Fora da Seleção de atletismo, Alan Fonteles afirma: ‘Não sou uma máquina’


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Um dos principais atletas do esporte paralímpico brasileiro e mundial, campeão do mundo em três provas diferentes e medalhista de ouro paralímpico em Londres-2012. Esse é Alan Fonteles. Mas com menos de dois anos para a Paralimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, o velocista está fora da Seleção Brasileira.

Em lista divulgada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) no dia 23 de outubro, Fonteles não aparece entre os 25 convocados para compor o time brasileiro de atletismo em 2015. O motivo: não atingiu os tempos necessários – precisaria ter obtido uma das três melhores marcas do mundo em suas provas no ano.

Após surpreender Oscar Pistorius em Londres-2012 e brilhar no Mundial em Lyon (FRA), em 2013, o velocista quis descansar. Diminuiu o ritmo de treinos, participou só de competições de sua patrocinadora – o Circuito Caixa Loterias, no qual uma das etapas será neste fim de semana em Fortaleza –, ficou com a família... Assim, seus tempos subiram. Cravou como melhores marcas 11s72 nos 100m T43 e 24s51 nos 200m T43. Em ambas, tem o recorde mundial, com 10s57 e 20s66, respectivamente.

– Não me arrependo. Precisava de um descanso. Não sou uma máquina que tem de treinar direto, competir. Muitas pessoas pensam que a gente não precisa ter descanso. Mas precisamos. Se não, não aguentamos – disse o atleta ao LANCE!Net.

Com uma carga menor de treinos e competições, em abril Fonteles já tinha sido desligado do Time São Paulo e chegou a entrar em atrito com o CPB. Nesse tempo, ganhou peso. O atleta evita falar em números, mas basta ver fotos dele competindo neste ano para perceber que ele não está na melhor forma física. Mesmo assim, nada disso parece preocupá-lo no momento.

Segundo o próprio velocista, tudo já foi resolvido com o Comitê. E ele garante já estar em treinamento para voltar com tudo em 2015. Apesar de não ter sido convocado agora, ainda pode voltar à Seleção.

– Já estou nos treinos, me preparando para o próximo ano. Está tudo certo com o Comitê também. A meta é já estar bem para as competições em abril. Vamos ter um ciclo muito grande, com (Jogos) Parapan-Americanos, em agosto, Mundial, em novembro. Estou me preparando para isso – disse.

Se não bastasse, Fonteles mantém o sonho de participar do Troféu Brasil de Atletismo, ao lado de atletas convencionais. Esse, até pode ser o primeiro passo para sonhar com a Olimpíada de 2016, no Rio.

O CPB acompanha tudo de perto. Os dirigentes sabem que Fonteles é um dos principais nomes para a Paralimpíada, ainda mais com a meta de colocar o Brasil no top 5.

– O próprio atleta pediu um ano para descansar. O CPB está dando todo o apoio. Ele treina no nosso centro de referência, o técnico da Seleção é técnico pessoal dele e nós que o pagamos. Ele treina na melhor academia, tem equipe multidisciplinar à disposição. Tudo isso, o CPB paga. Ele não está abandonado. Apenas está fora da Seleção, porque não cumpriu as exigências. Estamos sendo justos com outros atletas e com ele – disse o presidente do CPB, Andrew Parsons, ao L!.

– Ele apenas não participará da programação da Seleção em 2015, como as semanas de treinamento. Mas ele pode, sim, representar o Brasil. As convocações do Mundial de Doha e do Parapan-Americano em Toronto, por exemplo, são convocações independentes – completou.

CONFIRA UM BATE-BOLA EXCLUSICO COM ALAN FONTELES:

LANCE!Net: Esperava ficar fora da lista da Seleção de atletismo para 2015?
Alan Fonteles: Já esperava pelo ano que eu fiz. Sabia que isso poderia ocorrer. Já falei com o Comitê, o coordenador... A lista da Seleção não está fechada e posso entrar e sair da equipe a qualquer momento. Agora, é mostrar tanto para o Comitê, quanto para meus patrocinadores, que já dei essa pausa que eu precisava e continuar com os meus treinamentos.

L!Net: O que você fez nesse ano?
AF: Fiquei afastado das competições, só treinando em uma intensidade bem menor. Dei uma segurada para dar um descanso. Mas não fiquei parado o ano todo. Só diminui a intensidade. Aproveitei para ficar com minha esposa, ver minha família, curtir mais a minha vida particular.

L!Net: No início do ano, você perdeu a vaga no Time São Paulo e teve um desgaste com o Comitê. Essa situação já foi resolvida?
AF: Conversei com o pessoal do Comitê, o presidente, o coordenador e o técnico. Pedi um tempo para eles, e depois fui ver que precisava de um tempo maior. Foi quando tivemos um pouco de... Precisava de mais tempo e achavam que eu não precisava. Mas agora acertou tudo.

L!Net: Muitas pessoas chegaram a falar que o sucesso subiu à sua cabeça. Concorda com isso?
AF: Se subiu, teria de ser em Londres, em 2012 (quando levou o ouro olímpico nos 200m T43). Lá, foi o ponto alto. Depois, ganhei medalha no mundial (em 2013, em Lyon, foi ouro nos 100m, 200m e 400m), sempre atendendo a todos. Quando você não está aparecendo, falam na sua cara que você não é bom, isso e aquilo. Quando está na mídia, ninguém tem coragem de dizer a mesma coisa e falam por trás. Vi as duas coisas. Muitas pessoas não sabem o motivo de eu dar essa pausa e falaram várias coisas. Todos vão ver que vou me dedicar ao máximo e vão pagar pelo o que falaram. Não sabiam o que estava acontecendo comigo.

DIRIGENTE GARANTE:
"Alan e qualquer outro atleta pode voltar a qualquer momento para a Seleção, desde que faça as marcas exigidas", Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro

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