Coluna do Bichara: Arriba, Checo

Luiz Gustavo Bichara analisa o GP do Azerbaijão

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Checo Pérez é festejado por membros da Red Bull após a vitória no Azerbaijão (Foto: Giuseppe CACACE/AFP)

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Após um jejum de quase um mês, por conta do cancelamento do GP da China, a F1 chegou mais uma vez a Baku, capital do Azerbaijão, ex-república soviética, cidade imortalizada nos livros sobre a II Guerra Mundial (se a Alemanha tivesse chegado lá e se apossado de suas enormes reservas de gás, a história da guerra poderia ter sido diferente).

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O circuito de rua de Baku tem beleza e velocidades atípicas. O traçado permeia construções históricas como uma Torre do século XII, donde se vê tanto a corrida quanto o sereno Mar Cáspio. Trechos estreitos se misturam com retas intermináveis, resultando numa prova onde os carros passam 62% do tempo com o pé embaixo, usando a potência máxima disponível.

E esse idílico cenário foi palco de uma das maiores novidades da F1 nos últimos tempos, uma mudança interessante e radical na programação do final de semana: apenas um treino livre na sexta, seguido da classificação. Já no sábado outra classificação, mas desta vez para a sprint race (com resultado vitaminado: oito pontos em jogo para o vencedor, pontuando os oito primeiros colocados). A diferença para as sprint dos anos anteriores é que esta não serviu para formar o grid (esse definido na sexta), mas foi uma prova em si – com pontuação equivalente quase a 1/3 de uma corrida normal. Alguns pilotos, como Max Verstappen, reclamaram, mas é certo que em termos de show foi muito melhor: tivemos ação de pista três dias, e corridas sábado e domingo! Novidade aprovada.

Na sexta, a classificação foi agitada, marcada por muitos toques nos muros e bandeiras vermelhas. E também uma surpresa: Charles Leclerc fez a pole, animando os Ferraristas (parafraseando Antonio Maria “Tifosi, profissão esperança”), que pela primeira vez no ano poderiam sonhar com alguma competitividade dos carros italianos. Na sequência, Verstappen e Perez, seguidos de Carlos Sainz e Lewis Hamilton. Mas, lembrando, esse era o grid de domingo. Até lá muita água ainda vai rolar por baixo da ponte.

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O sábado começou com o shoot out, a breve qualificação para a sprint. Novamente Leclerc se saiu melhor, seguido pelas Red Bull. E já na 1ª volta a coisa ficou boa: Verstappen foi espremido, mais de uma vez, por George Russel, que numa disputa dura – mas leal – levou a melhor sobre o holandês. O atual campeão soltou um mimimi brabo pelo rádio, mas sem o menor fundamento: tanto que os comissários (mais pródigos em investigações que o detetive Mario Fofoca) nem sequer examinaram o episódio, tratando-o com absoluta normalidade. E de fato Russel jogou limpíssimo, deixando bastante espaço para Verstappen. Mas o episódio serviu para vermos que o holandês se sai muito melhor na qualidade de pedra do que de vidraça. Ora, muitas vezes ele jogou duro, aliás muito mais duro que Russel no sábado. Mas quando alguém vem para cima dele, dá chilique. Agora que ele é o incumbente, acha que tem no bolso o endereço do bem e do mal...

E não parou por aí: ao fim da prova, Verstappen ficou esperando Russel para tirar satisfação. Desfiou seu rosário de queixas para o inglês, que deu-lhe as costas e saiu andando (veja aqui). Se o holandês quisesse causar, melhor seria ter imitado seu sogro, que “mitou” na luta livre contra o chileno Eliseo Salazar, ao ser jogado para fora da pista no GP da Alemanha de 1982 (veja aqui). Aí sim seria raiz...

A sprint foi vencida por Checo Perez, que ultrapassou facilmente Leclerc assim que autorizado o uso do DRS. Também foi interessante notar a absoluta falta de padrão da F1 para uso da bandeira vermelha: se na Austrália ela foi deflagrada porque havia uma sujeirinha de nada na pista, em Baku deu-se o contrário: Yuki Tsunoda deu uma pancada feia, e seu pneu ficou rodando sozinho na pista, mas nem assim a prova foi interrompida.

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No domingo, apostas de um GP confuso, com os carros retomando as posições da classificação de sexta, sendo que praticamente não tiveram tempo de treinar, vindo com um acerto provavelmente ruim. No entanto, a largada e as primeiras voltas se deram calmamente. Assim que o DRS foi liberado, na volta 4, Verstappen passou como um foguete por Leclerc (26 Km/h mais rápido), dissolvendo as esperanças ferraristas no caldo azedo da decepção. E também reforçando a conclusão que já expus aqui: a F1 precisa, com urgência, rever essa regra. As ultrapassagens estão se banalizando com o DRS.

Na volta 11, Verstappen reclamou pelo rádio de falta de aderência e foi chamado para os boxes. Instantes depois, Nick de Vries bateu, disparando o safety car. Nisso, Perez, que não tinha feito pit stop ainda se deu muito bem, parando sob safety car e perdendo menos tempo. Verstappen caiu para 3º, atrás de Leclerc. Mas logo depois a força do motor Honda se impôs, e Leclerc foi novamente superado por Verstappen. No entanto, na volta 30, Perez tinha aberto 2,5 segundos, diferença que ele bravamente sustentou. Daí em diante a corrida não teve muita emoção, e Perez surpreendeu chegando a sua 6ª vitória, sendo a 5ª em circuitos de rua, realmente a especialidade do mexicano. Verstappen, pensando no campeonato, cravou o segundo lugar, seguindo de Leclerc e Fernando Alonso (que pela 1ª vez no ano não vai ao pódio).

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Perez colheu 33 pontos no final de semana, reduzindo sua diferença para Verstappen para apenas seis pontos. É difícil crer que o mexicano oferecerá combate realmente, a ponto de ameaçar a franca superioridade do atual campeão. Mas considerando a ampla superioridade das Red Bull, ao menos essa briga interna pode animar um pouco o campeonato. Que a corda não traia o equilibrista...

P.S.: 1 de maio é provavelmente o feriado mais triste do esporte brasileiro. 29 anos atrás o Brasil assistia, incrédulo, ao acidente que vitimou fatalmente Ayrton Senna. Para milhões de fãs em todo mundo, de várias gerações, um dos dias mais tristes já vividos.

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