De 1992 a 2016: caminhos de Cuca e Palmeiras voltam a se cruzar

Apresentado como técnico do Verdão, ex-meia foi jogador do clube em 1992 e por pouco não encerrou a fila de títulos. L! fala com Maurílio, apresentado com ele naquele ano

Cuca Palmeiras
Cuca jogou pelo Palmeiras por pouco mais de três meses em 1992 (FOTO: Reprodução)

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Cuca teve uma segunda-feira intensa. Viajou de Curitiba a São Paulo de carro, assinou seu contrato com o Palmeiras, deu o primeiro treino e foi apresentado por Alexandre Mattos. É uma espécie de volta no tempo para o técnico.

Era setembro de 1992 e Cuca estava no lugar certo e na hora certa para aproveitar a saída desastrada do goleiro Márcio, do Ituano, e dar um bico para o gol. Saiu correndo, pulou as placas da Parmalat que ficavam à beira do gramado no Palestra Itália e foi comemorar com a torcida, simulando colocar uma faixa de campeão no peito. Faixa de campeão era artigo que o clube não via desde 1976.

Era o sétimo dos 24 jogos que o meia Cuca fez em sua rápida passagem pelo Palmeiras. A maneira audaciosa de festejar mostrou um pouco da personalidade forte de Alexi Stival. Hoje com 52 anos e alguns títulos no currículo como treinador, ele está de volta para tentar preencher um vazio: o de conquistas.

Cuca marcou sete gols com a camisa alviverde e chegou à final do Estadual, mas perdeu para o São Paulo e deixou o clube logo depois, na virada do ano, meses antes do fim da fila, com o Paulista de 93. Faixa no peito, só na simulação...

- O atleta tem que chamar a responsabilidade e ele chamou. Fez que colocava a faixa no peito porque acreditava naquilo. O grupo todo acreditava. A infelicidade é que não foi no ano dele, mas o Cuca estava prevendo alguma coisa, né? O Cuca saiu, eu fiquei, e vieram todos aqueles títulos - lembra o ex-atacante Maurílio, que estava ao lado de Cuca na primeira vez que ele foi apresentado pelo Palmeiras. A segunda foi nesta segunda-feira.


- Nós fomos apresentados juntos no antigo Palestra Itália. Ele sempre foi muito meu amigo. Eu gostava muito de ver o Cuca quando ele fazia gol. Ele ia sempre para o lado das piscinas do Palestra, onde não tinha ninguém, e ficava mexendo os braços. Falavam que ele era louco (risos) - zomba o amigo, que também é técnico hoje em dia, na Uniclinic-CE.

Maurílio não só foi apresentado no mesmo dia que Cuca como também passou alguns meses morando com ele em um hotel na capital paulista, junto de Jean Carlo e Edinho Baiano. Foram incontáveis caronas no carro do agora treinador, uma Santa Matilde.

- Santa Matilde é um carro antiquíssimo. Ele comprou uma e só cabiam duas pessoas. Era a paixão dele, ficava para cima e para baixo - recorda.

Desde aquela época, o tom de voz de Cuca era quase sempre baixo. Essa fala mansa, o apego à esposa e às duas filhas e as diversões pouco sofisticadas do novo técnico do Palmeiras, como as peladas de domingo no Clube Mercês, em Curitiba, até revelam um sujeito sereno e afável, mais ou menos como Oswaldo e Marcelo Oliveira, seus antecessores. Mas Cuca, ao contrário dos outros dois, vez ou outra se deixa transformar pelo futebol.

Nas oitavas de final da Libertadores de 2004, Cuca decidiu não levar os jogadores do São Paulo ao vestiário no intervalo. Como o time fechou o primeiro tempo marcando o gol de empate contra o Rosario Central (ARG) e inflamando o Morumbi, ele achou por bem não esfriar a torcida. Bastava um gol para levar a disputa da vaga para os pênaltis. O gol saiu. E a vaga veio com defesas de Rogério Ceni em tiros da marca da cal - a relação do técnico com o goleiro, por sinal, ficou estremecida após um desentendimento de Ceni com o preparador físico Omar Feitosa, que também está de volta ao Palmeiras.

Em 2008, após perder a final da Taça Guanabara para o Flamengo, o técnico deu entrevista acompanhado pelos jogadores do Botafogo para reclamar da arbitragem. Cena parecida à de 2010, após uma derrota de seu Cruzeiro para o Corinthians. Descontrolado, até socou a mesa. Em 2013, sua única reação após Victor defender o pênalti de Maxi Rodríguez, do Newell's (ARG), e colocar o Galo na final da Libertadores, foi desabar de cara no gramado do Independência.

O técnico é religioso, supersticioso e criativo. Acumula episódios em que reuniu tudo isso na preparação para determinados jogos. É devoto de Nossa Senhora. Não gosta de ver o ônibus que leva o elenco andar de ré. Já levou um coração de boi a uma preleção do Botafogo para mostrar aos atletas que eles deveriam ter “sangue”. Este é Cuca.

– Em todo caso, já proibi de dar ré no ônibus – sorriu Alexandre Mattos, ao encerrar a apresentação.

Ao longo desses mais de 23 anos separados, Cuca e o Palmeiras sentiram o sabor do título da Libertadores. O clube em 1999, com Felipão. O técnico em 2013, com o Atlético-MG. Cuca e o Palmeiras acumularam campanhas marcantes e quedas doídas. O clube visitou a Série B em 2003 e 2013. O técnico comandou o Grêmio em parte da campanha do rebaixamento, em 2004, e foi demitido do Santos, em 2008, pouco antes de o Peixe se livrar da degola na rodada derradeira. Mas Cuca, como o Palmeiras, também teve motivos para sorrir. Parecia improvável que o técnico conseguisse salvar o Fluminense em 2009. Ele conseguiu. Parecia improvável que o Palmeiras conseguisse vencer a Copa do Brasil. A de 1998. A de 2012. A de 2015. O clube conseguiu o tri.

Juntos de novo.

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