Ao LANCE!, Lulinha relembra carreira e fala sobre futuro: ‘Ir para fora é fácil, mas se manter é difícil’

Atacante está com malas prontas para o Júbilo Iwata, do Japão. Aos 29 anos, ex-promessa do Corinthians fala sobre sua carreira e suas expectativas para o futuro

Lulinha
Lulinha espera fazer grande temporada no futebol japonês (Foto: Divulgação/PafosFC)

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A expectativa que não virou realidade. Com 297 gols pelas categorias de base, Lulinha não conseguiu ser o que se esperava dele, principalmente no Corinthians, time que guarda um carinho especial. Apesar de se destacar antes de assinar contrato profissional, o atacante rodou por diversos times até conseguir se firmar. De malas prontas para o Japão, o jogador relembra dificuldades do passado e fala sobre seu futuro, desejos e expectativas no futebol japonês.

- As expectativas são muito boas. O futebol asiático me agrada muito. Já estive na Coreia e fui muito feliz. Tenho expectativa muito alta agora no Júbilo. É um clube grande, tem torcida, história, passaram grandes jogadores, como o Dunga. Acredito que junto com meus companheiros vamos conseguir fazer um grande ano e uma grande temporada - declarou o atacante, que ainda compara o futebol brasileiro com o asiático e cita suas principais diferenças.
 
- Tem muitas diferenças. O torcedor respeita mais, dá tempo pra você se adaptar ao clube, ao país, aos próprios torcedores. No Brasil, eles querem que você chegue no clube e já comece a arrebentar, fazer gols… Até a própria imprensa te cobra muito. No Japão tem a cobrança, como em todo país, mas é mais respeitoso. Eles veneram muito os brasileiros, porque são referências. Zico, Dunga, Cerezo. Quem esteve lá deixou boas coisas para os japoneses. Eles têm uma certa idolatria pelos brasileiros, então nos deixam bem à vontade.

Lulinha, que ainda acompanha o futebol brasileiro, ressaltou a importância do português Jorge Jesus e o que esperar dos times jogando de forma mais ofensiva esse ano, balizada pela busca por treinadores desse estilo no mercado.

- Minha esposa brinca que eu acompanho até demais (risos). Mas realmente acompanho sim. O Campeonato Brasileiro, agora os regionais que começaram, os amigos jogando, então torço por eles também. Tenho uma expectativa muito boa, até pelo que aconteceu pelo Flamengo. Hoje é um clube que é referência para todos. Que joga de uma forma que os brasileiros gostam, joga pra frente, os números estão aí para dizer. Acredito que nesse ano de 2020 mais clubes estarão fazendo isso. Vejo até mesmo o Corinthians com o treinador novo (Tiago Nunes), que já está colocando isso, posse de bola, sair jogando lá de trás, que é o que o futebol pede hoje em dia. Não é só ganhar partidas, mas também mostrar um jogo bonito, que os torcedores se agradem. Os torcedores acabam abraçando a causa. Por isso o Jesus é tão importante, pela forma que colocou o time pra jogar. Mas também não adianta só jogar bonito, porque no futebol o que importa no final de tudo é o resultado, títulos, o que clube grande não pode ficar sem ter.

Confira na íntegra a entrevista com Lulinha, ex-joia da base do Corinthians.

Você era uma das maiores esperanças da base do Corinthians. Chegou a fazer quase 300 gols por lá. Por que acha que não conseguiu render o que se esperava no time principal?

- Essa pergunta as pessoas acabam sempre me fazendo. Realmente eu fiz um excelente trabalho na base do Corinthians. Infelizmente, eu acabei subindo num período complicado do clube. Não tanto da minha parte, porque eu estava com muita confiança nesse trabalho que eu vinha fazendo. Naquele ano (2007), foi um ano bem ruim para o Corinthians em todas as partes. Dentro de campo as coisas não estavam funcionando muito bem, mas fora de campo tinham muitas coisas que acabaram atrapalhando também. Infelizmente veio o rebaixamento no meu primeiro ano de profissional e os jogadores que estavam acabaram um pouco manchados pela situação, pelo grande clube que é o Corinthians. Mas eu nunca deixei de acreditar no meu potencial. A nossa equipe não era muito qualificada. A nossa peça mais importante acabou saindo pro Shakhtar, que era o Willian. As pessoas nos cobraram muito, mas eu estive em poucos jogos, porque teve Pan-Americano, Mundial e Sul-Americana pela Seleção e eu estava lá. Voltava e jogava dois, três jogos e voltava pra Seleção. A torcida sempre me deu confiança, mesmo depois do rebaixamento.

Como é para um jogador de 17 anos ver uma torcida como a do Corinthians vaiando e pegando no seu pé?

- A cobrança é muito difícil. Você é um menino novo cheio de sonhos e expectativas. Jogar num dos maiores clubes do Brasil e já ter essa cobrança, esse peso, é muito difícil. Tem que ter uma cabeça muito boa para passar por essa situação e passar bem. No ano seguinte (2008) eu joguei quase todos os jogos da Série B e consegui dar a volta por cima conquistando o título e colocando o Corinthians no lugar que ele nunca deveria ter saído. Mas, olhando hoje, acho que foi bom pro Corinthians esse rebaixamento, para conseguir se reestruturar e se reerguer, para poder conquistar todos esses títulos que conseguiram nos últimos anos.

Acha que colocaram expectativa demais em você? Ou você realmente era isso tudo que falavam?

- A expectativa sempre existe, principalmente quando tem um garoto que começa a se destacar na base. Quando tem um garoto acima da média, não só comigo, como houve com o Dentinho, o próprio Éverton Ribeiro, que hoje está arrebentando, mas também surgiu numa situação difícil, rodou por alguns clubes, e isso não se concretiza, a torcida reclama. Os torcedores colocaram muita confiança porque o clube estava num momento difícil. Quando isso acontece, as críticas chegam. Não importa se é um menino de 17 ou de 30 anos. A torcida não quer saber. Ainda mais quando se tem um rebaixamento.

Mesmo atraindo interesse de Barcelona e Chelsea na época, você preferiu renovar com o Corinthians. Por que?

- Na época não houveram propostas oficiais, mas realmente existiram sondagens desses grandes clubes. De criança eu sempre tive um sonho de jogar no profissional do Corinthians. Entrei lá com oito anos de idade. Quando eu fiz meu primeiro jogo, com 16 anos, foi inesquecível para mim. Vai ficar pra sempre na minha memória. Eu tinha o sonho de ganhar títulos com a camisa do Corinthians, comemorar com a torcida. Achei que não era o momento de sair.

Ainda tem o desejo de jogar na Europa? Acha que consegue, ou não pensa mais nisso?

- Sonho a gente sempre tem. Acredito muito no meu potencial. Acredito que posso fazer muitas coisas. Estou com mais experiência, sei da dificuldade que é jogar numa liga da Europa, como Espanha, Inglaterra. Tem que ralar muito para estar lá. Mas esperança sempre tem que ter. Enquanto estiver jogando futebol, nunca podemos deixar de acreditar que um dia vamos jogar na Europa, mas sempre com pé no chão, tranquilo e com a cabeça boa para poder realizar isso.

Como acha que vai ser a sua adaptação no Japão? Tem algum receio?

- Não tenho nenhum receio. Já estive no Japão pelo Corinthians, jogando torneios da base. Já estive praticamente dois anos na Coréia, já joguei no Emirados Árabes, então não tenho nenhum receio. Lógico que tem um período de readaptação, porque eu estava no Chipre. Os japoneses jogam de uma forma mais rápida, com qualidade no passe, eles tem mais técnica que os coreanos. Acredito que se Deus abriu essa porta pra mim, tem boas coisas pra acontecer.

Pensa em voltar ao Brasil? Em caso de voltar, tem algum clube que você não jogaria ou que tenha algum carinho especial?

- Com toda certeza. Estou desde 2016 fora do Brasil, então se estou tanto tempo fora é porque estou fazendo algo bom. Todos sabem que ir para fora é fácil, mas se manter é difícil. As pessoas têm gostado do que estou fazendo. Enquanto eu continuar mantendo esse respeito, é muito importante que eu continue. Mas é um sonho estar perto da família, voltar ao meu país. Todos os clubes que eu passei tenho um carinho. Se a passagem foi positiva, como o Bahia, Ceará, tenho maior respeito.

O que você acha das promessas sendo vendidas até antes mesmo de estrearem pelo profissional, com 16, 17 anos? Alguns até acabam voltando logo depois.

- Hoje a gente vê muitos jovens indo para clubes europeus bem cedo. Quando se destaca um pouquinho mais na base, os clubes já vêem como um negócio bom. Na minha opinião isso é positivo para ambas as partes. Para o jogador é importante. Vejo o Reinier que foi agora para o Real Madrid. Lá eles tem esse período de adaptação, esse respeito. Não vai entrar direto no time principal. Vai pro time B, ou será emprestado para se adaptar ao futebol espanhol. Isso é importante. Mas claro que às vezes não dá certo e eles acabam voltando pro Brasil. Acho que os clubes europeus são inteligentes, pegam os meninos novos antes de se destacarem, porque o preço é menor. Nós somos o país do futebol, então costumo dizer que a cada dia nasce um talento novo no Brasil. É muito importante pros garotos, porque na época que eu tive a oportunidade eu não fui, então se eu pudesse voltar atrás eu pensaria um pouco diferente.

No Brasil, você conseguiu atuar bem por Bahia e Ceará. O que acha que foi diferente?

- É difícil falar porque você foi bem em algum clube e não foi tão bem em outro. Envolve muitas coisas. Treinador que te coloca em uma posição que te agrada mais, te dá mais confiança. No Ceará foi um dos meus melhores anos. Mas também teve anos que me lesionei, treinadores que não me botaram muito pra jogar… No Ceará e no Bahia tive esses bons anos porque foram relações muito positivas, entre treinador, torcida. Isso me ajudou bastante para ir bem nesses clubes.

Como é o Lulinha agora? Como está a cabeça e expectativas para o futuro?

- O Lulinha agora tem muito mais experiência do que antes. Com a cabeça totalmente diferente. Tenho o entendimento tático muito melhor do que quando estava no Brasil, até porque você vai ganhando experiência, enxergando o campo de outra forma, vendo espaços vazios. Então sou muito mais maduro, principalmente para lidar com as situações, sejam boas ou difíceis. Hoje estou muito mais tranquilo. Sou um jogador profissional, tenho 13 anos de carreira, passei por clubes que nunca imaginei que passaria, como Corinthians, Bahia, Ceará, Red Bull, Criciúma… Clubes que me proporcionaram muitas coisas boas e positivas. Acho que fica muito o que você deixa no clube, independente se você vai bem ou não. É o carinho e o respeito que você tem pelas pessoas. Posso ir nesses clubes tranquilamente que serei bem tratado. Isso é importante pelo reconhecimento e pela humildade. Então, hoje, o Lulinha é um jogador mais maduro e que sabe o que tem que fazer dentro de campo. Isso é importante para mim e para a minha família.

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