Luiz Gomes: ‘Palmeiras é tricampeão na bola e na coerência’

Colunista do LANCE! exalta conquista do Verdão sobre o 'milionário' Flamengo

Palmeiras com a Taça
Felipe Melo ergueu novamente a taça da Libertadores pelo Palmeiras (Foto: EITAN ABRAMOVICH / AFP)

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O Palmeiras foi o grande e merecido campeão de 2021 da Libertadores. Fez uma campanha melhor, foi muito melhor na decisão. E uma vitória que foi construída não apenas dentro do campo, mas pela coerência e pelo trabalho feito fora das quatro linhas. Durante todo o ano, em diversos momentos, não foi pouco o ruído das redes sociais e de boa parte da mídia pedindo a cabeça do português Abel Ferreira. Mas a diretoria palestrina sempre fez ouvido de mercador e em nenhum momento de fato o treinador foi ameaçado. Deixaram-no trabalhar.


Bem diferente do que acontece no Ninho do Urubu. Onde a voz das ruas, as redes sociais e o gargarejo de conselheiros e diretores, ainda mais agora em um ano eleitoral, serviram para construir e azeitar uma verdadeira máquina de moer treinadores – muito mais do que resultados ruins dentro do campo.

Basta ver o aproveitamento que tinham Domenec Torrent e Rogério Ceni quando foram demitidos. O catalão ficou no cargo três meses e saiu com 62,3% de aproveitamento, deixando o Flamengo em terceiro lugar no Brasileirão e classificado para os mata-matas da Libertadores e Copa do Brasil na temporada passada. O ex-goleiro durou um pouco mais, oito meses, saiu com 59,3% de aproveitamento e três títulos na bagagem.

Os três têm crenças diferentes, estilos de trabalho diferentes, visões diferentes sobre o futebol. Impossível qualquer sequência de trabalho – e diga-se isso em defesa de Renato Gaúcho. E o resultado desse troca-troca desprovido de qualquer senso lógico ou critério é o foi dolorosamente coroado ontem em Montevidéu: o time mais caro, com o melhor elenco individual do país, com maior capacidade de investimento termina a temporada sem conquistar nenhum título de importância: Libertadores, Brasileirão e Copa do Brasil simplesmente escorreram pelo ralo.

O Flamengo não perdeu pela falha grotesca - pode-se se dizer que foi também uma boa dose de azar – de Andreas Pereira. O Flamengo perdeu porque Abel deu um nó tático em Renato Gaúcho. Escalou dois zagueiros e dois laterais, sim, mas começou jogando quase que com três zagueiros, dois alas e uma linha de cinco na marcação surpreendendo o rubro-negro com uma ligação rápida pelas laterais o que inclusive resultou no primeiro gol de Raphael Veiga para o Verdão.

A estratégia do português deixou Renato atônito e incapaz de reagir.

Os poucos momentos em que o rubro-negro foi melhor, no segundo tempo, quando Gabigol empatou, não foi por mudanças táticas nem substituições feitas pelo seu treinador. Não por coincidência se deu no momento da saída de Danilo e Zé Rafael, os volantes que o Abel Ferreira escalou para proteger a zaga e pela reação individual do próprio Gabigol e da impressionante superação de Arrascaeta que mesmo sem estar em condições plenas do jogo depois de tanto tempo parado liderou o time tentando uma reação.

A lição é clara: dinheiro não resolve. Ajuda sim, e muito, é claro. O equilíbrio das contas, o fim da gastança irresponsável e a profissionalização da gestão que vem dos tempos de Eduardo Bandeira de Mello, foram essenciais para o Flamengo chegar aonde chegou. Mas, quando a força do dinheiro se casa com a arrogância, com a soberba e o desrespeito aos próprios profissionais e aos adversários, se transforma em obrigação de vencer a qualquer preço, o peso aumenta e muitas vezes, como agora, o talento dentro de campo não basta para obter as vitórias.

O destino está selado. Como Dome e Ceni, Renato vai sair antes de completar sequer um ano à frente do time. Resta saber quantos títulos mais vai deixar escapar e até quando o Flamengo vai viver sob a sombra de Jorge Jesus e a ilusão de repetir a magia de 2019.

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