Flamengo, Seleção e NBA: Varejão abre o jogo ao LANCE!

Pivô completa nesta sexta-feira, diante do São José, um ano defendendo o clube do coração. O jogador ressalta a importância do Brasil estar presente no Mundial de basquete

NBB - Flamengo x Campo Mourão - Anderson Varejão
Staff Images/Flamengo

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O dia 18 de janeiro de 2018 jamais sairá da cabeça de Anderson Varejão. Afinal de contas, foi nesta data que o pivô, com carreira vitoriosa na Europa, NBA e Seleção Brasileira, realizou um sonho de infância: jogar pelo Flamengo, o seu clube de coração.

Nesta sexta-feira, às 21h10, na Arena Carioca 1, diante do São José, pelo NBB, Varejão quer comemorar seu aniversário de um ano no Flamengo em grande estilo:

– Logicamente o mais importante é a vitória. Mas espero que a nossa equipe faça um bom jogo, sem lesões. Quem sabe, de tabela, não consigo um duplo-duplo (risos).

Em conversa de pouco mais de 30 minutos, realizada na Gávea, após um treino da equipe de basquete rubro-negra, Varejão falou também de Seleção, a disputa do Mundial na China no segundo semestre, NBA, Lebron James e Sthepen Curry. E ainda deu pitaco sobre as contratações feitas para o futebol.

Qual balanço que você faz do seu primeiro ano no Flamengo?
A marca Flamengo é muito forte. Então jogar por esse clube é algo grandioso na carreira de qualquer atleta. Isso é medido no momento em que você conquista algo aqui. É algo fora do normal. Então, senti o carinho do nosso torcedor e até mesmo dos adversários. Estou feliz aqui, até pelo fato de conseguir algo que poucos consegue ao longo de sua trajetória que é atuar pelo seu clube do coração. E nessa temporada em especial consegui fazer a pré-temporada com o elenco, algo que no ano passado não foi possível por ter chegado no meio da disputa.

Vê o Flamengo como um dos principais favoritos ao NBB? Acredita que o time está mais encorpado para esta temporada?
Sem dúvidas. No ano passado também tínhamos essa condição, tanto que terminamos em primeiro na fase de classificação. De todo modo é importante chegarmos bem nos playoffs, que é o momento onde vale mais. Logicamente que esse estágio do NBB é importante também, principalmente pela questão do mando de quadra na hora do mata-mata. O grupo está em um momento muito bom, jogando bem e não temos problemas de lesão. Isso também é determinante.

Como torcedor do Flamengo, como analisa os reforços do futebol para a temporada? Curtiu a chegada do Arrascaeta, Rodrigo Caio e Gabigol?
Toda hora que chego em casa fico ligado no mercado. Antes mesmo de se concretizar a negociação, a imprensa já traz essa movimentação. A vinda do Gabigol e do Arrascaeta é o assunto do momento. Eu gostei. Vejo que eles vão ajudar muito, mas o resultado se conquista dentro de campo. No papel você não ganham de ninguém. Que eles rendam o máximo aqui. O Abel é um grande treinador e vai saber fazer o trabalho dele. Não vou me meter (risos).

No mês que vem o Flamengo volta a disputar a Copa Intercontinental. É possível conduzir o clube ao bicampeonato e, de quebra, você ter um título mundial pelo clube?
Sem dúvidas. Todos os títulos são importantes, mas esse, com certeza, teria um gostinho especial. É um sonho e espero que a nossa equipe consiga chegar lá. Não é fácil, mas é a possibilidade de fazer algo impressionante.

Todo mundo fala do gol do Petkovic contra o Vasco. Foi impressionante. Peguei a reta final do Júnior, os gols que ele fazia. O ano do Adriano em 2009 foi excepcional. A arrancada foi incrível. O Zico eu vejo muito pelo youtube (risos). Não é da minha geração, mas tem que respeitar

Em que momento você refletiu a necessidade de voltar ao basquete brasileiro?
Sempre que eu vinha ao Brasil tive algum presente do Flamengo. O Marcelinho (Machado, ex-jogador do clube e da Seleção) me deu uma camisa, o próprio clube também fez essa ação. Foi pesando isso tudo. Chegou um momento onde depois de muito tempo fora, jogando no Barcelona, um longo período em Cleveland, e por fim no Golden State, vi que era a hora de voltar. E não foi por falta de opções na NBA ou na Europa. Queria uma coisa diferente na carreira também. Sentia falta de jogar aqui, até por ter saído muito novo. Além da proximidade da minha família.

Você saiu muito cedo do basquete nacional para ganhar a Europa e a NBA. No seu retorno, na temporada passada, o que mais te chamou a atenção, positiva ou negativamente?
Acredito que o basquete está mais falado. Até antes do meu retorno, quando eu estava em Vitória (o jogador é natural do Espírito Santo), as pessoas me falavam que estavam acompanhando os torneios. Antigamente isso não era tão normal, saber o nome dos jogadores, dos participantes. Isso foi uma coisa que me deixou um pouco mais motivado em voltar. Essa valorização do basquete brasileiro é importante. Lógico que estrutura é algo que varia de um participante para o outro, mas é um ponto que vejo a necessidade de melhora para o futuro.

A organização dos clubes para a gestão do NBB é reconhecida mundialmente. Mas um dos problemas que a liga enfrenta é a questão de pendências trabalhistas, que levaram atletas a se mobilizar após a última edição. Na sua opinião, é correto abrir brechas no regulamento para incluir times de apelo na competição que não estejam em dia com suas obrigações?
Na minha visão quem não cumpre com as regras precisa ser punido. Não tem A, nem B. Se um participante está cometendo falhas nesse sentido, dentro do regulamento, sou contra abrir brechas. Isso precisa valer.

Como você vê esse novo formato de classificação para o Mundial, no formato de Eliminatórias?
Vejo esse formato como muito positivo, bacana. Você agora sai do clube, em forma, com ritmo de jogo. Antigamente você ficava um mês em casa e depois começava com a Seleção. Então você ficava em conflito se puxava mais nos treinos, curtia a família. Então você não faz nada muito bem. Com o formato atual é melhor. Você está no ritmo do clube. Se apresenta, faz dois jogos e volta. Ainda falta um pouco de entrosamento nesse ciclo, claro, mas é algo que vai se ajustar com o tempo.

Em que nível vê a Seleção para a disputa deste Mundial?
Sabemos que vivemos um momento de transição. Não vai ser fácil, até pelo fato de termos noção de que vamos enfrentar, caso a gente confirme de fato a vaga, pedreiras. Vejo o torneio como um momento importante para a Seleção entender em que patamar estamos atualmente.

Anderson Varejão - Brasil x Venezuela
Varejão participa da Eliminatória para o Mundial, que acontecerá na China (Foto: Divulgação/FIBA)

Você ainda é um remanescente de uma geração. A Seleção passa, neste ciclo, por um processo de transição. Como tem visto esse movimento?
Com naturalidade. Temos hoje uma mescla de jogadores mais experientes com jovens. Então em algum momento os mais velhos vão sair e essa safra nova vai seguir. E em alguns anos eles que serão os veteranos. Vejo o processo no caminho certo.

Qual a principal diferença na filosofia de trabalho entre o Petrovic e Magnano?
O Magnano era um cara mais durão, que não costumava brincar ou ter muito diálogo com os jogadores. Já o Petrovic, apesar de não ser um cara brincalhão, é um cara mais maleável neste sentido. São personalidades diferentes. Não quer dizer um é melhor que o outro por conta disso. Independente do país de origem do técnico, ele tem o seu modo de trabalhar. Então se o cara é europeu, o estilo de jogo dele não vai ser 100% de lá só. O basquete está muito universal.

Qual o legado que a sua geração vai deixar para a Seleção e o basquete brasileiro?
Muito positivo. Fomos muito bem nos mundiais da Espanha e da Turquia. Na Olimpíada de Londres também. Perdemos jogo de mata-mata contra a Sérvia e a Argentina. Naquele momento, era quartas de final, e nesse período você estar na final ou neste estágio tem uma diferença muito pequena. Quem acompanha o basquete sabe disso. Infelizmente foi dessa maneira, mas fizemos um jogo muito igual. Ganhamos de gente boa, como a França.

Entre esses jogos que você destacou, algum te atormenta ou causa boas lembranças até hoje?
Olha tem o jogo contra a Rússia, em Londres, que perdemos na última bola em um arremesso da zona morta. A própria partida contra a Argentina nesse torneio. Sempre coloco o grupo e meu país acima de tudo, mas naquele momento acredito que poderia estar em quadra por mais tempo. Comecei como titular, mas fui pouco utilizado. E foi uma partida definida no final. Mas no geral, acredito que fizemos sempre o que era necessário.

A base da Seleção vem tendo algumas conquistas relevantes, como no Sul-Americano Sub-21 e Sub-15. Quem você destaca com futuro promissor?
Não tenho acompanhado tanto. Vejo mais quando estão em competição. Acredito que o Didi, que é de Franca e já está com a gente na principal, o Yago, o Lucas Dias. Vejo o trabalho de base muito bem feito, mas é necessário seguir. É um trabalho duro, porque Mundial é um outro animal. É diferente.

Como vê a diminuição de brasileiros na NBA?
Vejo o fato com naturalidade. Em uma época o Brasil chegou a ter nove jogadores na Liga. Em outro momento eram cinco. Ano que vem podem ser seis. O importante é continuar trabalhando duro aqui, fazendo o melhor, para quem sabe ter uma oportunidade lá e agarrá-la. A fase da necessidade de abrir as portas para o Brasil já passou.

Qual a temporada você considera a sua melhor nos Estados Unidos?
Tive algumas temporadas especiais lá. A primeira você não sabe o que virá pela frente. E quando termina há uma reflexão que na sua chegada você crê que sabe tudo, mas termina com a sensação que ainda não entende nada. No meu caso fui muito novo, com 21 anos, não falava muito inglês. Então cresci muito nesse aspecto. Deixei uma mensagem muito positiva para o segundo ano e foi importante. Depois a primeira final, quando derrotamos o Detroit, uma equipe muito forte e que vinha fazendo as finas da NBA com frequência. Perdemos para o San Antonio Spurs por 4 a 0, mas pegamos ele com Parker, Duncan e Ginóbili no auge deles. E o nosso time bem mais novo. A temporada onde estava cogitado para o All-Star Game, com médias altas, e com o time passando por um momento de renovação. Por fim, o período de um ano e meio que passei com o Golden State. Foi impressionante a maneira como fui recebido desde o início lá. Então, até por ter mais tempo de NBA que a maioria, eles me respeitavam muito, me perguntavam coisas, conselhos. E foi quando chegou o anel, justamente no ano da minha liberação. E todos fizeram questão que eu aceitasse o anel.

Anderson Varejão
Varejão defendeu o Cleveland em boa parte de sua passagem pela NBA (Foto: AFP)

Você teve a oportunidade de jogar com Lebron James e o Stephan Curry. O que você pode dizer de ambos, uma vez que acompanhou de perto o início da carreira da dupla?
O Lebron, desde o início, já mostrou muito talento e vigor físico. Mas uma coisa que diferencia ele dos demais é sua inteligência e visão de jogo. O físico favorece a ele, claro, e, por isso, investe no seu corpo no intuito de preservá-lo. Ele treina como poucos. Chega antes de todos, treina muito, faz academia, arremessos. Já o Curry, no início na NBA, mostrou muito potencial. Teve muita facilidade de pontuação. Mas havia o questionamento em relação ao físico dele. Mas não significa que o cara que não é tão forte, não esteja preparado fisicamente para a NBA. Ele passou por essas dúvidas e se estabeleceu. E posso te garantir que aqueles longos arremessos dele faz não é coisa de maluco, ele treina e, lógico, tem facilidade.

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