CAMPO NEUTRO: Treino é treino, jogo é jogo

José Inácio Werneck fala sobre temas em alta no mundo do esporte

Didi - Brasil
Didi, o "Folha Seca", é um dos grandes ídolos da história do futebol brasileiro, com passagem marcante por Botafogo e Fluminense (Foto: Reprodução)

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A poucos dias da Copa no Qatar, as notícias dão conta de que a Argentina está botando pra quebrar, Gana acabou com a Suíça e por aí vamos. Tudo em treinos. Vale então repetir a famosa frase de Waldyr Pereira, mais conhecido como Didi, na Copa de 1958: “Treino é treino, jogo é jogo”. Sábias palavras do mestre, depois de ser azucrinado por constantes relatos na imprensa da época de que Moacir Claudino Pinto, meia-armador do Flamengo, mais conhecido como “Moacir Canivete” (mas esta é outra história), estava “acabando com a oposição” nos treinos.

A “oposição”, no caso, era Didi, que na ocasião jogava pelo Botafogo.
Diga-se de passagem que o Flamengo, naquele ano, tinha todo o seu ataque na Seleção Brasileira, com exceção do centro-avante Henrique. O Rubro-Negro tinha o ponta direita Joel, o meia-armador Moacir, o ponta de lança Dida e o extrema esquerda Zagallo. Joel, Dida e Zagallo eram titulares. Foi com eles no time que o Brasil começou a campanha na Copa de 1958, contra a Áustria.

Havia coisas absurdas, como a barração de Garrincha. Ele fora tirado do time como medida disciplinar depois que o técnico Vicente Feola, “o gordo Feola”, ficara irritado porque, em um amistoso preparatório contra a Fiorentina, Garrincha fizera um gol depois de driblar todos os zagueiros adversários e, como complemento, voltar atrás para driblar também o goleiro. Parece que Feola, descendente de italianos, se irritou com o “desrespeito”.

Quanto a Moacir, era reserva mesmo. Entretanto, uma facção da imprensa, ligada ao Flamengo, o queria no time, insistindo em que ele “acabava” com os treinos, enquanto Didi nada fazia. Didi respondeu “treino é treino, jogo é jogo”, calou as críticas e foi eleito o craque da Copa de 1958. Não é pouco, levando-se em consideração que o já citado Garrincha e Pelé estavam também naquele time.

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Didi era um jogador de incrível talento mas, também, uma extrema frieza, o que não era bem visto por muitos analistas. Basta lembrar que, quando Pelé marcou aquele notável gol da vitória sobre o País de Gales, nas quartas de final da Copa, depois de dar um “chapéu” em um adversário, Didi pode ser visto atrás dele, impassível, sem comemorar, sem erguer os braços, sem pestanejar, como se o que tivesse ocorrido nada fosse de excepcional.

Esta mesma frieza nos ajudou muito na final contra a Suécia. Sofremos o primeiro gol, Didi foi lá, pegou a bola dentro de nossas redes, e marchou com ela sob o braço para o centro do gramado, pronto simplesmente a dar nova saída e seguir em frente, como se estivesse disputando uma pelada na vizinhança de Campos, no Rio de Janeiro, onde nascera. Estocolmo? O que Estocolmo tinha de especial?

Não se impressionem com treinos bons ou treinos ruins antes da Copa. Como Didi já ensinava, “treino é treino, jogo é jogo”.

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