De alvo de críticas à líder: Patric fala sobre o Galo, volta por cima e filho

Lateral-direito do Atlético-MG comemora sucesso e volta por cima no clube mineiro, além de falar sobre filho deficiente e ainda dá uma cutucada no rival Cruzeiro

Patric
De perseguido pela torcida à líder, Patric comemora boa fase com a camisa do Atlético Mineiro (Foto: Bruno Cantini/Atlético)

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Os últimos anos do Atlético Mineiro se identificam com uma história de superação, garra e muita luta. Um dos símbolos desse estilo do clube é o lateral-direito Patric. Parafraseando a música de Charlie Brown Jr, a história do jogador é baseada em dias de luta e dias de glória - dentro e fora do campo. 

O atleta chegou ao Galo em 2010 após se destacar em sua passagem pelo Avaí, mas não teve espaço sob a tutela do então treinador Dorival Júnior. Portanto, começou a migrar por vários clubes do Brasil, sendo emprestado em seis oportunidades até, enfim, se firmar com a camisa do Atlético. Mas não foi fácil.

Patric, também conhecido carinhosamente entre os jogadores como 'Patricão', tornou-se um líder no vestiário do Atlético. Se um dia carregava a fama de ser um dos atletas mais perseguidos pela torcida, hoje é abraçado pela Massa Atleticana, que enxerga o lateral como um líder. Líder, guarde este termo. O atleta falou sobre sua chegada no Galo e todas as vezes em que foi emprestado.

- Eu cheguei ao Galo em 2010 após uma temporada muito boa que eu tive no Avaí. O treinador que estava aqui, o Dorival (Junior), tinha um projeto para o time, tentou montar um time que estava recheado de grandes contratações. Todas as vezes que eu fui emprestado foi porque eu quis. Eu não me sinto feliz em ficar só por ficar no clube. Então assim, todas as vezes que eu fui emprestado, eu tive muitos jogos disputados e isso sempre me deixou feliz e motivado. Eu não era emprestado só pelo salário. Eu sempre dizia que queria ir, porque eu sempre soube do meu potencial. Então, eu fui, saí e fui muito próspero -, afirmou o camisa 29. 

Líder. É assim que Patric é enxergado pela torcida e pelo elenco. O jogador, que sempre se destacou pela entrega dentro de campo, se apoia na própria personalidade e história de vida para assumir o papel de liderança, que não se resume apenas ao jogador que carrega a braçadeira de capitão dentro de campo. 

- Nós temos um vestiário muito bom. Um vestiário que cobra, um vestiário feliz mas um vestiário que quer vencer. Eu sou um cara que cresci na dificuldade, na adversidade. Eu sou considerado um líder, e eu acho que o líder não é só o cara que usa a braçadeira de capitão. Eu sou leal. Se tiver que cobrar o Victor ou o Réver eu vou cobrar. Se tiver que cobrar algum menino da base eu vou cobrar. Eu sou visto por isso. Eu gosto de ganhar treino, peteleco, par ou ímpar, quando tem uma disputa de bola com o adversário -, afirmou.

- A minha intenção nunca foi sugar o Galo, mas sim ajudar o Galo. Por isso que eu saí tantas vezes (por empréstimo). Se for para eu ganhar o meu dinheiro que é tão suado, eu vou ganhar trabalhando, suando e tentando trazer o melhor para o clube. Só que hoje eu me sinto pronto para estar aqui. Eu me sinto pronto -, disse o jogador.

Mas não é só dentro de campo que Patric se destaca na vida. A principal conquista do jogador é seu filho, Dominic, de três anos e meio de idade. Dominic, sem dúvidas, é um menino especial. Ele nasceu com uma doença rara chamada hemimelia tibial, que ocasionou a amputação da perna e o uso de uma prótese no lugar. O menino mudou a vida do lateral-direito, que agora pai, passou a aprender diariamente com a luta de seu filho. Patric falou sobre a rotina de seu herdeiro, as dificuldades do dia a dia e os esforços que fez para ajudar na recuperação do pequeno craque. 

- Ser pai do Dominic é olhar para o céu, viver todo o dia uma nova história e aprender com ele todos os dias. No início pareceu que ia ser muito mais difícil, mas ao longo do tempo a gente viu que ele só necessitava de amor. Ele está na fisioterapia e está numa evolução muito boa. Hoje ele ainda não caminha sozinho, ainda caminha com a ajuda de andador e outras coisas que ele usa na fisioterapia, caminhando normal mas sempre com auxílio. Como eu falo, eu tenho um sonho de jogar na seleção brasileira mas se o dia não chegar eu vou ver meu filho. Quem tem filho sabe, faz tudo pelo filho.

- Até nisso você pode entender o que eu falei sobre jogar. Eu quero jogar, eu preciso jogar. Quando você joga, você tem a sua imagem de atleta, você também recebe bonificações por isso. Eu sabia que o Dominic tinha que fazer uma cirurgia nos Estados Unidos, era uma cirurgia muito cara. Se você pegar desde 2015, 2016, que eu fiz muitos jogos e eu recebi muitas bonificações por isso. Muitas pessoas vão ouvir a história do meu filho, vão ouvir a minha história e vão ter identificação. Não vão parar de lutar, vão seguir em frente. -, afirmou, emocionado.

A relação de Patric com a torcida do Galo é muito surpreendente. Quando chegou, o lateral-direito era bastante criticado, mas acabou caindo nas graças da torcida anos depois. Antes do clássico contra o Cruzeiro, na última semana, uma torcida organizada foi ao centro de treinamento para conversar com os representantes do elenco. Um deles foi o lateral, que ficou honrado com o gesto.

- O pessoal da Galoucura, assim como toda a nossa massa, tem me identificado como o atleta do Galo, a cara do Galo. Nesse dia que o pessoal foi lá, eles pediram para conversar comigo, com o Réver e o Rodrigo Santana. A gente fica feliz né, porque eu que fui um jogador que já foi muitas vezes contestado, vaiado, humilhado, ao mesmo que hoje as pessoas olham para você e falam que 'esse aqui é o nosso líder, esse pode nos representar'. Isso tem um peso e uma alegria enorme para mim. -, afirmou. 

O apoio recebido pelo jogador na atualidade é tanto que a torcida chegou a pedi-lo na Seleção Brasileira - sonho pessoal do lateral, que, inclusive, já atuou pela categoria de base e foi campeão sulamericano. Segundo Patric, 'sonhar pouco e sonhar muito dá no mesmo', então o atleta prefere se imaginar vestindo a amarelinha. E para alcançar o objetivo, o jogador pretende conquistar um título de expressão com a camisa do Galo.

- Ah, sonhar pouco e sonhar muito dá no mesmo. Então eu prefiro sonhar, mas com os pés no chão. Trabalhar muito para quem sabe um dia esse realizar esse sonho. Eu já fui campeão na base do Sulamericano, da minha geração eu fui o primeiro a ir para a Europa, então assim eu vejo atletas que jogaram comigo e hoje estão na seleção ou na seleção de outro país. Eu sonho e eu acho que é possível. Se eu puder ganhar um título de expressão, seja o Brasileiro ou a Sulamericana com o Atlético, aí não vai ter mais como. -, revelou.

Sua relação com a torcida é tão intensa que o lateral teve seu rosto tatuado por um torcedor. O caso aconteceu durante o jogo entre o Atlético e o Zamora, pela Copa Libertadores neste ano. O Galo perdia a partida por 2 a 0, em casa, até que um torcedor publicou nas redes sociais que, se o time virasse o jogo, ele tatuaria o rosto do Patric. O fato inesperado ocorreu e o torcedor cumpriu sua promessa. E hoje, os dois são amigos pessoais e mantém contato. 

- Foi durante um jogo que a gente estava perdendo por 2 a 0 no Mineirão pela Libertadores. Eu estava no banco, daí um torcedor parece que estava na arquibancada botou nas redes sociais que se o Galo conseguisse virar aquele jogo, ele faria uma tatuagem do Patricão. Aí a torcida começou a cantar 'Eu Acredito', empurrar o Galo e aconteceu, né. O torcedor foi e tatuou e hoje nós somos grandes amigos. Nos falamos pelo Whatsapp direto -, afirmou.

Inclusive, a torcida do Galo sempre faz brincadeiras com a rivalidade com o Cruzeiro, afirmando que a Celeste sempre 'treme' em confrontos contra o Galo. Patric concordou.

- Essa é boa. Quando a gente coloca o coração na ponta da chuteira pode ter certeza que o Cruzeiro treme -, brincou Patric.

Confira outras respostas de Patric: 

Trabalho de Levir Culpi, sua relação com o treinador e perda de titularidade
- O professor Levir tentou colocar o seu trabalho aqui nesse ano de 2019, mas infelizmente a gente não conseguiu dar todo o respaldo dentro de campo para que ele conseguisse mais tempo. Eu fui titular em quase todo o tempo que ele ficou, só na reta final que eu perdi a posição. Eu costumo dizer que eu gosto muito de trabalhar. Quando eu fui para o banco eu não tive problema nenhum, trabalhei muito. Com o Levir minha relação era muito boa, é um cara que me ajudou muito aqui no Galo. Se eu vivo hoje um bom momento eu devo a ele também.

- A gente não joga sozinho. O grupo não estava bem no primeiro semestre. Então tivemos a troca de comando, nós fomos melhorando. Também tivemos vários jogadores que foram contratados nessa temporada, então não se trata só de mim. Teve uma contratação que foi o Guga e o torcedor queria vê-lo jogar, mas eu trabalhei e conquistei meu espaço novamente. Mas é isso, trabalho e respeito ao próximo. Ele me respeita, eu também o respeito, somos amigos.

Deixar de ser um lateral super ofensivo e evolução na parte defensiva
- Olha, antigamente eu era muito mais ofensivo. Com o passar do tempo eu comecei a tentar a equilibrar mais. Foram quatro jogos sem tomar gols, contando que o jogo contra o Fortaleza eu não joguei. Então são cinco jogos sem tomar gols. No ano passado também eu já vinha melhorando também os meus números defensivos, então de jeito nenhum me incomoda. O que me incomoda é quando a gente não consegue exercer o papel coletivo, quando o coletivo não vai bem. Quando ele está bem, a gente começa a se destacar individualmente.

Eliminação para o Cruzeiro na Copa do Brasil
- Na Copa do Brasil, no primeiro jogo nós tivemos um apagão. Se a gente conseguisse ser um pouco mais ativo nesse jogo, eu acho que dificilmente a gente seria desclassificado. Nós conseguimos até agora fazer um segundo semestre bom e agora tivemos esse jogo para comprovar que nós estávamos no caminho certo, mas que infelizmente por um erro nosso, nós pagamos e pagamos caro.

Evolução do Atlético e crise no Cruzeiro no segundo semestre
- Eu acho que a gente vem crescendo, o trabalho do professor Rodrigo tem surtido efeito no nosso elenco. A gente perdeu alguns títulos, principalmente para o rival, mas com a gente sabendo que poderia ter um algo a mais. Mas eu também não quero ficar falando do rival porque eu estou preocupado com o nosso lado aqui, pois nós temos nosso trabalho aqui.

Vitória sobre o Cruzeiro no Brasileirão
- Se a gente desse brecha para que eles respirassem, eles iriam respirar nesse jogo do Brasileiro. E não dava para deixar os caras respirarem porque é a nossa vida que nós estamos jogando aqui, temos um objetivo. Primeiro, queremos entrar no G4 e depois não sair mais, e aí lutar até o último jogo. Então foi basicamente isso. Entregar tudo aquilo que a gente poderia entregar. Então fizemos dois gols e saímos com essa vitória que foi muito importante.

Maior ídolo no futebol
- Cristiano Ronaldo.

Melhor jogador que jogou em sua equipe
- Pablo Aimar.

História mais inusitada da carreira:
- Foram dois torcedores que ficaram na zoeira entre si, e depois de anos, ela se concretizou: uma tatuagem.

O líder da resenha no Atlético
- Fábio Santos. É o rei da zueira.

Cara mais sério do vestiário:
Leonardo Silva. Não é que ele não brinque pois todo mundo gosta de dar risada, mas ele é mais na dele.

O melhor jogo da sua vida:
Sport e Santos, 3-3, gol do Patricão.

*Sob a supervisão de Yuri Andrade

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