Jornalista se opõe às escolas de samba ligadas a torcidas de clubes: ‘Não gosto’

Agremiações, já tradicionais em São Paulo, também vem crescendo no Rio de Janeiro

Escolas de Samba 22
Desfiles de Mancha Verde, Gaviões da Fiel e Dragões da Real, em 2022 (Reprodução/G1)

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Os desfiles das escolas de samba começam a partir desta sexta-feira, nos Sambódromos do Anhembi e na Sapucaí. Em São Paulo, agremiações ligadas a torcidas dos clubes de futebol já são consolidadas, enquanto no Rio de Janeiro, o processo vem crescendo nos últimos anos. O LANCE! conversou com os jornalistas Aydano André Motta e Eugênio Leal, que se mostraram contrários a essas instituições.

- Eu não gosto. O mundo do Carnaval que tem lições para oferecer às torcidas e ao futebol, e não o contrário. Não há entre as escolas a rivalidade destrutiva que existe entre as torcidas organizadas e os times de futebol. As escolas ligadas às torcidas organizadas dos clubes não têm nada a contribuir com o Carnaval. Não gosto da ideia e acho que as coisas não deveriam se misturar. São paixões populares, mas uma coisa não tem a ver com a outra - comentou Aydano, que é jurado no prêmio "Estandarte de Ouro", do jornal "O Globo".

- Eu prefiro as escolas de samba que existam e tenham sido criadas para que sejam agremiações carnavalescas. O foco tem que ser a questão cultural do Carnaval. Há uma diferença destas para as entidades que são torcidas organizadas, que têm como apêndice uma escola de samba. Hoje temos escolas com histórico extenso no Carnaval, como a Gaviões, mas na minha ilusão, Carnaval é Carnaval e futebol é futebol - corroborou Eugênio Leal, comentarista da ESPN e compositor de samba-enredo.

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Tetracampeã, a Gaviões da Fiel, agremiação ligada aos torcedores do Corinthians, estreou no Carnaval paulista como escola de samba em 1989. Em 2000, foi a vez da Mancha Verde, bicampeã, estrear nos desfiles. Em 2005, a escola fundada por torcedores do Palmeiras conseguiu vaga na elite do Carnaval. Desde então, para evitar confusões entre torcedores, as duas escolas foram proibidas de desfilar no mesmo dia.

- O contexto da criação das escolas ligadas às torcidas em São Paulo é dramático. O Carnaval paulista estava próximo de acabar, aí as torcidas foram convidadas para resolver essa questão por causa da popularidade delas. Mancha e Gaviões não podem se apresentar no mesmo dia. Quando as duas entram na pista, as arquibancadas lotam, mas quando vão embora, fica vazio. É querer transpor para o Carnaval a lógica do futebol. Muitas mazelas do ambiente das organizadas foram levadas para a festa - lamentou Aydano.

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Além de Gaviões e Mancha, também desfilam no Grupo Especial deste ano Dragões da Real e Independente Tricolor, escolas ligadas a torcedores do São Paulo. Se na "terra da garoa" este tipo de agremiação já é tradicional, no Rio de Janeiro as instituições vêm se proliferando nos últimos anos. Ao todo, já são seis escolas fundadas por torcedores dos clubes cariocas, sendo três do Flamengo e uma de Vasco, Botafogo e Fluminense.

- No Rio, um torcedor de um clube não vai torcer para determinada escola, não existe essa vinculação. Dentro das escolas, há torcedores de todos os clubes e isso é muito saudável. É diferente de ter em uma agremiação carnavalesca apenas torcedores de um determinado time, onde torcedores de outros clubes não são bem-vindos. Não entendo Carnaval dessa forma. O Carnaval, para mim, é uma coisa mais inclusiva - opinou Eugênio.

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Nos últimos cinco anos, foram fundadas as escolas de samba: Imperadores Rubro-Negros, Flamanguaça, Guerreiros Tricolores, Raça Rubro-Negra, União Cruzmaltina e Botafogo Samba Clube. Das seis, as últimas três estão na Série Prata e podem garantir vaga na Sapucaí em 2024, algo jamais conquistado pelas agremiações ligadas às torcidas. Aydano encerrou falando sobre uma improvável boa relação entre as instituições.

- O Rio de Janeiro não precisa disso. Não tem nada a acrescentar. Se aprenderem os códigos, de rivalidade sadia, de parceria, tratamento de co-irmã, tudo bem, mas não tenho esperança que isso aconteça. Várias agremiações por aqui se apresentam na quadra de outras, a Portela recebe escolas na sexta no ensaio, o Salgueiro recebe no sábado. A Beija-Flor convidou Portela, Império Serrano, Mangueira e Tuiuti para ensaiarem com ela em Nilópolis. Um clima fraterno, rainhas dançaram juntas e porta-bandeiras cruzaram os pavilhões. Dá para imaginar que uma escola de torcida organizada do Flamengo aceite a do Vasco em um evento desse? Eu não acredito - finalizou.

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