Equipes que deixaram saudade na Fórmula 1
Lotus, Jordan, Minardi, Brabham e outras escuderias que marcaram época.

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A Fórmula 1 é, ao mesmo tempo, vitrine de glórias e cemitério de sonhos. Ao longo de mais de sete décadas, dezenas de equipes nasceram com a promessa de revolucionar o esporte, conquistaram vitórias, revelaram campeões e construíram legiões de fãs — para, em muitos casos, desaparecerem sob o peso de crises financeiras, mudanças políticas ou decisões corporativas frias. Quando uma escuderia deixa o grid, não é apenas um carro a menos na largada: é um pedaço da história do esporte que se encerra. O Lance! relembra equipes que deixaram saudade na Fórmula 1.
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Alguns desses times se tornaram sinônimo de inovação radical, como a Lotus de Colin Chapman. Outros entraram para o imaginário coletivo como símbolos de luta contra gigantes, caso da Minardi. Houve ainda equipes que marcaram época pela irreverência e pela estética, como a Jordan, e projetos de fábrica que mostraram o lado volátil das montadoras na F1, como Jaguar e Honda em diferentes fases. Mesmo sem existir hoje, todas elas continuam a aparecer em debates, listas nostálgicas e documentários.
Essas escuderias deixaram saudade por diferentes motivos: carros revolucionários, pinturas inesquecíveis, rádios icônicos, vitórias improváveis, títulos conquistados com orçamentos modestos e, principalmente, por representarem eras da F1 que não voltam mais. Em um cenário cada vez mais corporativo, controlado por grandes grupos e fabricantes, a memória dessas equipes funciona como um lembrete de tempos mais caóticos, criativos e, para muitos fãs, mais humanos.
Neste guia, vamos relembrar a trajetória, os pilotos marcantes e o legado de equipes como Jordan, Minardi e Brabham, passando também por nomes históricos como Lotus, BRM e Arrows, além de projetos mais recentes como Jaguar, Caterham e Lotus F1 Team. Mais do que uma lista de estatísticas, é um passeio pelas histórias que ajudam a explicar por que tantos apaixonados ainda sentem falta desses carros no grid.
Ao final, fica claro que a morte de uma equipe de Fórmula 1 não é apenas o fim de uma empresa: é o encerramento de um capítulo inteiro da narrativa do esporte. E é por isso que alguns desses escudos seguem ocupando um lugar especial na memória coletiva, muitas vezes com mais carinho do que equipes que venceram mais, mas emocionaram menos.
Equipes que deixaram saudade na Fórmula 1
Lotus, BRM, Brabham: a era dos pioneiros
Entre os anos 1950 e 1980, a Fórmula 1 foi dominada por equipes que ajudaram a definir o que é um carro de corrida moderno — e várias delas não existem mais. A mais lembrada é a Lotus, fundada por Colin Chapman em 1958. Inovadora como nenhuma outra, a equipe introduziu conceitos que mudaram o esporte, como o uso extensivo de fibra de vidro e monocoque, soluções aerodinâmicas radicais, experimentos com efeito-solo e carros de chassi duplo. Com pilotos como Jim Clark, Emerson Fittipaldi, Nigel Mansell e Ayrton Senna, a Lotus colecionou títulos e se tornou sinônimo de genialidade técnica. O declínio financeiro nos anos 1980, somado à morte de Chapman em 1982, levou ao fim da operação em 1994, deixando um vazio criativo no grid.
Outra pioneira que deixou saudade foi a BRM (British Racing Motors). Fundada ainda no início da F1, foi a primeira grande tentativa britânica de construir carros e motores de ponta, culminando no título de 1962 com Graham Hill. Ao mesmo tempo em que encantava com projetos ousados, a BRM era famosa pela falta de confiabilidade, acumulando quebras e abandonos que minavam resultados e afastavam patrocinadores, até encerrar sua trajetória em 1977.
A Brabham talvez seja o melhor exemplo de combinação entre sucesso esportivo e inovação técnica. Criada por Jack Brabham e Ron Tauranac, a equipe conquistou títulos nos anos 1960 e viveu uma segunda fase gloriosa sob o comando de Bernie Ecclestone, com projetos de Gordon Murray. O "fan car" BT46B, com ventilador traseiro que gerava downforce insano, é um símbolo desse espírito inventivo. Foi com a Brabham que Nelson Piquet conquistou dois de seus três títulos mundiais, incluindo o primeiro da era turbo em 1983. A equipe encerrou as atividades em 1992, mas seu legado técnico segue influenciando o esporte.
Jordan e Minardi: equipes que deixaram saudade na Fórmula 1 nos anos 1990
Nos anos 1990 e 2000, duas equipes em especial conquistaram um tipo de carinho que vai além das estatísticas: Jordan e Minardi.
A Jordan Grand Prix, de Eddie Jordan, estreou em 1991 e rapidamente ganhou fama pela combinação de irreverência fora da pista e seriedade competitiva dentro dela. Foi a equipe que deu a Michael Schumacher sua primeira largada na F1, em Spa 1991, e que venceu corridas em meio ao caos, como o GP da Bélgica de 1998, com a dobradinha Damon Hill / Ralf Schumacher. Em 1999, com Heinz-Harald Frentzen, a Jordan chegou a brigar pelo título e encerrou o ano como vice no Mundial de Construtores. Apesar desses picos, a falta de orçamento consistente e a escalada de custos da F1 acabaram empurrando a equipe para uma sequência de vendas e rebrandings: Jordan virou Midland, depois Spyker, Force India, Racing Point e, hoje, Aston Martin.
Já a Minardi ficou eternizada como a equipe "do fundo do grid" mais amada da história. De 1985 a 2005, o time de Giancarlo Minardi quase sempre ocupou as últimas posições, mas revelava talentos e exibia um espírito de luta que cativava fãs. Fernando Alonso, Mark Webber, Giancarlo Fisichella, Jarno Trulli e vários outros pilotos importantes passaram por Faenza. Cada ponto conquistado era celebrado como uma vitória. A venda do time para a Red Bull, que transformou a equipe na Toro Rosso (atual RB), encerrou uma era mais romântica da F1, em que ainda havia espaço para pequenos construtores com grande personalidade.
Jordan e Minardi deixaram saudade não apenas pelos resultados pontuais, mas pela sensação de que eram times "humanos", com histórias improváveis, rádios divertidos, cores marcantes e a constante imagem de desafiar gigantes com recursos muito menores.
Arrows, Shadow, Prost e outras histórias de promessas e frustrações
Entre as equipes que viveram longos ciclos sem jamais atingir o topo, poucas ilustram tão bem a dureza da F1 quanto a Arrows. Fundada em 1978, a equipe passou 24 anos na categoria sem conquistar uma única vitória, embora tenha chegado perto em momentos como o segundo lugar de Damon Hill na Hungria, em 1997. O time conviveu com crises financeiras, trocas de donos, projetos ousados demais para o orçamento e, no fim, um acúmulo de dívidas que resultou em ausência nas últimas corridas de 2002 e na subsequente exclusão do campeonato.
A Shadow, escuderia americana dos anos 1970, também ficou na memória como símbolo de ambição e instabilidade. Conquistou uma vitória com Alan Jones na Áustria em 1977, mas logo perdeu gente-chave para formar a Arrows e não resistiu à fuga de patrocinadores. Já a Surtees, equipe criada pelo único campeão mundial em duas e quatro rodas, John Surtees, nunca conseguiu repetir na gerência o sucesso do fundador nas pistas e acabou deixando o grid em 1978.
Nos anos 1990, um dos projetos que mais geraram expectativa foi a Prost Grand Prix, do tetracampeão Alain Prost. Nascida a partir da antiga Ligier, a equipe tinha tudo para se tornar uma potência francesa: nome forte, apoio de montadora (Peugeot) e estrutura razoável. Na prática, porém, sofreu com motores pouco competitivos, decisões questionáveis e dívidas crescentes. Em cinco temporadas, somou apenas alguns pódios e encerrou atividades em 2001, mostrando que ser um grande piloto não garante sucesso como chefe de equipe.
Essas histórias, cheias de altos e baixos, ajudam a reforçar a ideia de que a Fórmula 1 é um ambiente onde talento técnico, carisma e tradição só sobrevivem se forem sustentados por um modelo financeiro sólido — algo que muitas dessas equipes jamais conseguiram estruturar.
Jaguar, Caterham, Lotus F1 Team e o peso das montadoras
A partir dos anos 2000, a F1 viveu uma onda de entradas e saídas de grandes empresas e fundos de investimento. Várias das equipes que deixaram saudade nesse período não eram "garagens" clássicas, mas sim projetos corporativos que, em alguns casos, se tornaram lições de como não gerir uma escuderia.
A Jaguar F1, herdeira da Stewart Grand Prix sob o guarda-chuva da Ford, correu de 2000 a 2004. Com orçamento alto, marca histórica e pilotos experientes, esperava-se que a equipe lutasse na frente. Em vez disso, ela se tornou símbolo de desperdício: decisões políticas, falta de foco técnico e resultados medianos. No fim de 2004, a Ford vendeu tudo para a Red Bull, que transformou a estrutura em uma das potências da era moderna — um contraste que aumenta a sensação de oportunidade perdida da Jaguar.
A Caterham, por sua vez, começou com boas intenções. Surgiu em 2010 como Lotus Racing, depois virou Team Lotus e finalmente Caterham, com a promessa de resgatar o espírito clássico do nome Lotus. Apesar de estrutura razoável e identidade visual forte, nunca marcou pontos e afundou em dívidas em apenas quatro anos. A equipe chegou a recorrer a crowdfunding para disputar a última corrida de 2014 e, em 2015, seus ativos foram leiloados, tornando-se um exemplo emblemático de má gestão em um ambiente de custos altíssimos.
Entre essas tentativas corporativas, a Lotus F1 Team (antiga Renault rebatizada por um acordo de naming rights) foi um caso curioso. Com Kimi Räikkönen e Romain Grosjean, o time conquistou vitórias e pódios entre 2012 e 2013, mas enfrentou um rombo financeiro profundo, salários atrasados e disputas legais. Em 2016, a Renault recomprou a estrutura e retomou o nome de fábrica, fechando o ciclo de mais uma "marca histórica" que voltou apenas como branding e não como a Lotus original dos tempos de Chapman.
Essas equipes deixam saudade por terem representado tentativas de renovação do grid, por pinturas marcantes e por momentos isolados de brilho, mas também mostram como a F1 moderna pune duramente projetos sem planejamento de longo prazo.
Por que essas equipes deixaram saudade na Fórmula 1
O que Lotus, Brabham, Jordan, Minardi, Arrows, Jaguar, Prost e tantas outras têm em comum? Mais do que resultados, carregavam identidade. Tinham cores, histórias, chefes e pilotos que o público reconhecia instantaneamente. Em um esporte cada vez mais homogêneo visualmente e dominado por gigantes corporativos, esses times funcionam como símbolos de uma F1 mais diversa em estilos, abordagens e ambições.
Muitas dessas escuderias também foram portas de entrada para pilotos que se tornariam lendas: Michael Schumacher passando pela Jordan, Fernando Alonso pela Minardi, Nelson Piquet e sua era na Brabham, Ayrton Senna na Lotus. Olhar para o passado dessas equipes é, ao mesmo tempo, revisitar os primeiros passos de alguns dos maiores nomes da história do esporte.
Por fim, há o fator emocional. Torcer por uma equipe pequena, longe de vitórias, mas que luta para sobreviver, cria um tipo de vínculo diferente. Cada ponto marcado, cada pódio improvável, cada volta liderada vira memória afetiva. Quando o nome desaparece do grid, o fã sente como se tivesse perdido um personagem importante da sua própria história com a Fórmula 1.
É por isso que, mesmo décadas depois de seus últimos GPs, nomes como Jordan, Minardi e Brabham ainda aparecem em faixas nas arquibancadas, em pinturas retrô e em discussões entre fãs. São capítulos fechados, mas nunca esquecidos, de um livro que continua sendo escrito a cada nova largada.
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