San Lorenzo x Flamengo: o dia em que a política impediu uma decisão

Clubes estavam preparados para a final da Copa Mercosul de 2001, mas não contavam que uma onda de protestos na Argentina acabaria adiando o confronto<br>

Veja imagens de Manuel Pellegrini
&nbsp;(Foto: AFP)

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Flamengo e San Lorenzo se enfrentam nesta quarta-feira, pela estreia das duas equipes na Copa Libertadores. O jogo chegou a ficar ameaçado por algumas horas por conta da falta de vistorias no Maracanã, local do duelo. Porém, em uma ocasião distante o encontro entre esses dois clubes teve que ser adiado em um dia histórico para a política sul-americana. O jogo em questão foi o de volta pela decisão da Copa Mercosul de 2001, que só chegaria ao fim de fato em janeiro de 2002.

Os dois times tinham se classificado para a final da última edição da Copa Mercosul. O torneio, que em 2002 seria substituído pelo Copa Sul-Americana, viu os dois finalistas empatarem sem gols na ida, no Maracanã. O duelo de volta aconteceria em 19 de dezembro de 2001.

A delegação do Flamengo já estava na Argentina quando um protesto transformou o país em uma praça de guerra. Nossos vizinhos amargavam uma crise financeira considerada uma das piores de sua história e o governo do presidente Fernando de la Rúa mergulhava em denúncias de corrupção. Mesmo sem legitimidade, o mandatário decidiu adotar o estado de sítio, mas foi ele quem acabou sitiado na Casa Rosada, sede do Governo da Argentina.

Na madrugada anterior ao jogo cerca de quatro mil pessoas tomaram as ruas do centro para baterem panela pedindo a renúnica do presidente e a prisão do ministro da Fazenda Domingo Cavallo, então acusado de desviar dinheiro público. Sedes de ministérios foram queimadas e a população entrou em choque com a Polícia. Os jornalistas brasileiros que viajaram para Buenos Aires para participar da cobertura da final viararam correspondentes políticos por alguns dias. Caso de Galvão Bueno que, por exemplo, passou a edição do Jornal Nacional da Rede Globo quase que inteira transmitindo a movimentação de populares e a situação de momento do governo. Só no dia do jogo 18 pessoas morreram em meio aos protestos.

Com a Polícia argentina sem poder dar garantias de que o jogo seria realizado, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) teve que adiar o confronto, para alívio dos jogadores do Flamengo, que conseguiram deixar em segurança o país. No dia 21 de dezembro de 2001 Fernando de la Rúa renunciou ao cargo de presidente da Argentina.

NOVO JOGO

Com a crise sob controle os clubes precisavam encontrar uma nova data. O San Lorenzo queria que a partida acontecesse em 6 de janeiro, porém, o Flamengo deu férias a seus jogadores e informou que não entraria em campo antes de 20 de janeiro. Os clubes e a Conmebol acabaram costurando um acordo e os times foram para a decisão em 24 de janeiro de 2002.

O Flamengo começou bem o jogo e abriu o placar logo aos 11 minutos, com uma cabeçada de Leandro Machado. Porém, aproveitando um rebote da defesa brasileira, Estevez igualou o marcador na segunda etapa.

A decisão acabou indo para as cobranças de pênaltis e o zagueiro Juan, hoje no elenco do Flamengo, o lateral Cássio e o atacante Roma desperdiçaram as penalidades e os argentinos ficaram com a taça.

FICHA TÉCNICA
SAN LORENZO 0 (4) X 0 (3) FLAMENGO

Local: Estádio Nuevo Gasómetro, em Buenos Aires (ARG)
Data: 24/1/2002
Árbitro: Oscar Ruiz (COL)
Auxiliares: Jorge Arango (COL) e Dember Perdomo (COL)
Público: 42 mil pagantes
Cartões amarelos: Michelini, Estevez e Acosta (San Lorenzo) e Fernando, Edson e Roma (Flamengo)
Gols: Leandro Machado (11´/1ºT) e Estevez (22´/2ºT)
Pênaltis: Petkovic (F), Romagnoli (S), Andrezinho (F), Pusineri (S), Saja (S), Edson (F) e Capria (S) marcaram; Acosta (S), Juan (F), Serrizuela (S), Cassio (F) e Roma (F) perderam

SAN LORENZO: Saja, Serrizuela, Ameli, Capria e Paredes; Franco (Pusineri), Michelini, Erviti e Romagnoli; Estevez (Rodríguez) e Acosta
Técnico: Manuel Pellegrini

FLAMENGO: Julio Cesar, Edson, Juan, Fernando (André Bahía) e Cassio; Leandro Ávila, Jorginho, Rocha (Andrezinho) e Petkovic; Roma e Leandro Machado (Jackson)Técnico: Carlos Alberto Torres

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