Morto aos 88 anos, João Gilberto é reverenciado pelo Vasco

Um dos nomes mais importantes da Música Popular Brasileira, o precursor da Bossa Nova, que morreu neste sábado, era torcedor do Cruz-Maltino

João Gilberto (Marcos Hermes / Divulgação)
Vasco deixou sua lembrança para João Gilberto (Marcos Hermes / Divulgação)

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A música brasileira perdeu um de seus grandes gênios. Um dos precursores da Bossa Nova, João Gilberto morreu em sua casa no último sábado, aos 88 anos, no Rio de Janeiro. O cantor, compositor e músico lidava nos últimos anos com uma série de problemas de saúde e já vivia recluso. 

Horas após a informação ser confirmada em uma rede social por um de seus filhos, João Marcelo Gilberto (que vive nos Estados Unidos), o saudoso artista recebeu uma reverência de seu clube de coração. João Gilberto era torcedor declarado do Vasco (paixão já revelada por Ruy Castro no livro "Chega de Saudade"). 

O cantor, que tinha entre suas excentricidades o fato de pedir comida no mesmo restaurante durante décadas, também teve sua admiração pelo Vasco evidenciada por um garçom. Em entrevista ao "G1", Sebastião Alves, o Tioãozinho, revelou que os dois falavam muito sobre o clube do qual eram torcedores.

O Cruz-Maltino, em seu perfil no Twitter, deixou uma mensagem sobre João Gilberto: 

"O dia de hoje certamente foi triste para os fãs da música brasileira. Faleceu aos 88 anos o vascaíno e pai da Bossa Nova, João Gilberto. Deixamos aqui nossos sentimentos aos familiares, amigos e fãs".

DO INÍCIO DE CARREIRA À CRIAÇÃO DA BOSSA NOVA

Nascido em Juazeiro (BA) em 10 de junho de 1931, João Gilberto Prado Pereira de Oliveira chegou a morar em Aracaju, mas, aos 16 anos (dois anos depois de ganhar o primeiro violão do pai), mudou-se para o Rio de Janeiro e foi convidado para fazer parte do grupo Garotos da Lua.  Influenciado por Orlado Silva, teve sua história marcada por temperamento forte e um extremo perfeccionismo.

Após deixar o grupo, lançou singles sem grande sucesso e morou em várias cidades. Porém, depois de um período dedicado a estudos de harmonia e música (em especial no período em que ficou em Diamantina, cidade do interior de Minas Gerais), descobriu que se mantivesse a batida e cantasse mais baixo, poderia adiantar ou atrasar o canto. Sua descoberta chamou a atenção de pessoas como Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Neste período, João tinha chamado atenção como músico, ao participar das faixas "Chega de Saudade" e "Outra Vez" no LP "Canção do Amor Demais", de Elizeth Cardoso.

Já Tom Jobim viu neste novo canto uma forma de modernizar o samba e apresentou a João Gilberto uma parceria dele com Vinícius de Moraes, intitulada "Chega de Saudade".  A gravação da música, feita em 10 de julho de 1958, foi um divisor de águas na criação da Bossa Nova (a canção foi lançada em um 78 rpm, tendo no outro lado a faixa "Bim Bom"). No ano seguinte, o LP com a faixa-título e que incluiria músicas como "Desafinado", "Bim Bom", "Lobo Bobo", "Rosa Morena" e "Aos Pés da Cruz" consagraram João como cantor e se tornaram referência para cantores como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Roberto Carlos.

Em 1960, João Gilberto lançaria um novo disco também visto como fundamental da Bossa Nova: "O Amor, o Sorriso e a Flor". As faixas traziam "Samba de Uma Nota Só", "Doralice", "O Pato", "Corcovado" e a versão "Trevo de Quatro Folhas". Sua trilogia fundamental seria encerrada com o LP "João Gilberto", de 1961, no qual interpretou "Samba da Minha Terra", "Só Em Seus Braços", "Esse Seu Olhar" e "Insensatez", entre outras.


A BOSSA NOVA NO EXTERIOR E AS GRANDES LEMBRANÇAS

O impacto com a Bossa Nova fez João Gilberto ganhar projeção no exterior. O cantor foi um dos brasileiros que representaria o movimento no célebre show no Carnegie Hall. Além disto, ele fez o disco "Getz/Gilberto", ao lado do saxofonista Stan Getz, que lhe rendeu 2 milhões de cópias vendidas e quatro Grammys. Vivendo no exterior, ainda lançou "Getz/Gilberto nº 2" e fez espetáculos em Nova York e Los Angeles.

Alternando entre shows no Brasil e no exterior, ainda brindou o público fazendo espetáculo memoráveis, como o especial "João Gilberto Prado Pereira de Oliveira", exibido pela Rede Globo, no qual teve a participação da filha Bebel Gilberto e da cantora Rita Lee, e lançou o LP "Live at the 19th Montreux Festival". Em sua trajetória ainda interpretou músicas como  "Águas de Março", "Sampa", "Ave Maria no Morro", "Me Chama", "Wave" e "Bolinha de Papel". Entre seus discos simbólicos estão "Amoroso", "Brasil", "João" e "João, Voz e Violão".

Durante seus shows, o perfeccionismo ainda chamava atenção. Além de pedir silêncio à plateia com um "psiu", costumava queixar-se do som e do efeito que o ar condicionado fazia no violão. Sua última aparição no palco ocorreu em 2008.

FIM DE VIDA COM CANCELAMENTO DE SHOWS E DÍVIDAS

Porém, os últimos anos de João Gilberto foram marcados por momentos conturbados. Segundo informações do "Estado de São Paulo" na época, os filhos Bebel Gilberto e João Marcelo travavam briga na Justiça contra Claudia Faissol, mãe da filha mais nova do cantor, Luiza Carolina. Além disto, um imbróglio financeiro por conta do cancelamento de uma turnê em 2011 e um empréstimo com o Banco Opportunity fizeram com que João Gilberto chegasse a ter dívidas estimadas em R$ 9 milhões.

Recluso, o cantor chegou a ter um pedido de interdição solicitado por Bebel Gilberto em 2017, alegando que o pai passava por "penúria financeira" (o que causou um imbróglio dela com João Marcelo). Além de se ver como pivô da briga entre seus filhos, o cantor lidava com emagrecimento e problemas de saúde. Até, no último sábado, já no período em que namorava a moçambicana Maria do Céu Harris, João Gilberto partir, deixando um rastro do seu grande legado para a música brasileira. 

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