Renovações, especulações e ‘lençol curto’: Mazzuco destrincha o 2020 do Vasco

Em entrevista exclusiva ao LANCE!, diretor de futebol do Cruz-Maltino explicou o que espera das contratações do clube para a próxima temporada e a situação dos atletas

André Mazzuco
André Mazzuco é o diretor de futebol do Vasco desde junho de 2019 (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

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Se 2019 foi difícil, o Vasco espera um cenário mais animador para 2020. Com a definição da contratação de Abel Braga após a saída de Vanderlei Luxemburgo, o Cruz-Maltino começa a traçar o planejamento. Entre os desafios de montar uma equipe com pouco poder financeiro e as conversas para renovações do grupo atual, o diretor de futebol do clube, André Mazzuco, destrinchou as possibilidades para o time de São Januário. A entrevista exclusiva ao LANCE! aconteceu na última sexta-feira, antes da decisão, naquele momento surpreendente, de Luxa não continuar.

- A expectativa é de melhorar, sim. O bloqueio (judicial, por penhoras) é total, afeta o clube todo. Estamos trabalhando com as perspectivas. Tem os fluxos que iniciam em janeiro, tem as contas do ano anterior, mas a gente trabalha muito mais no fluxo, quanto que a gente pode conduzir, até onde a gente pode ir. A gente não tem dinheiro para investir. Queremos, mas ainda não é. "Ah, o Vasco pode contratar jogador livre". O jogador livre se autovaloriza, vai querer luva que vale quase o que seria ele no clube. Isso é mercado, negociação. Não tem como dar nada mais do que o Vasco pode. Senão vamos angariar contas que o clube não pode pagar nunca. Quebrar o clube. E não é o que queremos. É do perfil do presidente trabalhar com seriedade. Muito fácil montar e desmontar time, mas quem vai pagar a conta depois? Não é do meu perfil e o Vasco não pode fazer. Senão daqui a pouco ninguém mais vai querer pegar o Vasco, fecha porta e acabou. Claro que afeta um pouquinho o futebol, mas o lençol é curto. Temos que trabalhar com o que podemos. Não dá para quebrar a banca - analisou.

A situação do atacante Rossi é uma das que mais preocupa o torcedor atualmente. O cenário, porém, não é de otimismo. Atualmente, o Vasco não vê a possibilidade de comprar o jogador, até por conta das limitações financeiras, e dependeria de um novo empréstimo do Shenzhen, da China, para manter o atleta para 2020.

- O Rossi é simples. Dependemos do clube chinês. Ele tem mais um ano de contrato lá. Para o clube fazer um novo empréstimo tendo só mais um ano, não vai fazer. Para nós comprarmos, não tem como, é altíssimo. Teremos que trabalhar isso. Vai também da expectativa do atleta, do que ele vai querer. O agente dele é extremamente correto, pode ajudar a buscar isso. Mas é difícil, não é simples amarrar as pontas. Sendo bem sincero, é difícil. Não é a nossa ideia, é a do Shenzhen, sobre vender ou emprestar. O Rossi está feliz aqui. Ele viveu esse ano o que nunca viveu antes. Nos entregou muita coisa boa, teve alguns momentos de puxa aqui ou ali, mas foi um período legal. É importante para o jogador, não é só o dinheiro. É uma posição carente e os atletas de bom nível estão, em maioria, fora do Brasil. É até o exemplo do centroavante, que tentamos trazer no meio do ano e não conseguimos, faltou opções - afirmou.

Veja as outras respostas de André Mazzuco, diretor executivo de futebol do Vasco:

SITUAÇÕES NO TIME


As renovações do Henríquez e do Guarín estão confirmadas? Avançadas? Quando você acredita que fecha?

Já eram conversas iniciadas. Não são situações fáceis, essa é a realidade. São jogadores que se valorizaram, não tínhamos muito como mexer nisso antes. Já manifestamos o interesse em ficar com eles, ambos têm condições boas aqui no clube. Conseguimos trabalhar com eles, mas passa para o outro lado. Cabe ao jogador aceitar e querer. Já conversamos, eles sabem da realidade do clube. Temos que trabalhar dentro da nossa coerência, não podemos oferecer mais do que podemos. Às vezes o atleta está buscando algo mais valoroso. As conversas foram sempre boas, eles estão felizes aqui. Os jogadores também querem saber sobre o treinador, se os débitos vão ser pagos. Nós entendemos. A decisão final é do atleta. Sempre vai ter concorrência, até com atletas com contrato. Mas é gestão de carreira do próprio atleta. O Boca (Henríquez) passou um semestre sem jogar e terminou como titular em um clube que todos gostam. Se ele entender que deve recomeçar, passa pela gestão de carreira dele. O Guarín a mesma coisa, ele cumpriu o trabalho bem, nós resgatamos ele. Foi destaque, importante. Ele ainda é mais de mercado, fatalmente terá concorrência. Mas são atletas que já estão no último terço de carreira e tem um espaço conquistado aqui importante. Às vezes não é só uma concorrência por valores salariais e se for isso é muito pouco. Eu falo isso para os jogadores. Se ater só a diferença é pouco, tem que pensar na carreira. Mas se ele entender que não quer ficar, é até melhor sair. O Clayton o Atlético não queria liberar, mas nós conversamos bastante e ele disse que gostaria de tentar. Foi uma opção de mercado e ele bateu o pé dizendo que queria. Ele não foi bem e se cobrou por isso, mas são decisões.

O Guarín já falou, inclusive na apresentação dele, que deseja morar nos Estados Unidos e, por isso, terminar a carreira lá seria uma opção. Isso foi conversado durante as negociações de agora?

Sabíamos disso. Foi uma opção dele não fazer um contrato longo. Mas entendemos que seria importante, como foi, na reta final. Mas nessas conversas de renovação não houve papo de Estados Unidos.

No caso do Bruno César, qual a ideia? Pelo preço, pela pouca utilização... ele faz parte dos planos? Acredita que assumirá o protagonismo em 2020?

Não posso fazer a avaliação individual pois fazemos isso internamente. O Bruno nos ajudou pontualmente. Pelo histórico dele e por tudo que já jogou, tinha a expectativa um pouco maior dele assumir uma função importante. E, por fatores que passam por ele e pela comissão, não aconteceu. Não teve a minutagem esperada. Era para ser mais protagonista e não aconteceu por vários fatores, mas tem contrato. Toda contratação é feita de forma coerente, as vezes o cara não produz. O importante é trabalhar sempre para ser mais eficiente.

Nas laterais, já sabemos que o Cáceres sai. E o Danilo Barcelos? Alguma chance do Claudio Winck ser aproveitado?

Na parte do Vasco, ainda não temos a conversa. Temos que aguardar as definições. O Winck tem contrato. Temos nosso pensamento, mas precisamos aguardar definições. As pessoas conhecem bem ele também, aparecem sondagens, mas ainda vamos analisar.

Qual o caso do Richard? Na frente, Valdívia e Marquinho estão nos planos?

Não teve definições nesse sentido porque precisamos resolver o comando técnico. É claro, todos os contratos que encerram em 2019 estão encerrados. Precisamos entender o que acontecerá na sequência. Não posso falar quais interessam, ainda será conversado. Mesmo o cara que está acabando, nós informaremos a eles. Isso vale para todos. O contrato se encerra e o jogador volta. Não significa que não iremos renovar. Faremos isso com cautela, mas também passa pelo comando técnico.

Como está a situação do Felipe Ferreira?

O Felipe tem a avaliação de ser um atleta em potencial. Ele pertence à Ferroviária e chamou a atenção. Ele quer ficar, isso é legal, e estamos avaliando. É positivo. Acho que vai valer uma tentativa de continuidade até pela boa relação que temos com o clube. Criar uma relação que possa possibilitar o empréstimo.

Quais as posições mais carentes?

No geral, vamos qualificar o elenco. Isso passa por uma avaliação geral. Vamos buscar alternativas para todas as posições. Se vamos trazer para todas, não sei. Mas a ideia é aumentar o nível do grupo. Não tenho numero fechado. Até porque nossa ideia é tentar utilizar o elenco o máximo que conseguimos no início, depois tem o Estadual, transição tem contratações.

E a situação do Marrony? O Vasco ainda vê a necessidade de vender um jogador?

Valorizar o ativo e chegar a boas oportunidades de negócio é algo para sempre estar atento. É função do Vasco ter bons atletas revelados no clube para que eles valorizem no profissional e sejam vendidos depois. É natural, mas desde que valha a pena. O Marrony sempre tem sondagem, mas tem que fazer sentido. Se vier, temos que pensar no clube. Precisamos ter mais Marronys. O Vasco tem atletas valorizados. Mas não estamos saindo com a pasta vendendo. É necessário? Sim, faz parte da renda anual do clube. Mas tem que fazer sentido.

Nicolás Blandi marcou os dois gols no duelo de ida
Blandí está sendo monitorado pelo Vasco (Foto: Gustavo Ortiz)

MERCADO

Existe algum mercado específico que o Vasco está de olho?

A observação é sempre geral, ainda mais na nossa maneira de conduzir, por não ter valores de investimentos. O Vasco tem que estar atento às oportunidades. Os mercados são observados. Tem preconceito dos clubes maiores em relação às séries inferiores. Sempre a torcida espera um peso maior, mas tem que ficar atento. O próprio Felipe Ferreira foi isso. Pode desenvolver e não é um custo muito alto. Mas olhamos a Série A, B, algumas trocas. Mercado sul-americana, europeu, alguns brasileiros que estão em baixa e querem voltar. O leque é muito grande. Passa pelo que nós queremos também.

Há alguns atletas mapeados/sondados?

Sempre fazemos o mapeamento de mercado e vários atletas são consultados, até para entender a situação. Independente do treinador, precisamos de opções. Às vezes o cara chega e diz que quer um jogador. Aí nós podemos dizer que não dá pelos motivos tais e já elimina. É muito comum. Tive uma experiência no Paraná. Conhecia o treinador que estava lá. Eles foram desenhando alguns esboços e a montagem do time ideal tinha alguns caras que eu disse que não dava. O Danilo Barcelos era a principal peça na engrenagem. Mas o salário dele para o Paraná era impossível. Aí já tira da frente.

Saiu a questão do Cano. É um excelente jogador e foi monitorado, mas é livre. Aí a pessoa comemora isso, mas o valor é muito alto. Vai valer uma negociação? Talvez, vamos ver. Os números dele são muito bons, seria legal, mas vamos ver. Hoje está no ápice e pode pedir o que quiser. Sempre fazemos consultas e às vezes vaza. Mas o que mais me preocupa é quando cria-se uma notícia e ela é debatida. E não podemos nos defender. Cano está monitorado, não houve proposta. O Pity Martínez, Ricardo Oliveira, não tem nada. O Blandí foi monitorado no meio do ano e continuamos. Está no mapeamento. É interessante. O torcedor do Vasco invade Instagram e é legal, mas não podemos misturar com expectativa. Saímos como ruins da história. O Fernando Prass é um ótimo goleiro e tem uma história no Vasco. Claro que todo clube irá pensar nele.

Treino Aberto - Vasco
Mazzuco projetou o 2020 do Vasco (Foto: Rafael Ribeiro / Vasco)

E O PRÓXIMO ANO?

Esse ano, o time deu certo com capacidade aeróbica e força na marcação. Qual é o perfil que o Vasco imagina para o time de 2020?

A integração com a base evoluiu muito esse ano, proximidade dos atletas. A base vem fazendo bom trabalho, consolidado com espaço para melhorar. Estamos aproximando mais agora, responsabilidade minha nisso para a gente fomentar. Eu vim da base. Não tem sentido em investir e não aproveitar. Talles foi grata surpresa, tem outros com bastante participação, o Pec, o Bruno Gomes. Sempre é válido quando tem jogadores bons da base ter outros que possam ajudar a evoluí-los, porque eles tem qualidade, mas estão em processo de formação. Nossa intenção é ter um time com jogadores de qualidade, que possam ajudar esses meninos. Pensamos nas características do Vasco da Gama, sempre foi um clube de jogar para frente, com artilheiros, não podemos deixar isso de lado. O Vanderlei bateu muito nessa tecla, na forma de o time se portar em campo, de ser intenso. É uma identidade do clube. e dentro da montagem tem que ser nessa linha, mesclando, buscando contratações pontuais, montar um time coeso.

Sabemos que o Vasco tem problemas políticos e financeiros. Como você vê esse cenário de dificuldades do clube e como driblar isso para contratar?

Buscar soluções, sim. A partir do momento que surge o problema, o departamento jurídico começa a agir. É desafiador, não é fácil. Não é fácil só por isso e não é só o Vasco. Vale da relação com o mercado, dos atletas entenderem o tamanho do Vasco, tem a camisa, um trunfo que temos, mas o cara tem que se sentir seguro aqui. Não é uma tarefa fácil. A gente passa por dificuldade. Nessa briga você acaba tentando buscar melhores soluções. Buscar atletas que tenham esse entendimento, parceiros do clube para colaborar. Sempre temos opções, uma não acontece, vai para outra. Mas o filtro fica mais apertado, claro.

O que o torcedor pode esperar do Vasco em 2020?

É um passo de cada vez, mas temos um objetivo ano que vem de estar na primeira parte da tabela. Entre os oito brigando e temos que trabalhar para isso. A situação financeira é ruim, mas com o tamanho do Vasco, temos condições de criar situações para isso ser melhor. Tem times que não tem a condição que o Vasco tem. A camisa do clube é importante, temos uma base de elenco. Temos que dar o passo, não podemos estabilizar. Ano passado ninguém esperava que chegaria na última rodada brigando contra o rebaixamento e aconteceu. Esse ano era até de que iria cair.

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