Angeles, em 1984, já era o número um nos 100 metros rasos. E foi na cidade das estrelas, na costa leste dos Estados Unidos, onde Lewis chegou ao lugar mais alto do pódio nas quatro categorias que disputou. Além dos 100 metros, venceu os 200, revezamento 4 x 100 metros e o salto em distância. Em 2028, voltará para Los Angeles como treinador.

E foi lá onde conquistou a medalha que guarda mais carinho. Além de ter sido a primeira de sua carreira, os 100 metros rasos em LA ensinaram uma lição importante para Carl Lewis e que o ajudou a superar as dificuldades que encontrou ao longo da carreira. Vencer fortalece o mental, mesmo nos atletas mais talentosos.]
- Eu acho que a [medalha] mais importante é a primeira. Em Los Angeles, nos 100 metros. Principalmente porque eu ganhei depois mais quatro malhadas de ouro. Mas há uma questão, se você perde a primeira você pensa que todos acham que você falhou, mesmo que vença as próximas - afirmou o ex-atketa, que ainda ressaltou que a presença de seu pai na conquista também a torna ainda mais simbólica.
- Meu pai faleceu em 1986 e ele só viu uma Olimpíada minha. Nela, em Los Angeles, a único prova que eu meus pais me assistiram ao vivo no estádio foram esses 100 metros. Ver eles lá me assistindo e vendo eles felizes torna a prova muito mais especial - completou.
Apesar da conquista mais importante ter sido na prova de velocidade, Carl Lewis não tem dúvida na hora de se definir com um saltador. "Eu sou um saltador. Ponto", destacou o ex-atleta enquanto falava sobre suas provas nas Olimpíadas. A categoria foi única que o norte-americano conquistou ouro nos quatro Jogos Olímpicos que disputou na carreira.
Inspiração em Jesse Owens
O maior ídolo da infância de Carl Lewis foi Jesse Owens, um dos principais nomes do atletismo mundial e referência na luta racial nos Estados Unidos. Owens se tornou um marco pelas quatro medalhas de ouro conquistadas em uma única edição, em Berlim, 1936. Fato que foi igualado na primeira Olimpíada de Lewis e superada nos anos seguintes.
Carl lembra do rápido encontro que teve com Jesse Owens no fim da década de 1970, quando ainda era criança, e seu pai o levou à Philadelphia para conhecer o ídolo do atletismo. De tudo o que viveu naquele dia, Lewis lembrou na COB Expo que a força do discurso do seu ídolo foi tão importante que até hoje lembra do tom de voz usado por ele.
- Era 1974 fomos a um encontro na Philadelphia. Meu pai me levou e eu fui apresentado a ele junto com um primo meu. Jesse Owens estava lá e eu estava olhando assustado pra ele. Lembro do tom de voz dele naquele discurso. E ele mudou minha vida por conta do que ele disse, aprendi sobre questões raciais, sociais e de esporte. Naquela época eu ainda não era tão bom, mas foi importante para que passasse a imitar ele e ter ele ali como referência - disse.

Família Lewis e sua relação com Pelé e o futebol
Da família de corredores e saltadores saiu também um jogador de futebol. Cleve Lewis, cinco anos mais velho que Carl, seguiu carreira em outra modalidade e jogou por times da North American Soccer League (NASL), principal liga de futebol profissional dos EUA no período. O atacante se destacou no futebol universitário em em 1978 entrou para a lista do draft da liga norte-americana, que seleciona os talentos da temporada (comum nos esportes do país até hoje).
Cleve foi draftado pelo New York Cosmos, clube que três meses antes também era a casa do Rei do Futebol, Pelé. O brasileiro havia se aposentado em 1º de outubro de 1977 e deixou um legado vencedor para o Cosmo, que foi o campeão Soccer Bowl da temporada (como era chamada a final da NASL). O irmão de Carl Lewis não chegou a atuar pelo ex-time de Pelé, mas seguiu em outras equipes do país até se aposetar em 1980.
- Meu irmão veio em 1973 para um intercâmbio de três meses no Brasil. Depois disso, um intercambista brasileiro passou dois anos anos com nós lá nos EUA. Eu sempre tive contato com o Brasil e com sua cultura. Antes de eu saber qualquer coisa sobre outra cultura, já não tinha internet naquela época, eu fui exposto à cultura brasileira - revelou.
Risadas e abraços com ídolos do atletismo brasileiro
A passagem de Carl Lewis em São Paulo foi a segunda de sua vida. Antes, ainda jovem, competiu no Brasil um dos seus primeiros campeonatos internacionais. Mas foi durante a COB Expo que mostrou que a simpatia está muito mais perto do brasileiro do que do norte-americano. Lewis teve interações que arrancaram boas risadas ao lado de campeões olímpicos brasileiros.
Maurren Maggi, ouro no salto em 2008, foi ao palco e abraçou o seu ídolo depois de contar da superstição que teve antes dos Jogos de Pequim (clique aqui e leia a história completa). André Domingos, prata no revezamento 4 x 100 metros em Atlanta em 1996, pediu o microfone para se declara à Lewis, a quem se referiu também como ídolo.
Em meio a uma plateia pouco iluminada, Carl Lewis acreditou que André se tratava de um competidor em atividade do atletismo, agradeceu o brasileiro e começou a dar dicas de como ele poderia melhorar ainda mais na carreira. Quando soube que Domingos tem, na verdade, 52 anos, não segurou o espanto e protagonizou um momento memorável em sua palestra.
- Quantos anos você tem? 52 anos? Eu achei que você tinha 32 anos anos. Como assim você tem 52 anos? Achei que ainda estava competindo - disse Lewis.
A líbero Fabi, bicampeã olímpica com o vôlei feminino em 2008 e 2012 e pediu a palavra no evento para lembrar Lewis que suas conquistas em Seul estavam completando 37 anos justamente no período que estava no Brasil. Os dois ouros (nos 100 metros e no salto em distância) e a prata nos 200 metros (a única de sua carreira) foram vencidas no final do mês de setembro de 1988.
- Uau, é verdade! 37 anos! Foram conquistadas em setembro, não em outubro, você tem razão. Você já era viva? Você é um neném - brincou Carl com a ex-jogadora de vôlei, que tem 45 anos e assistiu às conquistas da lenda do atletismo quando tinha apenas oito anos de idade.

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