Luiz Gomes: ‘Cinco razões para o abismo entre a Eurocopa e a Copa América’

Colunista elenca as diferenças entre as duas competições de seleções

Montagem Itália Brasil
Euro e Copa América estão sendo disputadas neste período (ANDREAS GEBERT / POOL / AFP - CARL DE SOUZA / AFP)

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O que faz a diferença entre a Eurocopa e a Copa América? Quem tem acompanhado os dois torneios em paralelo se assusta com o que vê. Nem mesmo quando Brasil, Argentina ou Uruguai estão em campo consegue-se ter algo parecido com o campeonato europeu. São jogos chatos, feios, modorrentos por aqui e jogos intensos, corridos, bonitos, emocionantes por lá. E há razões dentro e fora do campo para que tamanha discrepância aconteça. Pois vamos lá:


1 - O poder do dinheiro pode ser uma explicação. O futebol não ficou de fora da globalização e a força econômica dos países do outro lado do Atlântico tem aprofundado o abismo que nos separa. Em todos os setores da sociedade. No caso do esporte, é difícil manter talentos por aqui, cada vez mais novos eles debandam, o que tem um impacto claro no nível técnico do jogo. Quanto menos talento, menos jogo bonito nos campeonatos nacionais o que acaba por impactar as seleções.

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2 – Contraditoriamente a esses tempos de globalização, o futebol europeu se fecha cada vez mais. Sabiamente, a Uefa tem feito das datas Fifa datas genuinamente europeias. A criação da Liga das Nações foi o tiro de misericórdia. Cada vez mais é difícil para as seleções sul-americanas enfrentar os grandes times como Alemanha, Itália, Portugal, França ou Inglaterra em amistosos, fora da Copa do Mundo, já que há compromissos oficiais nas competições europeias em quase todas as datas disponíveis. E essa falta de confrontos diretos com times realmente à altura dificulta a preparação do lado de cá.

3 – Há um problema na formação de base, no trabalho que é feito com os jogadores, com o treinamento que recebem. Não há evolução tática no futebol sul-americano. Como bem destacou o técnico do São Paulo Hernán Crespo, na coluna semanal que mantém no diário argentino La Nación, nosso futebol perdeu a essência do que o fazia diferenciado. Escreveu ele:

“Historicamente, os europeus eram fisicamente mais fortes do que os sul-americanos e tinham menos virtudes técnicas do que nós. (...) Mas eles não pararam de crescer. Melhoraram no desenvolvimento físico e aperfeiçoaram o passe e a recepção, enquanto perdíamos o drible. Na Copa América gostaria de perceber mais respeito pelas raízes históricas da região, mais dribles (...). Vamos tirar o Messi, vamos tirar o Neymar e você não vê mais tantos vestígios que representam a nossa história. Nossos dribles, nossos instintos e nossa agressividade competitiva foram suficientes para igualar e até superar os europeus. Hoje ficamos com ferocidade competitiva”.

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4 - A arbitragem também faz diferença. Na Euro, o VAR tem feito intervenções precisas, é acionado menos vezes, leva pouco tempo normalmente na tomada de decisões, o que evita que o jogo esfrie. Em Bélgica x Itália nas quartas de final, não demorou nem um minuto para que um gol italiano fosse anulado e a bola voltasse a rolar. Nem o narrador da Globo conseguiu acompanhar. Também no campo, os juízes deixam o jogo correr, não ficam paralisando jogadas a cada esbarrão como se futebol não fosse um jogo de contato. A regra é uma só, mas as interpretações são bem diversas aqui e acolá. E a cultura da reclamação é outra diferença. Não se vê nos jogos da Euro os árbitros cercados a cada apito, gente pedindo cartão, xingando, esbravejando, não se vê jogador fazendo simulação, rolando na grama como se tivesse sofrido a mais grave das fraturas expostas. O que torna os jogos mais dinâmicos.

5– E há, por fim, a presença do público. Futebol sem torcida não é o mesmo futebol. E a Euro está mostrando isso. Estádios outra vez em festa, emocionantes, são o resultado de quem levou a pandemia a sério, comprou vacinas assim que elas surgiram, não negou a doença, não apostou em tratamentos que não existem e ficou na espera ilusória de uma imunidade de rebanho. Agora, eles colhem os frutos de agir com seriedade. E nós continuamos condenados a ficar ouvindo pela TV a gritaria que vem dos técnicos à beira do gramado. Enfim...

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