Luiz Gomes: ‘A impunidade e os atentados aos ônibus de Bahia e Grêmio’

Até quando a impunidade vai imperar no futebol brasileiro?

Ataque ao ônibus do Grêmio
Ônibus do Grêmio foi atingido por pedra (Foto: Grêmio/Divulgação)

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Primeiro foi o ônibus do Bahia, ontem o ônibus do Grêmio. Não foram incidentes, atos de vandalismo. Foram atentados de verdade, atos terroristas com bombas e pedradas, tentativas de homicídio. Nos dois casos, jogadores feridos, levados ao hospital, quando iam para o trabalho. E torcedores impunes, certamente comemorando seus feitos, de cara limpa, certos da impunidade que reina em torno do futebol brasileiro. Até quando?

O Bahia não vive uma boa fase. E isso é fato. Rebaixado para a Segundona no Brasileirão no ano passado, tem um começo de temporada muito ruim, acumulando maus resultados no Campeonato Baiano – onde está fora da zona de classificação e na Copa do Nordeste. O torcedor tem todo o direito de protestar, de vaiar, de pedir a cabeça do técnico, de chamar o time de sem-vergonha, o jogador de pipoqueiro. E de não ir à Fonte Nova ou ao velho Pituaçu para ver o time jogar.

O que é inconcebível é o que tem acontecido em Salvador. Uma onda crescente e impune de violência e terror que começou com a invasão do CT Cidade Tricolor, onde os jogadores foram perseguidos e ameaçados, passou por uma manifestação com fogos em frente à casa do presidente do clube, Guilherme Bellintani, que não fosse a ação da PM não se sabe o que seria, e culminou com o ataque ao ônibus da delegação a caminho do estádio essa semana.

As bombas – que deixaram o goleiro Danilo Fernandes dois dias no hospital, poderiam ter provocado uma tragédia muito maior se tivessem atingido alguém em cheio dentro do ônibus. O profissionalismo e a coragem dos jogadores do Tricolor de entrar em campo – e vencer o Sampaio Correia – minutos depois do atentado, é inversamente proporcional à letargia da Polícia Civil baiana em identificar e prender os vândalos. Já comprovou-se que os dois carros usados no ataque pertenciam ao presidente e a um outro integrante de uma organizada. Que prestaram depoimento e continuam livres, leves e soltos. Ora, ainda que não tenham participado diretamente da ação – como alegam – é difícil acreditar, totalmente inverossímil, que não saibam quem é que estava dentro dos seus carros.

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Já em Porto Alegre, a falta de proatividade da Brigada Militar gaúcha na escolta do ônibus gremista certamente contribuiu para o que aconteceu. A situação foi diferente, o ataque a foi obra de vândalos colorados, torcedores rivais, o que torna ainda mais previsível o episódio e a necessidade de uma segurança reforçada. Como Danilo Fernandes, o paraguaio Villasanti acabou no hospital com ferimentos na cabeça e teve de passar por exames com suspeita até de um traumatismo craniano. Dois torcedores foram identificados, retirados do Beira-Rio e levados à polícia para prestar depoimento. Certamente são caras conhecidas, figurinhas carimbadas. O que vai acontecer com eles? É o que se espera para ver.

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Há anos, assisti ao clássico da Catalunha. O último clássico disputado no Estádio Olímpico de Barcelona, em Montjuic, onde o Espanyol mandava seus jogos depois da demolição do Sarriá – para nós e amargas lembranças – e até construir seu próprio campo, o Estadi Cornellà-El Prat. O jogo terminou 0 a 0. Os culés, como são chamados os torcedores do Barcelona lançaram rojões contra a torcida do Espanyol, o alambrado foi derrubado para que as pessoas se refugiassem no gramado para escapar dos torpedos.

Foram cenas de vandalismo explícito, uma verdadeira batalha campal que continuou pelas ruas em torno do estádio, com carros danificados e bens públicos destruídos. Algo de fazer inveja ao que a gente costuma assistir por aqui. Mas, com uma diferença essencial: no dia seguinte, ao ver os jornais, já não era apenas o conflito dentro do estádio que ocupava as manchetes, mas a prisão de uns bons tantos de vândalos envolvidos na baderna.

A solução, e é até chato ficar repetindo isso aqui nessa coluna, não é extinguir as torcidas. São as organizadas que dão alma às arenas, que movimentam as arquibancadas com seus cantos, suas bandeiras, seus adereços coloridos. A violência em torno do futebol não é uma invenção ou uma exclusividade brasileira, se espalha por todo o mundo da bola. A solução é limpar as organizadas, dessa gente. E isso significa dar nome aos bois, individualizar e não generalizar, colocar na cadeia quem comete crimes como o atentado aos ônibus do Bahia e do Grêmio, quem organiza brigas pela internet, quem invade CT, agride jogadores. Quem mata!

É simples assim! É só querer fazer. Em Salvador, em Porto Alegre, no Oiapoque ou no Chuí.

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